Inteligência artificial, interatividade e diálogo intercultural na ciência e na saúde são algumas das temáticas abordadas no terceiro número da Reciis em 2024. A edição conta com o dossiê "Cuidados-em-interação: práticas, saberes e reflexividade na saúde", que teve o objetivo de mobilizar o conceito ‘cuidados-em-interação’, compreendendo a noção de interação como indissociável do conhecimento comunicacional. A Revista Eletrônica de Comunicação, Informação & Inovação em Saúde (Reciis) é editada pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Icict/Fiocruz).
Conforme os editores convidados do dossiê "Cuidados-em-interação: práticas, saberes e reflexividade na saúde", Márcia Rodrigues Lisboa (Fiocruz) e Michel Binet (Universidade Lusíada), a proposta possibilitou uma coletânea de artigos que desencadeou diálogos convergentes na temática proposta, mas por distintas abordagens interdisciplinares entre autoras e autores de diferentes áreas do conhecimento e de diferentes regiões. O estudo de Ana Cristina Ostermann e Minéia Frezza abre o dossiê. As autoras desenvolvem uma descrição qualitativa, que ‘demonstra mostrando’ a interação entre um médico e uma paciente diante de resultados inconclusivos de um teste genético realizado num feto que sofreu malformações, seguidas de morte, às 35 semanas de gestação. Na pesquisa seguinte, Ulrike Agathe Schröder, Fernanda Roque, Anna Ladilova e Sineide Gonçalves fazem uma análise multimodal de ‘fala-e-corpo-em-interação’ sobre o uso de máscaras em tempos de Covid-19. A análise é feita em vídeos produzidos num posto de saúde da família e pela interação entre uma profissional de saúde e um paciente no Brasil; vídeos de canais televisivos de vários países e acessíveis no Youtube; entrevistas jornalísticas em transportes públicos em Cuba, em um salão de cabeleireiro na Alemanha e nas imediações de um centro médico nos Estados Unidos.
José Manuel Resende e Maria Rosália Guerra também destacam em sua análise a interação do corpo, mas por meio de observações e entrevistas numa perspectiva etnográfica, sem mediação por gravações. Trata-se de uma atenção às pistas corporais e expressões existenciais de uma pessoa em condição frágil e em cuidados decorrentes à demência. Já João Freire Filho e Júlia dos Anjos analisam interações que ocorrem por meio de testemunhos em primeira pessoa produzidos em situação de entrevista ou partilhados por meio de escrita autobiográfica de mulheres com endometriose. O autor e a autora questionam a relação entre profissionais de saúde e pacientes na qual se manifestam preconceitos sexistas, raciais e sociais. No último artigo do dossiê, Anna Bentes, Danielle Sanches e Paulo F. C. Fonseca desenvolvem uma análise documental de leis referentes à Inteligência Artificial sobre a saúde humana, particularmente sobre a saúde mental, problematizando os desafios da regulação no Brasil.
Extrativismos e diálogos
O debate sobre a regulação da Inteligência Artificial no Brasil é tema da seção Nota de Conjuntura. Sérgio Amadeu da Silveira chama a atenção para a soberania digital e de dados, considerando ser uma questão pouco debatida nos debates regulatórios brasileiros sobre a IA e que se refere a uma dinâmica caracterizada como um novo colonialismo tecnológico. Por isso, enfatiza que as discussões regulatórias no Brasil devem apostar na consolidação da soberania digital e de dados para que se possa manter e fortalecer a soberania de Estado Democrático de Direito. Na seção Resenha, Thalita Mascarelo da Silva reflete sobre o documentário "Xawara e saúde" (2023), dirigido por Daniela Muzi. A autora analisa a narrativa documental como expressão de outras vozes, periféricas, na produção e na circulação da informação em saúde e da cultura saúde-doença-cura-cuidados articulada com os saberes dos povos indígenas, do povo Yanomami, e com estratégias de atenção em saúde no território. Thalita destaca na resenha o depoimento de Daniel Yanomami, no qual ele diz como gostaria de ser representado no documentário.
Em entrevista, a pesquisadora Diádiney Helena de Almeida propõe, metaforicamente, pintarmos de urucum, jenipapo e poá um discurso científico e da saúde baseados no método extrativista que permanece no tempo. A historiadora narra sua trajetória de vida articulada com suas pesquisas sobre curadores populares no Brasil, compreendendo sua trajetória na ciência como “um caminho formado de muitas vozes, cheiros de ervas e de sons de folhas e galhos estalando no chão”. Em editorial, os editores científicos da Reciis, Igor Sacramento, Christovam Barcellos e Kizi Mendonça de Araújo, convocam a comunidade científica a refletir sobre “um equilíbrio precário entre paixão, vocação e pressão” que configura o trabalho do editor científico num cenário competitivo e instável financeiramente que tem caracterizado a produção e disseminação da ciência no Brasil.
Por meio de submissão em fluxo contínuo, esta edição apresenta ainda artigos originais que versam sobre a relação entre comunicação, informação e saúde em temas como: literacia em saúde, Atenção Primária, comunicação em saúde nas redes sociais e pesquisas sobre a doença de Alzheimer na América Latina e no Caribe.
Sobre a Reciis
A Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e Inovação em Saúde (Reciis), editada pelo Icict desde 2007, é um periódico interdisciplinar de acesso aberto. Seus textos são inéditos, em português, inglês, espanhol ou francês, com temas de interesse para as áreas de comunicação, informação e saúde coletiva. A Reciis é uma das iniciativas da Política de Acesso Aberto, pois não cobra taxa de processamento de artigos. Ela faz parte do Portal de Periódicos Fiocruz junto com outras oito publicações que oferecem livre acesso aos seus conteúdos.
