O Sextas de hoje homenageia Jards Macalé, artista da música brasileira que faleceu nesta semana, em 17 de novembro. Em "Mal Secreto", composição sua em parceria com Waly Salomão, falam sobre um personagem que demonstra frieza e autocontrole, mas que, na verdade, enfrenta uma intensa luta interna reprimindo suas emoções. Esse comportamento também refletia o contexto da ditadura militar vivida no país, quando expressar sentimentos ou opiniões podia ser perigoso. O "mal secreto" representa essa dor íntima e silenciosa, que só encontra saída na arte: “Jogo num verso, intitulado o mal secreto”.
Jards Anet da Silva ou Jards Macalé tem uma vasta obra, repleta de parcerias. Moderno, irreverente, inquieto e sedutor, o músico é um dos artistas mais genuínos que a música brasileira já produziu.
A vida de músico profissional não era suficiente para seus múltiplos talentos, para sua inquietude artística. Por conta disso sempre teve um canal aberto para as diferentes formas de arte. Do amigo Helio Oiticica, ganhou o penetrável “Macaléia”; Nelson Pereira dos Santos o transformou em ator em “Amuleto de Ogum”, e Jards ainda fez a esmerada trilha sonora do filme; já o poeta Waly Salomão tornou-se seu grande parceiro em obras-primas como “Vapor barato”, “Mal secreto” e “Anjo Exterminado”. Outros parceiros como Capinam (“Movimento dos barcos”), Torquato Neto (“Let’s play that”) e Duda Machado (“Hotel das estrelas”) reforçam a versatilidade do compositor.
A obra de Jards Macalé, além das suas originalíssimas interpretações, ganhou cores nas vozes de uma infinidade de artistas como Nara Leão, Elizeth Cardoso, Maria Bethânia, Gal Costa, Adriana Calcanhoto, Frejat, Luiz Melodia e outros.
Jards também teve sua vida e obra retratadas nos filmes “Jards Macalé - Um morcego na porta principal”, de João Pimentel e Marco Abujamra, de 2008, e “Jards”, de Eryk Rocha, de 2012, ambos premiados no Festival do Rio, além do curta “Tira os óculos e recolhe o homem”, de André Sampaio.
*Com informações de jardsmacale.com.br