Em mais uma iniciativa de articulação para o ensino, a Fiocruz compartilha sua capacidade e recursos com parceiros internacionais. A partir de 22 de março, 40 alunos do mestrado em Saúde Pública, da Faculdade de Ciências Sociais, da Universidade Lúrio (Unilúrio), em Moçambique, África passarão a cursar a disciplina Metodologia da Pesquisa Científica – já oferecida de forma transversal para diferentes cursos da Fundação. As aulas serão ministradas por docentes do Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz Pernambuco), sob a liderança da Coordenadora-geral adjunta de Educação da Fiocruz, Eduarda Cesse. Outras duas disciplinas já estão previstas para serem ofertadas ao mesmo grupo de alunos ao longo de 2021.
Esta é a primeira vez que a Fiocruz oferece uma disciplina transversal para uma universidade do exterior. A oferta se dará em formato híbrido, nos moldes das iniciativas transversais já oferecidas aos alunos dos programas de pós-graduação da Fiocruz, lançando mão de conteúdo autoinstrucional e momentos síncronos, com os docentes, de maneira remota, por meio da Plataforma Zoom.
Eduarda Cesse contou que a turma iniciou suas atividades acadêmicas em 2020, mas, surpreendidos pela pandemia de Covid-19, não puderam avançar com os encontros presenciais. “Tendo isso, a Universidade nos solicitou apoio, usando nossa expertise para transpor dificuldades por ela enfrentadas no que se refere à adaptação e uso de metodologias de ensino remoto”, disse ela.
Outras disciplinas já estão em desenvolvimento para oferta específica neste curso ao longo de 2021: Princípios de Epidemiologia e Demografia, apresentada por docentes da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), e Autocuidado relacionado com a fertilidade, reprodução e saúde ginecológica, por docentes do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), que serão oferecidas remotamente. Esses docentes contribuirão ainda com aulas na disciplina ”Nutrição na gravidez e na infância”, que será conduzida pela Unilúrio.
Ambientação e acesso às novas ferramentas
Para auxiliar os 40 alunos e coordenadores da turma africana no processo de apresentação, ambientação e uso das novas ferramentas e Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), a equipe técnica do Campus Virtual Fiocruz ofereceu dois treinamentos aos participantes das disciplinas, nos quais foram apresentadas as plataformas de interação e depósito de materiais, a forma de utilização das mesmas, entre outras ferramentas importantes para o pleno aproveitamento da disciplina.
Adequações ao projeto principal
A parceria com a Unilúrio se deu a partir do Projeto Rede de pesquisa e formação em saúde: cooperação sul-sul entre a Fiocruz e Instituições Moçambicanas, aprovado no Edital Coopbrass Capes n. 05/2019, sob a coordenação da vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Cristiani Vieira Machado. Segundo Eduarda, originalmente, ele trata de questões de mobilidade de estudantes e docentes, que ficaram para um segundo momento por conta da pandemia. “Com o advento da crise sanitária, incorporamos as disciplinas transversais, que não faziam parte do escopo do projeto, mas são necessárias neste momento que o mundo está vivendo”, descreveu Eduarda.
Além de Unilúrio, a articulação com a Fiocruz nesse projeto engloba também o Instituto Nacional de Saúde (INS), de Moçambique. A cooperação sul-sul estruturante, diretriz da ação internacional da Fiocruz proposta no projeto, busca romper com o modelo tradicional e unidirecional de transferência de conhecimento e tecnologia, procurando priorizar o aproveitamento da capacidade e recursos dos países parceiros.
Esse projeto é voltado ao desenvolvimento de pesquisas e formação de gestores, pesquisadores e estudantes em duas áreas estratégicas: doenças infecciosas, negligenciadas e emergências sanitárias; e fortalecimento dos sistemas de saúde. Acredita-se que ele permitirá avanços na formação de recursos humanos e contribuirá para a consolidação de redes de pesquisa já existentes e formação de pessoal qualificado na região.
As disciplinas transversais na Fiocruz
São critérios orientadores para a oferta de disciplinas transversais a escolha de temas que sejam de relevância e interesse para um número expressivo de alunos de programas de pós-graduação stricto e lato sensu da Fiocruz; a existência de professores com alta expertise no tema para a formulação e coordenação-geral da disciplina; a produção em formatos híbridos: possibilidade de articular conteúdos EAD com atividades de interação (momentos presenciais, oficinas, seminários, fórum de debates, tutoria descentralizada); e elaboração de avaliação final.
As discussões sobre disciplinas transversais na Fiocruz tiveram início em 2015. Em 2016, de maneira inédita, aconteceu a oferta da disciplina Bioinformática Integrada, a primeira elaborada de forma compartilhada por diferentes programas de pós-graduação da Fiocruz. Em 2017, o tema passou a ser discutido de forma sistematizada pela Câmara Técnica de Educação. Em 2018, teve início a disciplina Introdução à Divulgação Científica, cursada por alunos de 11 diferentes programas de pós-graduação. E, em 2019, foi a vez de Metodologia Científica. Essas duas ofertas inauguraram o fluxo de inserção das Disciplinas Transversais na Fiocruz. Em 2020, foi desenvolvida a disciplina Biossegurança e estão em elaboração em formato transversal: Ciência Aberta; Ética e Integridade em Pesquisa; História da Saúde Pública no Brasil; e Sistema de Saúde no Brasil: História e Desafios do Presente.