Como as teorias e conceitos de Comunicação e Saúde se encontram nas práticas comunicacionais das instituições de saúde? Esta é uma das questões a serem investigadas para o dossiê ‘Comunicação nas instituições de saúde e saúde na comunicação’ da Revista Eletrônica de Comunicação, Informação & Inovação em Saúde (Reciis). O prazo de submissão de artigos originais para esta coletânea vai até 26 de setembro de 2024 e a publicação está prevista para o mês de fevereiro de 2025.
Conforme as editoras convidadas para o dossiê, Sabine Righetti (Universidade Estadual de Campinas - Unicamp) e Mariella de Oliveira-Costa (Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz/Brasília), a proposta da coletânea tem o objetivo de olhar para as atuais práticas de comunicação de instituições de pesquisa públicas e privadas na área de saúde, bem como hospitais, universidades e outras, e promover uma reflexão sobre o que está sendo feito e o que pode ser feito no campo a fim de dar respostas concretas aos desafios e oportunidades de se comunicar saúde na realidade cotidiana.
A proposta do dossiê particulariza com centralidade os seguintes subeixos temáticos, privilegiando a relação comunicação, saúde e instituições:
Editoras convidadas
Sabine Righetti (Universidade Estadual de Campinas - Unicamp) é pesquisadora e professora no Labjor-Unicamp, coordenadora do Programa Mídia Ciência (Fapesp) e Co-fundadora da Agência Bori. Tem mestrado e doutorado em política científica e tecnológica pela Unicamp. É professora e orienta pesquisas na Especialização em Jornalismo Científico do Labjor-Unicamp e no Programa de Mestrado em Divulgação Científica e Cultural da Unicamp, trabalhando com comunicação social da ciência, jornalismo científico, percepção pública da ciência e da tecnologia, avaliação e indicadores de ciência e de ensino superior.
Mariella de Oliveira-Costa (Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz/Brasília) é pesquisadora e professora permanente do Programa de Pós-graduação/Mestrado Profissional em Políticas Públicas em Saúde (Fiocruz-Brasília) e coordenadora adjunta da especialização em Comunicação em Saúde. Docente convidada do Mestrado Profissional em Saúde da Família (ProfSaúde) para a disciplina de Comunicação Científica. Doutora em Saúde Coletiva (Universidade de Brasília-UnB, 2017). É mestre em Tocoginecologia na área de Ciências Médicas (Universidade Estadual de Campinas- Unicamp, 2008). É servidora pública da Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz, com atividades de ensino, pesquisa e jornalismo na Assessoria de Comunicação da Fiocruz Brasília e Escola de Governo Fiocruz - Brasília.
Normas e preparação de artigo
A Reciis é uma das iniciativas da Política de Acesso Aberto da Fiocruz; é um periódico diamante, sem qualquer cobrança de taxa para submissão ou publicação de textos. Recebe textos em fluxo contínuo e a partir de chamadas públicas para dossiês temáticos. Publica textos inéditos de interesse para as áreas de comunicação, informação e saúde; em português, inglês, espanhol ou francês.
Ao submeter o trabalho, é necessário preencher a categoria Dossiê Comunicação nas instituições de saúde e saúde na comunicação. Caso a categoria não esteja indicada, o manuscrito será considerado para a avaliação do fluxo regular da revista. Outras informações no site: www.reciis.icict.fiocruz.br
As normas do periódico podem ser consultadas na seção ‘Submissões’. No caso de dúvidas, escreva para o e-mail: reciis@icict.fiocruz.br.
Prazo de submissão: até 26/9/2024
Estimativa de publicação: Fevereiro de 2025
Ao submeter o trabalho, por favor, use a categoria Dossiê Comunicação nas instituições de saúde e saúde na comunicação.
Confira aqui mais informações sobre a submissão e referências.
Arte: Vera Fernandes (Ascom/Icict/Fiocruz)
Em editorial do segundo número de 2024, a Revista Eletrônica de Comunicação, Informação & Inovação em Saúde (Reciis) convida a pensar na produção do conhecimento por uma perspectiva decolonial, um movimento que critica a hegemonia de prioridades, conceitos e metodologias de pesquisas influenciadas pelos países centrais e ocidentais. A edição aborda também o movimento da Ciência Aberta em alusão aos 10 anos da Política de Acesso Aberto da Fiocruz, além de artigos originais que abordam a relação entre comunicação, informação e saúde. A Reciis é editada pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Icict/Fiocruz).
Barcellos, Araújo e Sacramento discorrem sobre as possibilidades para construir uma ciência que evidencie a historicidade e a complexidade das experiências locais em ciência e saúde do Sul Global a fim de mobilizar padrões culturais ocidentais pensados como normas universais e perpetuadoras de relações coloniais. Para isso, os editores e a editora científica elencam como caminho o reconhecimento, o respeito e a valorização das práticas tradicionais locais; o engajamento das comunidades locais no processo de pesquisa – desde a identificação do problema em saúde até a implementação de estratégias – e a priorização de pesquisas que abordem as desigualdades sociais e econômicas no Sul Global.
