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Publicado em 27/09/2021

É tempo de esperançar! Encontro celebra centenário de Paulo Freire

Autor(a): 
Isabela Schincariol

Diálogo, participação e questionamento estão nas bases da filosofia de Paulo Freire para a educação, transformação, conscientização e emancipação do indivíduo. Essas foram também as bases da Primavera Paulo Freire, encontro realizado pela Vice-presidência de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz para celebrar seu centenário. Durante três dias, o evento promoveu apresentações e reuniu figuras históricas em trocas e debates regados à arte e cultura. Confira as apresentações, que foram transmitidas pelo canal da VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz no Youtube.

Música e esperança abrindo a Primavera

A Orquestra de Câmara do Palácio Itaboraí – um projeto do Fórum Itaboraí - Política, Ciência e Cultura na Saúde (Fiocruz Petrópolis) https://forumitaborai.fiocruz.br/ocpit  – deu início ao encontro Primavera Paulo Freire, que celebrou o centenário do patrono da educação brasileira, com a interpretação de “Mourão”, de César Guerra – Peixe (1814 – 1993).

“Vê, estão voltando as flores... Vê, há esperança ainda. Vê, as nuvens vão passando. Vê, um novo céu se abrindo. Vê, o sol iluminando. Por onde nós vamos indo...”. Também com música, a coordenadora-geral de Educação da Fiocruz, Cristina Guilam, trouxe “Estão voltando as flores”, de Paulo Soledade, para as saudações iniciais do encontro. Ela contou que o Ipê, considerado a árvore-símbolo brasileira, floresce tradicionalmente no período de seca, quando “está mais estressado e recebendo menos água”. Fazendo, assim, uma analogia da biologia com a potência e força que temos de recomeçar.  “A chegada dessa estação é, para mim, também um marco de regeneração e reflorescimento. Por isso quis dividir com vocês essa canção que me acompanha desde a infância, na linda interpretação de Renato Braz com a orquestra Brasil Jazz Sinfônica.

“Estamos vivendo tempos difíceis e precisando muito dessa primavera e, mais do que nunca, precisamos de Paulo Freire”, assegurou a vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Cristiani Vieira Machado. Ela falou sobre a grande influência da educação popular de Freire no Brasil e no mundo, mas destacou a necessidade de seus ensinamentos na pós-graduação. “Todo mundo tem algo a aprender e todo mundo tem algo a ensinar. Essa lógica que parece tão óbvia e, ao mesmo tempo, é tão revolucionária, é a compreensão que falta nas instituições de pesquisa e cursos de pós-graduação. Vemos a reprodução de relações de desigualdades em todos os níveis de injustiças, inclusive nos espaços acadêmicos e de formação".

Cristiani enfatizou ainda a recente aprovação da regulamentação atualizada das ações afirmativas na Fiocruz, apontando a urgência em transformar a pós-graduação de forma substantiva, dando acesso às pessoas, e tornando-a mais diversa para levar a fundo a ideia de radicalização do direito à educação, à cultura, assim como o exercício pleno do direito à cidadania, sobretudo, para transformar esses espaços que ainda são muito conservadores. “Precisamos trabalhar as ideias de Freire nos espaços acadêmicos da Fiocruz, tendo a educação como um ato de amor, um ato de coragem. Precisamos de Paulo Freire!”, conclamou a vice-presidente.

Anita Freire, que, em vídeo, participou do encontro, falou sobre a honra e emoção de ter a Fiocruz homenageando o centenário de Paulo Freire. “Vamos esperançar nessa primavera de ideias, de coisas boas e recados imprescindíveis que Paulo nos deixou. Viva Paulo Freire! Viva a Fiocruz!”.

Caminhadas educativas e libertadoras

O painel “Obra, pensamento e vida de Paulo Freire” reuniu Marcos Arruda, do Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (Pacs) e Carlos Rodrigues Brandão, do Instituto Paulo Freire. A pesquisadora da Ensp/Fiocruz e uma das organizadoras do evento Katia Reis foi a mediadora da mesa e fez uma convocação-convite a todos os participantes para que permitam que floresça em nossos corações o pensamento de Paulo Freire menino.

Marcos Arruda, que é geólogo, poeta e economista, tornou-se educador popular, especialmente a partir dos quatro anos em que conviveu com Paulo Freire no Instituto de Ação Cultural (Idac), em Genebra. Arruda destacou sua intensa formação com o caminhar e a prática de Freire e ressaltou que o período parece muito maior, pois tudo que aprendeu nessa convivência vem sendo reproduzido em sua vida pessoal e profissional. “Eu tive a honra de ter participado de uma pequena parte de sua vida. No entanto, minha contribuição é modesta e faz parte de um recorte que integra um grande mosaico, que é o movimento de educação para a libertação, que é a vida e a contribuição do Paulo. Não dele sozinho, mas combinado com todos aqueles e aquelas que compartilharam com Freire e com as práticas de uma educação libertadora, além de contribuírem com ele para teorizá-las”.

Arruda contou sobre a sua trajetória, projetos, lugares por onde passou e aprendeu, e também sobre as experiências de educação popular marcadas pelo pensamento e prática de Freire, como assessorias que prestou a movimentos sociais e populares, pastorais de igrejas e inúmeras associações, instituições e governos com o compromisso democrático. Dentre elas, destacou a vivência junto a oposição sindical metalúrgica de Ipatinga, Minas Gerais, na qual buscava colaborar com o empoderamento de jovens sindicalistas. “Era uma grande troca de saberes na qual eles aprendiam comigo e eu com eles e elas. O interessante é você educar no diálogo, na pergunta, na busca de o educando descobrir a sua caminhada e assumir a responsabilidade sobre ela”.

