Vice-presidente de Educação fala sobre produção científica no Brasil

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Publicação : 11 DE MARçO DE 2022

Autor(es) : Isabela Schincariol Domingues

Vice-presidente de Educação fala sobre produção científica no Brasil No Brasil, aproximadamente metade da produção científica já é liderada por mulheres.

Por Daiane Batista

Uma proporção bem elevada da produção científica nacional, hoje, tem autoras ou coautoras mulheres. Mas, quando olhamos, por exemplo, no CNPq, as bolsas de produtividade – dadas para cientistas de destaque – a desigualdade na distribuição ainda é grande, porque reflete um processo histórico e a proporção de mulheres que recebem é menor. A observação é da vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Cristiani Vieira Machado. Em entrevista para o blog do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz Antônio Ivo de Carvalho (CEE-Fiocruz), e em consonância com as comemorações do Dia Internacional da Mulher, em 8 de março, e do Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência, instituído em 2015 pela Assembleia das Nações Unidas e comemorado em 11 de fevereiro, Cristiani Vieira Machado, a vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz e pesquisadora e professora do Departamento de Administração e Planejamento em Saúde da Eswcola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), faz uma reflexão sobre a importância e o impacto da produção científica feminina, pensando o futuro da ciência, as novas formas de conhecimento e o desenvolvimento a serviço da vida, a partir da equidade de gênero.

Conforme observa Cristiani Machado, as mulheres têm uma contribuição muito relevante a dar no campo científico, assim como nas diversas áreas da vida social, mas “vivemos num país em que a desigualdade de gênero ainda é marcante”. Segundo a professora, embora as mulheres representem metade da população mundial, “apenas um terço das cientistas são mulheres”, consequência direta de “desequilíbrios que são históricos”.

Ao mesmo tempo, ela avalia também que o cenário vem se transformando. “Tem aumentado a proporção de mulheres que avançam na escolaridade, que fazem educação superior e chegam até a uma pós-graduação. As mulheres estão escolhendo mais as profissões científicas, embora haja desigualdade entre os campos de conhecimento”, aponta.

Cristiani Machado propõe discutir e enfrentar essas questões, para incentivar que as meninas conheçam, desde criança, diversas possibilidades profissionais, e romper com estereótipos que prejudicam suas escolhas.“A dimensão histórico-estrutural dos papeis de gênero na sociedade continua  decisiva. Até algumas décadas atrás, não era reservado às mulheres fazer curso superior. A expectativa era que casassem, cuidassem da casa, da família, das crianças e dos idosos, enquanto os homens iam trabalhar fora e sustentar a casa. Uma visão estrutural da mulher num lugar restrito”, lembra a professora apontando as desigualdades imbricadas no processo de mudança desse cenário. “Isso começou a mudar primeiro para as mulheres de classes médias, que passaram a ter a possibilidade de estudar, fazer um curso superior etc. Apesar de, às vezes, ser à custa de outras mulheres que ficaram cuidando dos seus filhos”, analisa.

Para a professora, enfrentar e ampliar as discussões sobre as desigualdades estruturais e implementar políticas que promovam a equidade de gênero é um desafio da sociedade. “As políticas públicas são cruciais para promover a equidade. Precisamos de políticas mais amplas de curto, médio e longo prazo para redução desse quadro de desigualdade, abarcando as várias dimensões, de regulação do mercado de trabalho, de promoção do emprego qualificado e da garantia de direitos trabalhistas, para transformar esse mercado, onde as mulheres ocupam grande proporção dos postos informais e de baixa qualificação”, avalia.

Para Cristiani, a Saúde é um campo que pode contribuir muito para isso, pois gera empregos qualificados e bem-estar.

Em relação à igualdade de gênero como pilar fundamental para o acesso equitativo à ciência, à pesquisa e à educação, Cristiani Machado destaca o papel da Fiocruz na criação de programas de incentivo como o Mulheres e Meninas na Ciência, que integra o calendário de atividades comemorativas da instituição desde 2019. “Já tínhamos ações e iniciativas variadas antes. Também, elegemos, em 120 anos de história, a primeira mulher presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, que assumiu em 2017 e foi reeleita”.

Como destaca a professora, a presidente Nísia tomou, desde o inicio de sua gestão, a equidade de gênero como prioridade e foi decisiva na priorização do projeto Mulheres e Meninas na Ciência.“O programa tem quatro eixos: valorização da trajetória das mulheres cientistas, com a produção de vídeos com relatos de experiência das cientistas nos variados campos; o Meninas na ciência, incentivo para jovens meninas conhecerem a atividade e a produção científica, porque acreditamos que toda menina pode ser o que ela quiser – embora, nem sempre, as condições estejam dadas; incentivo ao estudo sobre gênero e saúde; e discussão sobre desigualdades de gênero na ciência e na saúde, numa perspectiva ampla, da interseccionalidade, e que chame atenção para a importância de se articularem as políticas para equidade de gênero a outras políticas pró-equidade”, aponta. ”E que nossas políticas institucionais estejam, também, articuladas a uma pauta mais abrangente da política pública”, pontua.

Para concluir, Cristiani destaca o impacto científico da produção feminina nacional e propõe muita ação coordenada para superar as desigualdades da sociedade brasileira. “No Brasil, aproximadamente, metade da produção científica já é liderada por mulheres. Em décadas anteriores elas ficaram em segundo plano, mas atualmente temos mulheres liderando grupos de pesquisa muito importantes e liderando a produção científica de artigos e livros. Em alguns campos do conhecimento, isso é mais forte, em outros, está mudando gradualmente, por força da desigualdade na quantidade de cientistas homens e cientistas mulheres”.

Fonte e imagem: CEE-Fiocruz

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