Em junho de 2024, mês em que a Reciis celebra seus 17 anos e o ano em que a Fiocruz marca seus 10 anos de política de acesso aberto, o Icict promoveu o 1º Encontro de Tecnologias para Ciência Aberta - Desafios da comunicação científica: ciência aberta, sustentabilidade e OJS. O evento contou com a participação de profissionais de diversas áreas no intuito de refletir sobre o movimento pela ciência aberta e sua implementação a partir de infraestruturas abertas, como o OJS (Clique aqui e veja como foi o encontro).
A produção sobre Ciência Aberta na área de Ciência da Informação no Brasil é tema do artigo de Vinícius dos Santos e Maria Nélida de Gómez. O autor e autora realizam um mapeamento de artigos científicos publicados na Base de Dados Referenciais de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação (Brapci) entre 2015 e 2019 e demonstram, no período observado, a prevalência de estudos sobre temáticas de dados de pesquisa abertos e sobre repositórios como maneiras de aperfeiçoar os fazeres científicos. O autor e autora ainda enfatizam a necessidade de aproximar ciência e sociedade com a participação do cidadão no desenvolvimento das pesquisas científicas.
Entre o mar e as ruas
Em ‘O mar que habita em mim’, Flores et al. demonstram como estratégias comunicativas podem promover reflexões com a comunidade e gestores em saúde localizados em regiões à margem das águas. O estudo etnográfico foi feito a partir de vivência e oficinas, com análise e produção de estratégias em relação ao trabalho, vida e saúde com pescadoras artesanais do litoral de Pernambuco.
Já Bucciarelli et al. discutem a comunicação dos sentidos de informalidade, casualidade e familiaridade entre vendedoras de café nas ruas de São Paulo (SP) e Vitória (ES).
Neste artigo, autores e autoras problematizam políticas públicas de trabalho, condições sanitárias, serviços de transporte e saúde. Ainda pelas ruas, Bortoletto et al. vivenciam o serviço ‘Consultório na Rua’ em municípios de médio porte no Sul do Brasil. Autoras e autores apresentam pistas, as quais denominam como genealógicas, que indiciam sentidos de criminalização e assimilação histórica em relação às pessoas em situação de rua no Brasil, devendo ser observados na implementação de políticas públicas voltadas a essa população.
Nas mídias e releituras do passado
A edição traz também artigos originais em que as plataformas de mídia são campos de pesquisa. Na plataforma Kwai, Ben-Hur Costa et al. observam a prevalência de narrativas de vídeos curtos sobre as experiências pessoais com a vacinação contra a covid-19. Destacam percepções positivas e negativas, que podem suscitar dúvidas quanto à segurança das vacinas. Na rede social Instagram, Natalí Costa et al. também identificam sentimentos contraditórios em relação à vacinação contra a covid-19, que vão desde sensações positivas de reconhecimento e valorização até sentimentos negativos, de revolta e indignação, diante da hesitação vacinal e dos discursos antivacina.
Isabelle Araújo, Sedruoslen Costa e Rafaela da Silva analisam indicadores sobre testagem da sífilis na gestação no Programa de Qualificação das Ações de Vigilância em Saúde (PQAVS) e no Programa Previne Brasil no estado da Paraíba e ressaltam a importância da ampliação da oferta de testes para sífilis, dos insumos para o tratamento adequado e da qualificação dos profissionais e da informação em saúde. Ainda na perspectiva da Vigilância em Saúde, Laura Santos et al. fazem uma análise bibliométrica sobre a produção do conhecimento sobre a Chikungunya. Luciana da Cruz, Mariana Rodrigues e Thiago Seles analisam as propagandas de cervejas que tiveram alguma denúncia feita ao ou pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), entre os anos de 2015 e 2020.
Júlio César Rigoni Filho analisa as representações do usuário de substâncias psicoativas veiculadas no jornal Folha de S. Paulo no período da ditadura militar brasileira. O conteúdo analisado compõe o acervo virtual do jornal e o estudo, segundo o autor, possibilita refletir sobre os atuais movimentos nostálgicos do ufanismo existente no período ditatorial e seus impactos nas políticas de drogas. Na seção resenha, Lucena et al. desenvolvem uma crítica sobre o filme Safe (1995), dirigido por Todd Haynes. De acordo com os autores, a obra realizada décadas atrás, traz questões atuais e críticas sobre a sociedade contemporânea, explorando a desconexão e o vazio existencial nas crises ambientais.
A Reciis é uma das iniciativas da Política de Acesso Aberto da Fiocruz; é um periódico diamante, sem qualquer cobrança de taxa para submissão ou publicação de textos.
Clique na imagem abaixo para acessar o segundo número de 2024 da Reciis v. 18, n. 2
Arte: Luciana Rocha Mariz Clua (Multimeios/Icict/Fiocruz) | Imagem da capa: Raul Santana (Fiocruz Imagens)
Em editorial do segundo número de 2024, a Revista Eletrônica de Comunicação, Informação & Inovação em Saúde (Reciis) convida a pensar na produção do conhecimento por uma perspectiva decolonial, um movimento que critica a hegemonia de prioridades, conceitos e metodologias de pesquisas influenciadas pelos países centrais e ocidentais. A edição aborda também o movimento da Ciência Aberta em alusão aos 10 anos da Política de Acesso Aberto da Fiocruz, além de artigos originais que abordam a relação entre comunicação, informação e saúde. A Reciis é editada pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Icict/Fiocruz).