Ele encerrou sua apresentação questionando sobre a facilidade com que todos estão usando a palavra “esperançar”. “Quando falamos isso temos que perguntar imediatamente: esperança em quê? É fundamental termos a resposta. Paulo nos trouxe uma que é revolucionária. Ele defendia o esperar no sentido de acreditar que nós, cada uma e cada um, somos capazes de sair da posição de objeto para nos tornar sujeitos do nosso próprio ver, viver e agir nessa existência. Essa visão implica em darmos um grande salto da condição de oprimido – não para opressor, o que pode acontecer e é um grande risco – para a condição de emancipado. Uma observação imediata sobre isso é que não há emancipação no campo da consciência e do bom senso que não a da teoria com a prática para a ação transformadora, crítica e criativa. É isso que está embutido na metodologia do Paulo”, descreveu Arruda.

A pedagogia do oprimido e a revolução do sujeito

O professor Carlos Rodrigues Brandão também trouxe uma poesia para iniciar a sua apresentação, segundo ele, estimulado pela emocionante abertura do encontro. “A beleza da copa do Ipê” escrito e publicado por ele no livro “Um ipê amarelo e uma paineira branca”, uma compilação de prosas “já tão poéticas” dos textos de Rubem Alves. Brandão mostrou também a biografia de Paulo Freire que escreveu especialmente para as crianças “Sem Terrinha”, meninos e meninas das escolas de lona dos assentamentos do MST: “História do menino que lia o mundo”, que ganhou até uma edição na Colômbia. Ele falou sobre outras obras que publicou ao longo da vida, mas destacou que agora todas estão disponíveis “na nuvem” para quem quiser ter acesso no site: https://apartilhadavida.com.br/.

Carlos Brandão contou histórias e rememorou fatos, como a organização do Movimento da Educação de Base (MEB), do qual ele fazia parte, e deu destaque a criatividade de seus participantes para driblar a repressão e avançar com a alfabetização pelo Brasil subdesenvolvido, incluindo a publicação de livros e cartilhas, como “Viver é lutar”. Acesse aqui outras obras publicadas no âmbito do MEB. Brandão ressaltou o impacto e abrangência das obras de Freire e a educação popular, como “A pedagogia do oprimido”, que está absolutamente vivo, sendo relido e republicado. “Além de ser o livro mais lido no mundo inteiro na área da educação, é o terceiro livro mais lido no mundo na área das humanas em geral. Não sei se há no mundo registro igual”. Brandão leu ainda a carta que Freire escreveu quando mandou os manuscritos de “Pedagogia do oprimido” ao Brasil, que o próprio avaliava como “um livro que pode até não prestar”.  

Brandão terminou sua fala descrevendo que existem pedagogias que educam para você ser quem é. Outras que trabalham para que você passe da essência de quem é para a existência de quem pode ser. Mas, de acordo com ele, existe ainda uma pedagogia do oprimido, que defende que não basta que você se transforme individualmente em alguém melhor, mais esclarecido e instruído. “O lugar de aferição, de seu crescimento interior, da sua tomada de consciência, não é você mesmo. É você em seus outros, ao lado, ao redor, junto com eles enquanto sujeitos comprometidos com a transformação do mundo em que vivem. Essa é a revolução”.

“A lição sabemos de cor. Só nos resta aprender...”

A mesa de abertura contou ainda com duas apresentações de trabalhos culturais, que foram submetidos e aprovados pela comissão avaliadora do evento. A previsão é que, futuramente, todos os trabalhos enviados e aprovados para o evento sejam publicados em um e-book. 

A mestre em design da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), Ana Claudia Sodré, trouxe para a “Primavera” o cordel "Zefa Quebra Coco e sua filha Moça – a dança que fortalece", iniciativa que se desenvolveu a partir da necessidade de comunicação mais eficaz com as trabalhadoras quebradeiras de coco babaçu do estado do Maranhão, buscando transmitir informações essenciais para a promoção da saúde e para a prevenção dos agravos causados pelo trabalho caracteristicamente árduo e repetitivo realizado por essa classe de trabalhadoras.

A leitura de “Carta a Paulo Freire”, foi realizada por Nilcéia Figueiredo e André Luis Oliveira Mendonça e terminou com a canção de esperança por tempos melhores “Sol de primavera”, de Beto Guedes e Ronaldo Bastos, que diz "Quero ver crescer nossa voz no que falta sonhar... Já choramos muito. Muitos se perderam no caminho. Mesmo assim, não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer sol de primavera. Abre as janelas do meu peito. A lição sabemos de cor. Só nos resta aprender”.
 

Assista a programação completa da Primavera Paulo Freire: 

Quarta-feira - 22 de setembro - tarde:

Peça teatral "Paulo Freire, o Andarilho da Utopia" e Roda de conversa

Vídeo na íntegra: https://www.youtube.com/watch?v=HNgA93Nbjwg

Quinta-feira - 23 de setembro - manhã: 

Coral do Instituto Aggeu Magalhães (IAM/Fiocruz Pernambuco); Poesia; Ciranda de apresentação de trabalhos e debate 

Vídeo na íntegra: https://www.youtube.com/watch?v=3iBQU7d1MK4

Quinta-feira - 23 de setembro - tarde

Trio Musical; Leitura: Pedagogia do Oprimido: Sonhando uma nova forma – de livro à narrativa poética performática; Ciranda de apresentação de trabalhos e debate

Vídeo na íntegra: https://www.youtube.com/watch?v=gkmElpaSd9I

Sexta-feira - 24 de setembro

Coral Fiocruz; Leitura de Carta a Paulo Freire “Cartografia”; apresentação de mesas; Rodas de conversa temática com debate (Educação Popular em Saúde e as ideias de Victor Valla – Marize Bastos; Ensino em saúde na perspectiva freiriana – Helena Davi; Formação, trabalho e movimento sindical – a experiência do fórum intersindical - Luiz Carlos Fadel); e Sarau COC/Museu da Vida. 