Confira o segundo número de 2024 da Reciis na íntegra
Barcellos, Araújo e Sacramento discorrem sobre as possibilidades para construir uma ciência que evidencie a historicidade e a complexidade das experiências locais em ciência e saúde do Sul Global a fim de mobilizar padrões culturais ocidentais pensados como normas universais e perpetuadoras de relações coloniais. Para isso, os editores e a editora científica elencam como caminho o reconhecimento, o respeito e a valorização das práticas tradicionais locais; o engajamento das comunidades locais no processo de pesquisa – desde a identificação do problema em saúde até a implementação de estratégias – e a priorização de pesquisas que abordem as desigualdades sociais e econômicas no Sul Global.
Em junho de 2024, mês em que a Reciis celebra seus 17 anos e o ano em que a Fiocruz marca seus 10 anos de política de acesso aberto, o Icict promoveu o 1º Encontro de Tecnologias para Ciência Aberta - Desafios da comunicação científica: ciência aberta, sustentabilidade e OJS. O evento contou com a participação de profissionais de diversas áreas no intuito de refletir sobre o movimento pela ciência aberta e sua implementação a partir de infraestruturas abertas, como o OJS.
A produção sobre Ciência Aberta na área de Ciência da Informação no Brasil é tema do artigo de Vinícius dos Santos e Maria Nélida de Gómez. O autor e autora realizam um mapeamento de artigos científicos publicados na Base de Dados Referenciais de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação (Brapci) entre 2015 e 2019 e demonstram, no período observado, a prevalência de estudos sobre temáticas de dados de pesquisa abertos e sobre repositórios como maneiras de aperfeiçoar os fazeres científicos. O autor e autora ainda enfatizam a necessidade de aproximar ciência e sociedade com a participação do cidadão no desenvolvimento das pesquisas científicas.
Entre o mar e as ruas
Em ‘O mar que habita em mim’, Flores et al. demonstram como estratégias comunicativas podem promover reflexões com a comunidade e gestores em saúde localizados em regiões à margem das águas. O estudo etnográfico foi feito a partir de vivência e oficinas, com análise e produção de estratégias em relação ao trabalho, vida e saúde com pescadoras artesanais do litoral de Pernambuco.
Já Bucciarelli et al. discutem a comunicação dos sentidos de informalidade, casualidade e familiaridade entre vendedoras de café nas ruas de São Paulo (SP) e Vitória (ES).
Neste artigo, autores e autoras problematizam políticas públicas de trabalho, condições sanitárias, serviços de transporte e saúde. Ainda pelas ruas, Bortoletto et al. vivenciam o serviço ‘Consultório na Rua’ em municípios de médio porte no Sul do Brasil. Autoras e autores apresentam pistas, as quais denominam como genealógicas, que indiciam sentidos de criminalização e assimilação histórica em relação às pessoas em situação de rua no Brasil, devendo ser observados na implementação de políticas públicas voltadas a essa população.
Nas mídias e releituras do passado
A edição traz também artigos originais em que as plataformas de mídia são campos de pesquisa. Na plataforma Kwai, Ben-Hur Costa et al. observam a prevalência de narrativas de vídeos curtos sobre as experiências pessoais com a vacinação contra a covid-19. Destacam percepções positivas e negativas, que podem suscitar dúvidas quanto à segurança das vacinas. Na rede social Instagram, Natalí Costa et al. também identificam sentimentos contraditórios em relação à vacinação contra a covid-19, que vão desde sensações positivas de reconhecimento e valorização até sentimentos negativos, de revolta e indignação, diante da hesitação vacinal e dos discursos antivacina.
Isabelle Araújo, Sedruoslen Costa e Rafaela da Silva analisam indicadores sobre testagem da sífilis na gestação no Programa de Qualificação das Ações de Vigilância em Saúde (PQAVS) e no Programa Previne Brasil no estado da Paraíba e ressaltam a importância da ampliação da oferta de testes para sífilis, dos insumos para o tratamento adequado e da qualificação dos profissionais e da informação em saúde. Ainda na perspectiva da Vigilância em Saúde, Laura Santos et al. fazem uma análise bibliométrica sobre a produção do conhecimento sobre a Chikungunya. Luciana da Cruz, Mariana Rodrigues e Thiago Seles analisam as propagandas de cervejas que tiveram alguma denúncia feita ao ou pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), entre os anos de 2015 e 2020.
Júlio César Rigoni Filho analisa as representações do usuário de substâncias psicoativas veiculadas no jornal Folha de S. Paulo no período da ditadura militar brasileira. O conteúdo analisado compõe o acervo virtual do jornal e o estudo, segundo o autor, possibilita refletir sobre os atuais movimentos nostálgicos do ufanismo existente no período ditatorial e seus impactos nas políticas de drogas. Na seção resenha, Lucena et al. desenvolvem uma crítica sobre o filme Safe (1995), dirigido por Todd Haynes. De acordo com os autores, a obra realizada décadas atrás, traz questões atuais e críticas sobre a sociedade contemporânea, explorando a desconexão e o vazio existencial nas crises ambientais.
A Reciis é uma das iniciativas da Política de Acesso Aberto da Fiocruz; é um periódico diamante, sem qualquer cobrança de taxa para submissão ou publicação de textos.