Vídeo na íntegra: https://www.youtube.com/watch?v=T5Q7lJTUBPA

Publicado em 24/09/2021

Alunas da Fiocruz são contempladas em Prêmio Capes de Teses 2021

Autor(a): 
Isabela Schincariol*

Por mais um ano consecutivo, estudantes da Fundação Oswaldo Cruz são contempladas no Prêmio Capes de Tese. A 16° edição selecionou 49 trabalhos e indicou outros 92 a menções honrosas, 3 deles são da Fiocruz. Os trabalhos agraciados foram desenvolvidos nas áreas de avaliação: medicina e saúde coletiva; e abordaram a temática da saúde da criança e da mulher, da saúde e saneamento, e das doenças infecciosas. Confira mais detalhes sobre as teses das alunas Fernanda de Oliveira Demitto Tamogami, Roberta Falcão Tanabe e Anelise Andrade de Souza.

O Prêmio reconhece os melhores trabalhos de conclusão de doutorado defendidos em programas de pós-graduação brasileiros de acordo com critérios de originalidade, relevância para o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural, social e de inovação, assim como o valor agregado pelo sistema educacional ao candidato.

Análise da interação entre saneamento e um programa brasileiro de transferência condicionada de renda na mortalidade e morbidade por diarreia e desnutrição em crianças menores de cinco anos de idade - Anelise Andrade de Souza

O trabalho de Anelise Andrade de Souza foi desenvolvido no Pós-graduação em Saúde Coletiva, organizado pelo grupo de pesquisa Políticas Públicas e Direitos Humanos em Saúde e Saneamento (PPDH), ligado ao Instituto René Rachou (IRR/Fiocruz Minas), sob a orientação de Léo Heller e coorientado por Rômulo Paes de Sousa e Sueli Mingoti.

O objetivo do estudo foi avaliar concomitantemente o acesso da população a condições adequadas de saneamento e ao Programa Bolsa Família, e o efeito dessa interação na morbidade e mortalidade por desnutrição e diarreia em menores de cinco anos de idade.

Segundo a pesquisa, em um país desigual como o Brasil, ainda prevalecem deficiências nos serviços de saneamento, saúde e educação, além de grande parte das famílias brasileiras não terem acesso a uma renda mínima, principalmente aquelas residentes em áreas periurbanas e rurais. Com isso, a vulnerabilidade econômica e social de grande parte da população torna-as mais propensas a manter ciclos de doença e pobreza. Assim, políticas públicas, como intervenções em saneamento e em programas de transferência condicionada de renda potencialmente alteram de forma positiva os principais determinantes sociais da saúde.

O estudo ecológico misto, com municípios como unidade de análise, utilizou dados em painel resultantes da compilação de bases referentes aos anos de 2006 a 2016. Dos 5.560 municípios brasileiros no ano de 2006, foram selecionados para participar, compondo os agregados de análise de dados, todos aqueles que apresentavam, ao mesmo tempo, adequabilidade dos dados de estatística vital; dados anuais de internação e óbito por desnutrição e diarreia para menores de cinco anos de idade; dados de cobertura da população alvo e total municipal pelo Programa Bolsa Família; e dados de cobertura por serviços de saneamento para os anos de 2000 e 2010.

Os resultados indicaram modificação do efeito, com diminuição das taxas de morbidade e mortalidade, quando presentes simultaneamente o acesso da população municipal a serviços de saneamento adequados e alta cobertura da população pelo Programa Bolsa Família. Dessa forma, a pesquisa de Anelise defende que maiores investimentos em saneamento em prol da universalização dos serviços, principalmente onde existem coberturas maiores da população total e alvo pelo Programa Bolsa Família, pode potencializar seus impactos, devendo essas medidas serem prioridades, com vistas a prevenir adoecimento e mortes em menores de cinco anos pelas doenças relacionadas à pobreza indicadas.

Corpos híbridos - a tecnologia incorporada na vida: explorando as relações de cuidado de crianças com condições crônicas complexas em Terapia Intensiva - Roberta Falcão Tanabe

O trabalho de Roberta Falcão Tanabe foi desenvolvido no doutorado acadêmico em Saúde da Criança e da Mulher, do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), sob a orientação de Martha Cristina Nunes Moreira. O objetivo da pesquisa foi compreender o cuidado de crianças que ficam longamente internadas nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI), explorando as relações das pessoas com as máquinas [presentes na UTI], que se compõem tanto pelos equipamentos médicos que sustentam as vidas como aqueles que apoiam as relações entre as pessoas, como smartphones e tablets. De acordo com a autora, uma das contribuições dadas pelo trabalho é a elaboração de um percurso inovador na forma de conceber e realizar a pesquisa no campo da Saúde Coletiva.

Roberta contou que usou textos literários de sua autoria, inspirados na experiência pessoal de cuidado de crianças na UTI, para a construção de um diálogo que conectasse a racionalidade à sensibilidade. As crônicas apresentam o universo da doença e da UTI a partir de diferentes perspectivas: o olhar da criança, do profissional de saúde e dos familiares. “Os textos literários foram costurados em uma associação temática com a teoria da tese em um exercício de tentar aproximar os leitores da experiência humana ligada a uma realidade dura apresentada a partir de uma proposta lírica. Como o estudo teve como matéria-prima a narrativa do cuidado situada a partir de diferentes perspectivas e lugares na cena clínica, seus resultados alcançam potência reflexiva ao permitirem vocalizar a produção de sentidos de crianças, familiares e profissionais em suas relações com as máquinas e com os demais humanos na UTI”.