Ampliar a discussão multidisciplinar e integrada sobre Saúde digital. Este é um dos objetivos do terceiro número da Reciis de 2023 que conta com um dossiê sobre este tema. O número aborda também a pesquisa das ciências humanas no âmbito de comitê de ética em estudos com seres humanos e na reivindicação de uma agenda racial nas pesquisas em informação e comunicação em saúde. A Revista Eletrônica de Comunicação, Informação & Inovação em Saúde (Reciis) é editada pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz). Conforme os editores convidados do dossiê Saúde digital, Raquel Brandini de Boni, Matheus Zuliane Falcão e Rodrigo Murtinho, o conceito ‘saúde digital’, especialmente no campo da informação e comunicação, se caracteriza por ser polissêmico, complexo e ainda em construção. No entanto, o conhecimento e suas práticas que envolvem inovações tecnológicas e digitais são consideradas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma importante estratégia para ampliar o acesso à saúde e melhorar as condições de vida das populações. Por isso, se faz necessário discutir o tema considerando também as implicações no ambiente digital que vão contra o direito à saúde garantida pelo Estado à sociedade.
Saúde digital: conceito polissêmico e suas práticas
Na coletânea, o artigo de Amaral et al. discute a premissa de transferência adequada de informações entre sistemas na gestão de hospitais federais no Rio de Janeiro. Ainda sobre a articulação da informação e otimização das ações de saúde, o trabalho de Scavuzzi et al. demonstra a importância do conceito de translação do conhecimento de saúde numa prática mediada por uma plataforma tecnológica, envolvendo diferentes atores sociais. Já Pinto et al. abordam alguns desafios de utilização de instrumentos jurídico para encomenda tecnológica de um órgão da administração pública, a partir de um estudo de caso no estado da Bahia. Ainda sobre as práticas de saúde na Rede, Nichiata e Passaro abordam a presença digital no Sistema Único de Saúde (SUS) por meio de aplicativos de dispositivos móveis e Justa et al. demonstram a usabilidade de uma plataforma voltada a cuidadores de pessoas idosas dependentes. Por fim, o dossiê traz para o debate científico a polissemia de conceitos em relação à desinformação por meio do artigo de Andrade et al. no qual analisam diferentes categorias associadas a notícias falsas nos ambientes digitais durante a pandemia de covid-19.
Ética e raça nas pesquisas
Na seção Entrevista, a médica sanitarista Lucia Souto, atuante em diversos movimentos populares e conferências nacionais de saúde, conta como seu trabalho em medicina comunitária a motivou a buscar em uma ecologia de saberes o direito à saúde e democracia no campo da pesquisa científica. Em Nota de Conjuntura, Hully Falcão faz uma análise sobre a submissão de pesquisas qualitativas de comunicação e informação em saúde no sistema CEP/Conep. Conforme a autora, o sistema trata a ética em pesquisa numa linguagem da bioética principialista, o que restringe o processo de submissão dos estudos a uma lógica cartorial, em que o ‘poder do cartório’ é o principal legitimador de uma pesquisa considerada ética nas ciências humanas. Em editorial, os editores científicos Igor Sacramento, Kizi Mendonça de Araújo, Christovam Barcellos e a assistente editorial Léa Camila de Souza Ferreira apontam a necessidade de estimular pesquisas atentas à raça nos sistemas de informação em saúde a fim de considerar as permanências latentes da escravidão nas constantes disputas na promoção e acesso às políticas de saúde de maneira equânime, integral e universal. Na seção Resenha, Márcia Lisboa destaca a questão central do livro ‘A natureza da atividade comunicativa’, de Adriano Duarte Rodrigues, que tem refletido nas últimas três décadas sobre as condições que desencadeiam a atividade comunicativa como processo interacional situado. Por meio de submissão em fluxo contínuo, este número apresenta ainda artigos originais que versam sobre a relação entre saúde, comunicação e informação em temas como: a medicalização da alimentação; vacinas, desinformação e fake news em plataformas das redes sociais; violência doméstica durante a covid-19; a relação da pandemia e diabetes e a construção ontológica do HIV/Aids.
Com o objetivo de fomentar a reflexão e a discussão de diferentes temas, abordando tanto aspectos conceituais e abstratos quanto desafios práticos associados à infraestrutura, ao uso de dados de saúde e à governança da Saúde Digital, a Revista Eletrônica de Comunicação, Informação & Inovação em Saúde (Reciis) recebe submissões de artigos para elaboração do Dossiê Saúde Digital. O prazo para submissões dos trabalhos é até 10 de abril.
Confira aqui todas as orientações para submissões dos artigos.
Com a pandemia de covid-19 e o estabelecimento de políticas e ações voltadas à Saúde Digital, houve um aumento significativo no desenvolvimento e na implementação das estratégias de Saúde Digital no Brasil. Sendo assim, faz-se cada vez mais necessária a discussão dos inúmeros aspectos que fazem parte desse vasto campo.
Serão avaliados artigos originais e inéditos nos seguintes eixos temáticos:
Editores convidados: Raquel De Boni (Icict/Fiocruz), Matheus Z. Falcão (Cepedisa/USP) e Rodrigo Murtinho (Icict/Fiocruz),
Prazo de submissão: até 10 de abril de 2023.
Estimativa de publicação: v. 17, n. 3, julho/setembro de 2023.
Ao submeter o trabalho, por favor, use a categoria Dossiê Saúde Digital.
Saúde Digital como ferramenta para acelerar o progresso do Desenvolvimento Sustentável
As tecnologias da informação e da comunicação (TICs) e a interconectividade foram destacadas na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável como ferramentas “para acelerar o progresso, reduzir a divisão digital e desenvolver sociedades do conhecimento”. O uso das TICs na área da Saúde e os processos socioeconômicos dele decorrentes fazem parte da área de conhecimento e prática que vem sendo denominada de Saúde Digital. A Saúde Digital também englobaria termos anteriores como “e-Saúde” e “Saúde 4.0”, mas é ainda considerada um conceito polissêmico, complexo e em construção.
Em 2005, na Assembleia Mundial de Saúde, a Organização Mundial de Saúde (OMS) instigou os países membros a elaborar planos estratégicos para o desenvolvimento e a implementação de estratégias de e-Saúde. Já em 2021, a OMS publicou a Estratégia Global de Saúde Digital 2020-2025, ressaltando sua importância para ampliar o acesso à saúde e beneficiar as pessoas de maneira ética, segura, confiável, equitativa e sustentável. Nesse sentido, tanto o documento da OMS quanto o manual da Organização Panamericana de Saúde (OPAS) para o uso de inteligência artificial em saúde enfatizam a importância de princípios orientadores, especialmente: transparência, acessibilidade, escalabilidade, replicabilidade, interoperabilidade, privacidade, segurança e confidencialidade, centralidade nos usuários e não discriminação.
Apesar de seu potencial, a Saúde Digital se apresenta com grandes desafios e riscos. O “Paradoxo da Saúde Digital” é um exemplo. O potencial de ampliar o acesso à saúde se depara com a divisão digital, fazendo com que os indivíduos que poderiam ser os maiores beneficiados sejam os que têm menos condições de utilizá-la (pela exclusão digital, por exemplo), e ainda tornando-os mais vulneráveis em um cenário de infodemia e desinformação, além da possibilidade de uso de seus dados.
Reconhecida recentemente como um direito fundamental na Constituição Federal Brasileira, a proteção de dados pessoais é outro desafio importante diante da rápida digitalização dos serviços de saúde. A Lei Geral de Proteção de Dados classifica os dados de saúde como sensíveis e que, portanto, precisam ser tratados com cuidado redobrado, porque podem gerar algum tipo de preconceito ou discriminação, ampliando a condição vulnerável dos cidadãos.
Com a pandemia de covid-19 e o estabelecimento de políticas e ações voltadas à Saúde Digital, houve um aumento significativo no desenvolvimento e na implementação das estratégias de Saúde Digital no Brasil. Sendo assim, faz-se cada vez mais necessária a discussão dos inúmeros aspectos que fazem parte desse vasto campo.
O campo da ciência e da saúde no mundo contemporâneo mobiliza possibilidades amplas e urgentes na produção de conhecimento ainda eurocentrada e associada a modelos biomédicos. A interdisciplinaridade das ciências humanas e sociais em saúde pode ser o espaço de um pensar e agir ético que expandem os circuitos biomédicos, do corpo e da doença e coloca no centro da discussão a determinação social da saúde. A partir desses pressupostos e compreendendo as interfaces Informação, Comunicação e Saúde como um desses lugares a se criar novas perspectivas na produção do conhecimento, a Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e Inovação em Saúde (Reciis), editada pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), lança no seu terceiro número de 2022 o dossiê Por uma ética interdisciplinar.
Confira aqui a terceira edição de 2022 da Reciis.
A composição da coletânea considerou discussões e análises no âmbito interdisciplinar da pesquisa em informação-comunicação-saúde. Um ponto tensionado é sobre um fazer científico baseado numa razão cartesiana com métodos rígidos e disciplinados. Essa questão atravessa o artigo Quando se fecha os olhos e vê: por uma metodologia afetiva. A autora Veronica Queiroz apresenta uma experiência metodológica guiada pelas emoções afetivas a fim de propor a construção de conhecimento com bases contra-hegemônicas e éticas entre o pesquisador e o outro, seu sujeito/objeto. As potencialidades do afeto em pesquisa também é uma questão elaborada no trabalho Centro de Convivência Virtual: potencialidades e desafios para a promoção da saúde e redes de afeto em tempos de pandemia. As autoras analisam possibilidades de atenção psicossocial em ambientes online.
A integridade científica é outra questão que atravessa os artigos do dossiê. Em Urgência da geração de conhecimento durante a pandemia de covid-19: um retrospecto sobre a integridade em publicações em saúde; Responsabilização em más condutas científicas: opinião de editores do SciELO e Considerações estruturais sobre o exercício do cargo da presidência das Comissões de Ética do Sistema de Gestão da Ética do Poder Executivo Federal (SGEPEF), autoras e autores situam a importância da ética nas políticas editoriais dos periódicos científicos, na gestão pública a partir dos comitês de ética em pesquisa. A questão ética assumiu relevância ainda maior no contexto da pandemia em que se observaram o aumento e a velocidade de publicações científicas.
Na seção Entrevista, a integridade científica também é abordada por Sonia Vasconcelos, professora do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis (IBqM) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A pesquisadora comenta sobre os impactos da pandemia nas publicações científicas, desencadeando maior velocidade de publicação, a necessidade de correção de literatura científica e a explosão de preprints e as suas certificações em curto espaço de tempo, o que acabou promovendo mudanças e desafios para o aprimoramento das políticas sobre ética e integridade na comunicação da ciência. Em Nota de Conjuntura, a pesquisadora Vanessa Brasil faz uma análise dos dados da última pesquisa sobre a percepção pública da ciência antes da pandemia e lança questões para as próximas pesquisas pós-pandemia no país, marcado por dinâmicas das pós-verdade e da infodemia que emergiram durante a pandemia.