A pesquisadora apontou que outra contribuição da tese foi considerar a análise dos distintos tipos de máquinas presentes na UTI na construção da complexidade do cuidado no contexto contemporâneo. Há, além da sofisticação dos equipamentos médicos, a conectividade proporcionada por smartphones que eliminam fronteiras físicas, ligando pessoas e ambientes dentro e fora do hospital”, disse ela.   

Sobre ser contemplada no Prêmio Capes, a aluna salientou que o reconhecimento por um trabalho é sempre uma grande alegria, sobretudo quando ele foi resultado de um aprendizado muito desafiador. No entanto, segundo Roberta, “nenhuma conquista pode ser justamente celebrada sem que a generosidade dos múltiplos apoios recebidos ao longo do caminho possa ser apontada. Portanto, quero destacar a parceria competente e sensível da minha orientadora, que acreditou numa proposta autoral ousada incorporando meus textos literários como instrumento criativo na produção do conhecimento científico. Além disso, gostaria de sublinhar o papel fundamental de Martha, ao lado de todos os professores da pós, no despertamento do interesse e do encanto pela abordagem qualitativa, até então uma absoluta novidade para minha trajetória como pesquisadora”, disse ela agradecida.

Roberta contou ainda que, paralelamente à tese, foi construído o livro “Mosaico: vidas em reinvenção”, publicado em 2019 pela Editora Texto Território. Para ela, nessa versão literária do universo em estudo, “a dimensão humana do cuidado de crianças que têm suas vidas atravessadas por condições crônicas e graves de saúde é apresentada numa perspectiva ficcional, vocalizando de forma caleidoscópica os diferentes olhares desta experiência complexa. Sua divisão interna, contemplando a perspectiva da criança, dos familiares e dos profissionais de saúde, pareceu ser um caminho interessante para apresentar os resultados da tese. Nesse sentido, houve um entrelaçamento coerente e natural entre as duas produções textuais na composição de um corpo híbrido. Essa referência retorna ao título da tese para recuperar o colapso das fronteiras entre humanos e não humanos, e também dos limites da produção de conhecimento científico pelo imbricamento da narrativa acadêmica e literária”.

Efetividade dos tratamentos antituberculose e antirretrovirais em combinação - Fernanda de Oliveira Demitto Tamogami

O trabalho de Fernanda de Oliveira Demitto Tamogami, foi desenvolvido no Programa de Pós-graduação em Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas, ligado ao Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), e orientado por Valeria Cavalcanti Rolla, chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Micobacterioses (LAPCLINTB/INI), e Bruno de Bezerril Andrade, pesquisador do Instituto Gonçalo Moniz (IGM/Fiocruz Bahia).

O estudo teve como objetivo analisar a efetividade dos regimes terapêuticos utilizados, examinar as relações entre anemia e desfechos desfavoráveis (morte e falha de tratamento), além de avaliar a sobrevida em pacientes com coinfecção tuberculose-HIV durante terapia antituberculose.

A pesquisa avaliou os fatores de risco para desfechos desfavoráveis no tratamento de tuberculose em pacientes que já estavam em terapia antirretroviral (Tarv) e outros pacientes que ainda não tinham recebido Tarv. “Usamos uma abordagem inovadora. Bruno Andrade é um estudioso dos processos inflamatórios e calculou uma forma de relacionar os resultados de exames de baixa complexidade e que são feitos na rotina do acompanhamento dos pacientes, como hemograma e bioquímica, com a inflamação provocada pela tuberculose. Tudo indica que existe e já temos alguns artigos sobre o tema”, explicou Valeria sobre o trabalho.

A pesquisa concluiu que os fatores de risco para mortalidade e falha do antirretroviral (ARV) foram diferentes entre virgens de ARV (VT) e previamente expostos a ARV (PE), sendo o último grupo alvo para ensaios com drogas compatíveis com rifampicina para melhorar os desfechos de tratamentos desfavoráveis. E também apontou que a anemia persistente em pessoas que vivem com HIV/Aids (PVHA) durante o curso de terapia anti-tuberculose (ATT) está intimamente relacionada com perturbação inflamatória (DIP) crônica.

*com informações da Capes e do INI/Fiocruz

Publicado em 24/09/2021

Sextas de Poesia brinda a primavera com 'Bela flor'

Autor(a): 
Ana Furniel

O Sextas de Poesia desta semana brinda a chegada da primavera com "Bela Flor", de Maria Gadú, celebrando o florescer e a esperança do renascimento em cores de vida, força da natureza e tecendo manhãs.

Publicado em 23/09/2021

Fiocruz inaugura Fórum de Ciência Aberta

Autor(a): 
Valentina Leite (Vpeic/Fiocruz)

O primeiro Fórum de Ciência Aberta da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) foi realizado na última quinta-feira, dia 16, e contou com a participação de diversos representantes de unidades e pesquisadores da instituição. Uma ciência mais colaborativa e transparente é o que preza a ciência aberta, área que, com a inauguração do Fórum, dá mais um importante passo em direção à institucionalização na Fiocruz.

De maneira totalmente on-line, o objetivo do primeiro encontro foi realizar um balanço das ações de acesso aberto, recursos educacionais abertos e gestão, compartilhamento e abertura de dados para pesquisa. Foram apresentados projetos da instituição na área, como o Campus Virtual Fiocruz, o Educare e o repositório Arca. Também foi feito um levantamento de possíveis desafios para compor o planejamento estratégico da área nos próximos anos, além de contribuições para o Congresso Interno da Fiocruz.

O Fórum está sob a coordenação da Vice-presidência de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz (Vpeic/Fiocruz), através da Coordenação de Informação e Comunicação (Cinco), e a coordenação adjunta do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz).