Na seção Resenha, o autor Raphael Saldanha examina o livro A pesquisa científica na era do Big Data: cinco maneiras que mostram como o Big data prejudica a ciência, e como podemos salvá-la, destacando sobre a privatização de dados públicos e a criação de dados potencialmente fabulosos nos ambientes digitais. Além do envio de trabalhos em períodos específicos para os dossiês temáticos, as submissões de artigos originais à Reciis estão abertas ao longo de todo ano. Os trabalhos publicados por meio de submissão em fluxo contínuo neste número apresentam artigos que tratam de agressões a jornalistas durante o período da covid-19, divulgação científica multidisciplinar, socialidade de pessoas que vivem com HIV/aids, LGBTI+fobia virtual, plataformização do trabalho de entregadores e discursos médicos construídos no Instagram.
Um dos efeitos da crise da modernidade é a crítica à ciência disciplinar e especializada, que se torna distante da sociedade na sua construção. Desde 1980, o debate sobre a democratização da ciência e de seus espaços legitimadores se tornam significativos. Na contemporaneidade, os efeitos da crise da modernidade e da ciência emergem, novamente, nas questões relacionadas à saúde da população, envolvendo, principalmente nos ambientes comunicacionais, desconfianças e suspeitas à segurança de Estado e à verdade científica. Nesse sentido, a Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e Inovação em Saúde (Reciis), editada pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), lança o dossiê Perspectivas multidisciplinares sobre desinformação em ciência e saúde, elegendo o fenômeno da desinformação como resultado de ações sociais e comunicacionais que envolvem a ciência, a saúde e a política na contemporaneidade.
+Acesse aqui o dossiê Perspectivas multidisciplinares sobre desinformação em ciência e saúde
Em editorial, as editoras e o editor convidado, Hully Falcão, Thaiane Oliveira e Ronaldo Araújo propõem que a perspectiva multidisciplinar sobre a desinformação científica contribui para as formas diversas e complexas de análise de um fenômeno relacionado a fatores tecnológicos, econômicos, socioculturais e políticos. Os temas discutidos nos artigos do dossiê tratam sobre fake news, abordadas no artigo de Fernanda Vasques Ferreira, Rafiza Varão, Marco Aurélio Boselli, Leandro Brito Santos e Marcelo Albano Moret; discursos sobre cuidado na pandemia, analisados por Diego Sila e Bianca Ferreira; construção sobre legitimidade e confiança nas instituições modernas, como no artigo de Tainá de Almeida Costa e Eunice Almeida da Silva; combate à desinformação em saúde e ciência abordado no artigo de Vilso Junior Chierentin Santi e Bryan Chrystian Araújo.
O dossiê abre com o artigo de Fabio Reis e Roberto Kant, que discutem as moralidades nas narrativas antivacina e anticientífica por uma abordagem etnográfica nas redes sociais. A coletânea se completa com o trabalho de Arthur Coelho Bezerra, Marco Schneider e Rafael Capurro, os quais se apropriam dos contos de Machado de Assis para debater as práticas desinformacionais, colocadas em comparação com os personagens charlatões dos contos machadianos e as ações de desinformação em saúde evidenciadas na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) em 2021.
Pandemia, cinema e divulgação científica
Na seção Entrevista, o professor de Jornalismo na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, João Figueira, discorre sobre sua trajetória e pesquisa acadêmica no jornalismo. O pesquisador analisa o fenômeno da desinformação no jornalismo, na saúde e na pesquisa científica, áreas que considera importante na promoção de uma vida democrática. Na seção Notas de Conjuntura, Leandro Lage desenvolve uma reflexão ao indagar: “quais regras morais a experiência pandêmica teria alterado no que diz respeito à vulnerabilidade, ao cuidado e à proteção à vida?”; Christovam Barcellos e Diego Ricardo Xavier fazem uma análise de fases, impactos e desafios da pandemia de Covid-19 no Brasil. Na seção Resenhas, Luiz Felipe Fernandes Neves analisa o filme Contágio (Contagion), longa-metragem norte-americano de 2011 (direção de Steven Soderbergh e roteiro de Scott Z. Burns), considerando o potencial do cinema para a divulgação científica ao abordar conceitos, processos e controvérsias da ciência e de que forma o filme, em específico, se configura como um potencial preditivo da ciência em relação a emergências sanitárias.
Além do envio de trabalhos em períodos específicos para os dossiês temáticos, as submissões de artigos originais à Reciis estão abertas ao longo de todo ano. Os trabalhos publicados por meio de submissão em fluxo contínuo neste número apresentam artigos sobre as relações entre comunicação, informação e saúde a partir de temas como: raça, gênero e classe, doenças negligenciadas, mídias sociais, análises bibliométricas e Covid-19.
Já ouviu falar no #MeToo? Em artigo publicado na Reciis, as autoras Lais Rocio, Gabriela Alves e o autor Rafael Paes discutem sobre os bastidores da reportagem que geraram o #MeToo. Para falar mais sobre o assunto, no dia 16/12 (quinta-feira), às 18h, Lais Rocio participará de uma live no perfil da Reciis no Instagram (@reciis_fiocruz).
A live é uma ação que faz parte do projeto ‘Artigos e autores na mídia e nas redes sociais: para uma divulgação científica inovadora e acessível da Reciis’, o qual tem o objetivo de fortalecer as iniciativas de divulgação e popularização da ciência por meio da revista eletrônica do Icict, de modo a ampliar e tornar acessível o alcance do conhecimento científico no país.
A partir da análise do livro 'Ela disse: os bastidores da reportagem que impulsionou o #MeToo', de Jodi Kantor e Megan Twohey, autoras e autor propõem pensar a reportagem jornalística por meio de uma teoria crítica do jornalismo e de uma epistemologia feminista: “O processo da reportagem de encorajar, libertar e empoderar essas mulheres foi transformador, visto que as repórteres as procuravam com cuidado e
sensibilidade, e cada nova vítima que ia a público estimulava que outras se sentissem seguras, conquistando o legítimo direito à denúncia e à quebra de silêncio”.
Acesso Aberto
O artigo sobre o tema: Bastidores da reportagem sobre assédios sexuais que gerou o movimento #MeToo: reflexões sobre o jornalismo com perspectiva de gênero está disponível em acesso aberto. Leia e participe desse bate-papo.
As desigualdades, entre elas a de gêneros, circulam em discursos e representações nas linguagens, nas mídias, redes sociais e plataformas digitais. A mídia expressa controvérsias do imaginário brasileiro em relação às questões feministas. É um espaço de reprodução da violência, mas também de disrupção do silêncio que envolve as dissidências sexuais e de gêneros. No seu segundo número de 2021, a Revista Eletrônica de Comunicação, Informação & Inovação em Saúde (Reciis), editada pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), traz pesquisas científicas sobre modos de viver, curar e adoecer de mulheres na primeira parte do dossiê Feminismos: perspectivas em comunicação e informação em saúde, se constituindo numa coletânea que partilha diferentes formas de silenciamento com a intenção de combatê-lo.
De acordo com o editorial escrito pelas editoras convidadas, Flávia Leiroz e Patrícia D’Abreu, os textos deste número mostram reflexões e práticas de comunicação que entrecruzam as estruturas de raça, classe, gênero e condições sociais brasileiras. Nesse sentido, a autora Ivonete da Silva Lopes discute em nota de conjuntura as contradições entre a estratégia de comunicação adotada no lançamento da vacinação contra a Covid-19 e a ausência da informação sobre gênero e raça/cor nos boletins epidemiológicos divulgados pelos estados e governo federal.
Silêncio e mídia
A discussão sobre o silenciamento midiático e as questões de saúde que envolvem as mulheres tem continuidade no artigo que abre o dossiê Feminismos, comunicação e informação em saúde. As autoras Rayza Sarmento, Paula Dornelas, Maria Ligia Granacim Granado Rodrigues Elias e Amanda Rocha analisam o silenciamento de mães e gestantes como fontes de informação na emergência sanitária da epidemia do Zika vírus, em 2015, e apontam estratégias de resistência a partir de compartilhamento de experiências nas redes sociais. Modos de resistir ao cerceamento midiático entre mulheres também é discutido no trabalho de Simone Santos Oliveira, Sergio Portella e Laura Katona. Autoras e autor partem da noção de “mídia aderente” para dissertar sobre a violação de direitos de populações atingidas – principalmente das mulheres – pelos rompimentos das barragens de minérios dos municípios de Mariana-MG e Brumadinho-MG.
As opressões de raça e gênero que insistem em silenciar mulheres negras, sobretudo nos espaços da política institucional são a tônica do artigo de Carla Baiense e Monique Paulla. As autoras analisam a rede social Instagram da deputada Talíria Petrone para apontar as permanências escravagistas e os riscos de adoecimento e morte de mulheres negras brasileiras. O dossiê termina com o artigo de Lais de Mello Rocio, Rafael Paes Henriques e Gabriela Santos Alves, que articulam epistemologia feminista e teoria crítica do jornalismo na análise dos bastidores da reportagem sobre assédios sexuais que geraram o movimento #MeToo.
Artivismo de gênero
Este número conta também com um ensaio de Paula Gorini Oliveira, a qual narra sua experiência num coletivo feminista de arte e educação, antipunitivista e contra o encarceramento a partir de depoimentos, poesias e entrevistas com mulheres submetidas ao sistema prisional e judiciário. Por meio da comunicação e expressão artística, a narrativa de Paula Gorini ressoa vozes e resistências.
Na seção Entrevista, a professora titular e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Práticas de Consumo da ESPM/SP, Rose de Melo Rocha, discorre sobre sua trajetória intelectual, fruto de um conhecimento encarnado que se espraia nas suas atuações como pesquisadora, professora e cidadã. Rose comenta sobre sua pesquisa recente com foco no que denomina como Artivismo musical de gênero, em que cantoras como Pablo Vittar e Linn da Quebrada são pensadas como protagonistas dissidentes nas disputas audiovisuais, construtoras de audiovisualidades que projetam utopias realizáveis concernentes a gêneros e sexualidades.
Em Resenhas de Livros e Produções Audiovisuais, a edição conta com a resenha de Robson Evangelista dos Santos Filho sobre o livro Representações Midiáticas da Saúde, dos pesquisadores em Saúde Pública, Igor Sacramento e Wilson Borges. O número traz ainda artigos originais em fluxo contínuo que abordam temas como evolução de sífilis em gestantes, experiências de saúde de mulheres, relações entre internet e saúde mental e liderança, informação e ciência relacionadas à pandemia de Covid-19
A imagem de capa deste número é uma produção de Paulo Castiglioni Lara e faz parte do documentário Minha vida é no meio do mundo. Em coprodução com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o filme retrata a construção de um movimento de mulheres agricultoras do Polo da Borborema, Agreste da Paraíba. O documentário está em acesso aberto no link: https://www.youtube.com/watch?v=NqWWCyuqbZE