“Trata-se de uma nova instância de governança das estratégias e políticas de ciência aberta da instituição. É o amadurecimento de um longo processo, que se desdobrou em muitas iniciativas e políticas estratégicas. Abarca diversas áreas: mais ligadas diretamente às políticas que já estão institucionalizadas e outras referentes à ciência da informação, à educação e à pesquisa”, pontuou Cristiani Vieira Machado, vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação.

Foram convidados pesquisadores de diversas áreas para compor o Fórum, pois “entende-se que o debate de ciência aberta é um debate de todos nós”, afirmou Cristiani. Segundo ela, é uma instância também de planejamento, sobre o desdobramento das estratégias e políticas a serem implementadas nos próximos anos. De acordo com calendário, já estão previstas pelo menos quatro reuniões em 2022 – o Fórum deverá se reunir periodicamente, pelo menos uma vez por trimestre.

A coordenadora de Informação e Comunicação e coordenadora do Fórum, Vanessa Jorge, compartilhou a emoção de estreia do Fórum e de tudo o que a sua constituição representa. “Observo o quanto o trabalho da Fiocruz é referência para outros atores do país em ciência aberta. Apesar dos desafios, continuamos pioneiros nessa conversa e nesse debate sobre abertura, proteção e gestão de dados”, pontuou durante a reunião.

Já o diretor do Icict/Fiocruz e coordenador adjunto do Fórum, Rodrigo Murtinho, afirmou que o Fórum aumenta a capacidade da Fiocruz de pensar uma estratégia ampla e estruturada na área da ciência aberta. “Não é à toa que é composto por tantos atores, ao inaugurarmos este Fórum é possível termos um espaço concreto para pensar grandes estratégias e unir todas as frentes da instituição de maneira combinada”, disse.

Saiba mais sobre ciência aberta na Fiocruz e acesse as políticas de Acesso Aberto ao Conhecimento e de Gestão, Compartilhamento e Abertura de Dados para Pesquisa.

Publicado em 23/09/2021

Prorrogadas as inscrições para mestrado e doutorado em Informação e Comunicação em Saúde

Autor(a): 
Icict/Fiocruz

Foram prorrogadas as inscrições para os cursos de mestrado e doutorado do Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS), oferecido pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz). A nova data para inscrição é 30 de setembro, próxima quinta-feira, sendo necessário enviar os documentos exigidos pelo edital até o dia 1° de outubro. As inscrições devem ser feitas pela internet, considerando o horário limite de 23h59 (horário de Brasília) para preenchimento do cadastro online e envio dos materiais de homologação.

Recomenda-se evitar a inscrição e o envio da documentação no último dia. O candidato receberá a confirmação do recebimento do e-mail no prazo de até 24h. As demais datas do processo seletivo foram alteradas, conforme calendário publicado pelo Programa.

O Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS) compreende dois cursos de oferta regular, contínua e gratuita: o mestrado acadêmico em Informação e Comunicação em Saúde e o doutorado em Informação e Comunicação em Saúde, que constituem níveis independentes e terminais de ensino, qualificação e titulação.

Atualmente, é o único programa a oferecer cursos de mestrado e doutorado stricto sensu, de forma interdisciplinar, nessas três áreas do conhecimento, e há mais de dez anos, atua na formação para a pesquisa em temas fundamentais da comunicação e da informação em saúde.

Editais
Mestrado 2022
Mestrado 2022 – Candidatos Estrangeiros
Doutorado 2022
Doutorado 2022 – Candidatos Estrangeiros

Cronograma atualizado
Prorrogação e novo calendário de seleção - Doutorado
Prorrogação e novo calendário de seleção - Mestrado

Perguntas mais frequentes
Tire todas as suas dúvidas sobre os cursos de pós-graduação e o processo seletivo: bit.ly/perguntaserespostasPPGICS

E-mail para dúvidas e informações: processoseletivo@icict.fiocruz.br

Publicado em 22/09/2021

Divulgado resultado da chamada Medalha Virginia Schall de Mérito Educacional 2021

Autor(a): 
Isabela Schincariol

A Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz divulga o resultado final da candidatura à Medalha Virginia Schall de Mérito Educacional 2021. A medalha visa distinguir trajetórias acadêmicas de elevado mérito na educação no campo da saúde. No ano de 2021, foram aceitas candidaturas de profissionais com destacada atuação em educação nas áreas da Saúde Coletiva e Ciências Humanas e Sociais. 

Nesta edição, a Coordenação-Geral de Educação (CGE/Vpeic) recebeu, por meio do Programa de Pós-graduação em Saúde Pública do Instituto Aggeu Magalhães (IAM/Fiocruz Pernambuco), a candidatura de Eduardo Maia Freese de Carvalho à Medalha; que foi apreciada e aprovada, reconhecendo sua capacidade de somar esforços para a promoção do ensino de pós-graduação e de pesquisas voltadas para a melhoria das condições de assistência à saúde. 

Confira aqui a ata oficial da reunião de apreciação da candidatura à Medalha de Mérito Educacional Virgínia Schall – 2021.

Publicado em 22/09/2021

Fiocruz regulamenta ações afirmativas para cursos Stricto Sensu, especializações e residências em saúde

Autor(a): 
Isabela Schincariol

O Brasil é um país que convive com desigualdades em diferentes âmbitos, principalmente social, econômico e educacional. Com o objetivo de amenizar tais questões, foram desenvolvidas algumas políticas públicas para garantir o acesso igualitário aos cidadãos em escolas, universidades e também em oportunidades de emprego. A Fiocruz vem avançando ao longo dos anos nessa questão e acaba de lançar nova regulamentação no campo das ações afirmativas para os cursos Stricto sensu (mestrado e doutorado) e Lato sensu (especialização e residências em saúde). Com a medida, todos os cursos da Fundação devem destinar um número mínimo de 7% das vagas para candidatos que se declararem Pessoas com Deficiência (PcD), 20% aos que se autodeclararem negros (pretos e pardos)  e 3% aos que se autodeclararem indígenas.

De acordo com Isabella Delgado, coordenadora do Lato Sensu da vice-presidência de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, e uma das responsáveis pela condução da normatização nos programas de pós-graduação, a resolução foi construída coletivamente, sempre considerando conceitos e pontos de vista trazidos pelos Comitês de Pró-Equidade de Gênero e Raça e de Acessibilidade e Inclusão das Pessoas com Deficiência da Fiocruz. A Portaria 491, de 20 de setembro de 2021, foi debatida e apreciada em mais de uma ocasião na Câmera Técnica de Educação e em Encontros Virtuais da Educação na Fiocruz. 

Publicar a portaria próximo a 21 de setembro, Dia da Luta da Pessoa com Deficiência, é simbólico, pois ratifica e fortalece o compromisso da Fiocruz e seus colaboradores em superar desigualdades na saúde, na ciência e na educação. Nesse sentido, a Fiocruz lançou também, em 21/9, o Guia de acessibilidade para as ações educativas na Fiocruz. A publicação digital, elaborada pelo Comitê Fiocruz pela Acessibilidade e Inclusão das Pessoas com Deficiência, foi anunciada durante o encontro "Trajetória inclusivas? O que pessoas com deficiência têm a dizer sobre educação" e está disponível para acesso no Portal Fiocruz.

+Confira mais detalhes aqui e acesse o guia!  

A vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fundação, Cristiani Vieira Machado, em texto publicado na apresentação do Guia, salientou que, diante das acentuadas desigualdades e formas de exclusão que caracterizam a sociedade brasileira, expressas em múltiplas e imbricadas dimensões, a promoção da equidade é uma diretriz norteadora das diversas áreas da Fiocruz. “No que concerne às políticas educacionais, é fundamental a adoção de estratégias que garantam o direito de todas as pessoas à educação. Nos últimos anos, a Fiocruz vem buscando fortalecer as ações afirmativas para o ingresso na pós-graduação, incluindo a incorporação de cotas. No entanto, é necessário expandir e institucionalizar estratégias que assegurem condições apropriadas ao acesso, à permanência e ao processo de aprendizagem dessas pessoas, visando à efetivação do direito à educação, que é importante per se, e por influenciar a concretização dos demais direitos”.

Debate coletivo para normatização das ações afirmativas nos cursos da Fiocruz

Para Isabella, é muito importante destacar que já existiam portarias que regulamentam as ações afirmativas na Fiocruz, no Stricto Sensu desde 2017 e no Lato Sensu desde 2019. "Esse é um processo que vem sendo aprimorado em nossa instituição. Foi exatamente a partir da publicação das duas portarias iniciatis – 2017 e 2019 – que ampliamos o debate coletivo e tomamos a decisão por uma portaria única, ampliando o número de vagas por cotas e buscando aprimorar tanto o processo de acesso como o de permanância de cotistas na Fiocruz".

A Portaria foi elaborada e faz parte de política maior que tem como base três grandes eixos: 1) Acesso – ampliação de cotas, separação entre cotas raciais e de acessibilidade; acompanhamento de editais (aperfeiçoamento e acompanhamento); e criação de Comissão de heteroidentificação e Comissão de PcD –; 2) Política de permanência – aproximação da discussão com a política de apoio ao estudante; fluxos gerais e planos individualizados, além de parcerias externas –, e 3) Formação – que envolve curso de Acessibilidade e Educação (1. Especialização); e a capacitação de servidores para a comissão de heteroidentificação.

O próximo grande passo é o acompanhamento da elaboração dos editais de forma mais próxima, além de fomentar a formação da Comissão de Heteroidentificação e fortalecer a Comissão de PcD dentro da Fiocruz.

Isabella ressaltou ainda que, para além do que está estabelecido na Portaria, as unidades têm autonomia para ampliar as vagas das ações afirmativas, considerando a região na qual está situada, o perfil do público-alvo do curso ou alguma outra demanda ou questão específica, como, por exemplo, a saúde dos povos indígenas, comentou ela, dizendo ainda que “será sempre possível ampliar o número das vagas de cotas, mas nunca deixá-lo aquém do que está estabelecido na nova Portaria”.

 

Fonte imagem/fundo: Freepik

Publicado em 21/09/2021

No dia da Luta da Pessoa com Deficiência, Fiocruz lança Guia de acessibilidade para ações educativas

Autor(a): 
Isabela Schincariol

As trajetórias percorridas na educação mudaram muito nos últimos 15 meses devido à pandemia de Covid-19. Muito também se fala das tantas e diversas dificuldades que foram exacerbadas neste novo contexto que estamos vivendo. Mas o que aconteceu com o grupo que desde sempre enfrentou dificuldades para chegar, entrar e permanecer nessa estrada? No Dia da Luta da Pessoa com Deficiência, celebrado em 21 de setembro, o Comitê Fiocruz pela Acessibilidade e Inclusão das Pessoas com Deficiência realizou o encontro "Trajetória inclusivas? O que pessoas com deficiência têm a dizer sobre educação" e lançou o Guia de acessibilidade para as ações educativas na Fiocruz, que está disponível para acesso no Portal Fiocruz. 

+Leia mais: Fiocruz regulamenta ações afirmativas para cursos Stricto Sensu, especializações e residências em saúde

Segundo a vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Cristiani Vieira Machado, na apresentação do Guia, espera-se que o material seja um instrumento de orientação e suporte às unidades, programas e cursos na promoção de mudanças de vários tipos – de infraestrutura, pedagógicas, atitudinais – necessárias para apoio às pessoas com deficiência que estudem na Fiocruz. "Esse é um processo complexo e gradual, que requer o engajamento coletivo para garantir a todos, conforme previsto em convenções internacionais e na Constituição do Brasil, o direito à dignidade, à cidadania, à saúde e à educação".

O Guia foi elaborado por profissionais do Comitê Fiocruz pela Acessibilidade e Inclusão das Pessoas com Deficiência e traz orientações referentes à legislação e às normas vigentes sobre acessibilidade, além de um glossário inclusivo, elaborado com base na Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, de 2015, e em outros referenciais de acessibilidade. 

Confira aqui a publicação: Guia de acessibilidade para as ações educativas na Fiocruz

Assista, na íntegra, o 5° Encontro do Comitê Fiocruz pela Acessibilidade e Inclusão das Pessoas com Deficiência - "Trajetória inclusivas? O que pessoas com deficiência têm a dizer sobre educação", que teve como convidados João Victor Mancini Silvério, educador físico e vice-diretor de Comunicação e Relações Públicas da Associação Reviver Down; Alexandre Clecius, professor de Libras; Cecília Francini, estudante da Unifesp; Fabricio Romero Saavedra, cirurgião dentista formado na Unesa e servidor da Ensp/Fiocruz; além de Armando Nembri, professor, escritor, palestrante e PHD em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia pela UFRJ, que foi o mediador do debate. 

 

Publicado em 21/09/2021

Seminário debate desigualdades enfrentadas por mulheres na saúde global 

Autor(a): 
Cristina Azevedo (Agência Fiocruz de Notícias) 

As mulheres são maioria na força de trabalho em saúde. Mesmo assim, estão longe dos postos de liderança, enfrentam desigualdades nos salários e muitas vezes são vítimas de assédio moral e sexual. Se o panorama descrito no webinário "Mulheres na Saúde Global", promovido pelo Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris/Fiocruz) no último dia 15, parece sombrio, ele também traz focos de esperança: ao mesmo tempo em que exacerbou essas desigualdades, a pandemia de Covid-19 jogou luz sobre elas, ampliando o debate em torno do tema e a busca de soluções. O evento pode ser assistido na íntegra no canal da VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz no Youtube.

Coordenado pela a vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC/Fiocruz), Cristiani Vieira Machado, o encontro contou com as participações de Roopa Dhatt, diretora-executiva da ONG Women in Global Health; Stéphanie Seydoux, embaixadora da França para a Saúde Global; Nísia Trindade Lima, presidente da Fiocruz; e com comentários de Zélia Maria Profeta da Luz, pesquisadora do Instituto René Rachou (IRR/Fiocruz Minas) e integrante do Conselho da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre Economia da Saúde para Todos. 

“Segundo dados da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), as mulheres sofreram de forma mais acentuada as retrações dos postos de trabalho, especialmente no setor informal, ficaram mais sobrecarregadas com os serviços domésticos, com o fechamento de escolas e com familiares que adoeceram”, destacou Cristiani. "Esse cenário exige políticas públicas abrangentes e ação coletiva”, disse, lembrando que a Fiocruz conta com um Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça e hoje é presidida por uma mulher.  

"Políticas cegas” 

Cofundadora da Women in Global Health e consultora da OMS, Roopa Dhatt ressaltou que muitas políticas são “cegas o ponto de vista de gênero”, o que reforça a discriminação. Como exemplo, citou medidas adotadas durante o lockdown que para algumas mulheres significou deixá-las em ambientes violentos.  Além disso, pelo menos 30% — em alguns casos até 60% — dos serviços para mães foram descontinuados ou dificultados na pandemia. 

Se 70% da força de trabalho em saúde é composta por mulheres, o mesmo não acontece nos cargos de liderança, onde elas representam apenas 20%. “Estão sub-representadas, contidas por fatores raciais, por virem de minorias, serem migrantes, as várias desvantagens se acumulam. Há um gap de 28% nos salários em relação aos dos homens. Enfrentam ainda assédio sexual e moral, que pode vir de colegas de trabalho ou de pacientes”, disse. Junto com o governo da França e a OMS, a WGH lançou a iniciativa Força de Trabalho da Saúde e Cuidados e Igualdade de Gênero (GEHCWI), sobre quatro pilares: aumentar a presença em postos de liderança, equiparação de remuneração, proteção contra assédio e melhores condições de trabalho. 

Dividendo Tríplice 

A embaixadora Stéphanie Seydoux destacou a realização do Fórum Geração Igualdade, em Paris, há dois meses, marcando os 26 anos da Conferência de Pequim. A ideia era “rejeitar esta tendência de recuo no compromisso com os direitos das mulheres”, explicou. Entre os compromissos alcançados está a promessa de disponibilizar 40 milhões de euros (R$ 247 milhões) para os esforços. Foram definidas áreas de compromisso, como contra a violência de gênero; direitos econômicos; saúde sexual e reprodutiva; e inovação em prol da igualdade em gênero. 

Na questão da saúde, a embaixadora observou que “há uma necessidade urgente de obter compromissos mais amplos para aumentar a proporção de mulheres em posições de liderança, reconhecer o valor do trabalho de cuidado não remunerado e a importância da igualdade de remuneração e a proteção contra violência e assédio, além de garantir condições de trabalho seguras e decentes. Tudo isso para alcançarmos o Dividendo Tríplice de gênero.”  

Movimentos sociais 

Coube à Nísia trazer a discussão para o Brasil. A presidente da Fiocruz disse que é “revelador que a participação de mulheres na Academia Brasileira de Ciências esteja na faixa de 30%. Na Fiocruz, que é uma instituição que tem esse compromisso, não só levamos 120 anos para ter uma mulher na presidência, como ainda hoje somos 30% da representação no Conselho Deliberativo, que é o conselho dos institutos. São dados que mostram o quanto temos que avançar”. 

Nísia disse que essa agenda é central na preparação do 9º Congresso Interno. Ela lembrou que em 2017 foi aprovada uma resolução dedicada à Equidade de Raça e Gênero com uma visão de diversidade, que envolve também trabalhadores com deficiências. Lembrou ainda o programa Meninas e Mulheres na Ciência, em que profissionais de várias áreas da Fiocruz recebem estudantes, numa visão de inclusão social. 

“Quando falamos em equidade de gênero, não podemos deixar de falar que ocorre de forma diferenciada, é sobretudo grave em relação às mulheres negras”, disse.  A Fundação tem trabalhado intensamente com populações em situação de vulnerabilidade no país. No Rio, isso ocorre especialmente nas comunidades de Manguinhos e Maré, onde a Fiocruz tem integrado conhecimento científico, pesquisa e ação comunitária. “Vemos movimentos bem estruturados, e observamos a forte presença das mulheres. Uma agenda como essa que discutimos aqui tem que contar com o protagonismo dessas mulheres.” 

Nísia lembrou que apesar de realçar desigualdades, aprendizados podem ser tirados da pandemia: “Deve-se pensar em alternativas democráticas construídas com base na ciência, mas com um forte diálogo com movimentos sociais e a sociedade civil. Isso será fundamental para a superação da crise.”  

Interseccionalidade 

Zelia Profeta também destacou a questão da interseccionalidade. “Se a gente não fizer essa discussão pensando em gênero, raça, classe social e até geracional, pode não fazer as relações corretamente”, disse, citando pesquisa que mostra que a maior parte dos técnicos de enfermagem e agentes de saúde são pessoas pretas e pardas. 

Sobre o trabalho no conselho da OMS, a ex-diretora da Fiocruz Minas contou que “a ideia ter um plano ao final de dois anos que apresente saúde para todos, mas numa perspectiva de que saúde não é gasto, é investimento. A ideia do conselho é colocar a saúde definindo como a economia tem que funcionar e não o contrário”, contou. “Acho que o principal desafio é fazer uma agenda que consiga avançar, consiga influenciar lideranças, e eu acho que a gente tem todas as condições de fazer isso.” 

Música 

Este Seminário Avançado em Saúde Global teve um toque diferente: organizado por Ilka Vilardo e Ana Helena Freire, do Cris, ele foi aberto e fechado com a participação da cantora Ana Costa, que apresentou duas de suas composições com Zelia Duncan: as canções "Uma mulher" e "Eu sou mulher, eu sou feliz", que abordam dificuldades do dia a dia, inclusive saúde física e mental. Este foi o 19º Seminário Avançado em Diplomacia da Saúde em 2021 e aconteceu exatamente ao completar um ano do primeiro, realizado em 15 de setembro de 2020, lembrou Paulo Buss, coordenador do Cris.

 

Publicado em 21/09/2021

Fiocruz lança curso sobre urgências e emergências obstétricas para região Norte

Autor(a): 
Grace Soares - jornalista e consultora da Fiocruz para o projeto do curso urgências e emergências obstétricas para a região Norte*

Novo curso da Fiocruz sobre urgências e emergências obstétricas é voltado para profissionais de saúde da região Norte. A atualização é online, autoinstrucional e visa melhorar a atuação de profissionais na assistência ao pré-natal, ao parto e no trabalho com urgências e emergências para que atuem em prol do diagnóstico precoce de comorbidades e redução da razão de mortalidade materna e neonatal. As inscrições vão até 15 de outubro pelo Campus Virtual Fiocruz. Ao todo, estão disponíveis 500 vagas. As aulas terão início em outubro de 2021 e vão até março de 2022. 

Inscreva-se já!

O público-alvo são profissionais de saúde de assistência ao ciclo gravídico-puerperal prioritariamente dos municípios dos estados do Amazonas e Roraima, e em seguida, dos demais estados da Região Norte. A iniciativa é coordenada pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e foi desenvolvida em parceria com oInstituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), o Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz Pernambuco) e o Statera Cursos e Consultoria. 

Para o coordenador do curso, que é pesquisador do Laboratório de História, Políticas Públicas e Saúde na Amazônia (Lahpsa/ILMD/Fiocruz Amazônia), Julio Schweickardt, a formação busca dar uma resposta educativa e pedagógica para as situações de mortalidade materna e neonatal na região Norte. No Brasil, o índice de morte desses dois grupos é considerado elevado, muito em função do pré-natal precário ou inadequado e da falta de condições seguras para o parto. Com a pandemia, a situação de mulheres grávidas e de seus bebês tornou-se ainda mais delicada. 

A socióloga e pesquisadora do Instituto Aggeu Magalhães (IAM/Fiocruz Pernambuco) Camila Pimentel, que divide a coordenação do curso com Schweickardt, lembrou que o curso surgiu num contexto histórico de mortalidade materna, especialmente agravado pela Covid-19. "Já tínhamos um cenário tardio de início de pré-natal e de peregrinação da parturiente [mulher que está em trabalho de parto ou recém-parida]; e com a pandemia a atenção básica sofreu muito mais e o pré-natal foi interrompido. Isso fez piorar a saúde materna”, explicou ela, detalhando ainda que no curso serão trabalhados temas que vão desde a importância de um bom acompanhamento de pré-natal, passando por questões psicológicas e afetivas do parto, até as urgências e emergências obstétricas. 

O corpo docente é composto de profissionais que atuam na área da atenção à mulher e também no ensino em saúde, todas com experiência prática e teórica. Todo o conteúdo foi idealizado e produzido segundo os pilares da humanização do parto, valorizando o protagonismo feminino e a atenção profissional.

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