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Publicado em 29/08/2025
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Pesquisadora visitante na Universidade de Stanford (EUA): Cristiani Machado comenta expectativas

Autor(a): 
Bruna Abinara (Ensp)

A ex-vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, e pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), Cristiani Vieira Machado foi selecionada para atuar como pesquisadora visitante no Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences (CASBS), da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Reconhecido como um dos mais prestigiados espaços de pesquisa interdisciplinar do mundo, o CASBS reúne pensadores de diversos campos e comunidades para ampliar a compreensão sobre todo o espectro das crenças, comportamentos, interações e instituições humanas. Cristiani integrará esse grupo de estudiosos durante um ano acadêmico nos EUA, de setembro de 2025 a maio de 2026. Confira o que Cristiani falou sobre suas expectativas para o trabalho que desenvolverá na universidade americana.

A pesquisadora contou que pôde visitar a Universidade de Stanford em abril de 2024. Na ocasião, participou de um painel onde falou sobre os desafios contemporâneos para a educação voltada às ciências da saúde e ao SUS, a partir da experiência da Fiocruz. “Durante essa visita, fiquei muito impressionada com a Universidade: o dinamismo do campus, a infraestrutura, as bibliotecas. Depois tomei conhecimento sobre esse Centro de Estudos Avançados, que tem caráter bem interdisciplinar, reunindo pesquisadores de vários países de campos variados, como Sociologia, Ciência Política, História, Economia, entre outros. Esse ano apresentei uma proposta e fui aceita como Pesquisadora Visitante”, compartilhou.

Durante sua temporada na universidade, ela vai desenvolver uma pesquisa para analisar as relações entre governança global em saúde e mudanças nas políticas e sistemas de saúde em países selecionados da América Latina, principalmente Brasil, México e Argentina, de 2010 a 2025. O objetivo é explorar as agendas e políticas voltadas aos sistemas de saúde ao longo do período e em diferentes contextos para trazer novos conhecimentos e contribuições teóricas. “Nesse cenário geopolítico tão complexo, os resultados podem contribuir para políticas voltadas ao fortalecimento da capacidade do Estado brasileiro no cenário internacional e na implementação de políticas, visando à soberania no campo da saúde, à redução das desigualdades e à garantia da saúde como direito de cidadania”, apontou.  

Ao longo dos últimos 12 anos, Cristiani atuou como professora e pesquisadora, assim como em cargos de gestão institucional na coordenação de ensino do Departamento de Administração e Planejamento em Saúde (Daps), na coordenação de área de concentração e depois coordenação geral do Programa de Saúde Pública da Ensp, e ainda esteve como vice-Presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz por mais de seis anos. “Aprendi muito, e foi muito intenso, passamos por períodos difíceis e pela pandemia de Covid-19. Penso que essa estadia em Stanford será um momento importante de imersão nos estudos, de reflexão crítica e de interação com pesquisadores de outros campos e países, em um ambiente interdisciplinar, o que é tão crucial para quem faz pesquisa em Saúde Coletiva e para dar respostas aos desafios que enfrentamos no Brasil, na ciência e na saúde”, ponderou.

Para além do conhecimento relacionado à pesquisa, a professora destacou a oportunidade de “aprender com os estudos dos outros colegas que estarão no Centro como ‘fellows’ ou pesquisadores visitantes (serão cerca de 35) e interagir com professores da Universidade de Stanford”. Segundo a Cristiani, é importante aproveitar a experiência também para compreender a forma de funcionamento da instituição, a dinâmica acadêmica, os processos pedagógicos e as perspectivas sobre ciência. “Isso tudo é aprendizado, que pode reverter positivamente para a minha atuação como pesquisadora, professora, na cooperação técnica e eventualmente na gestão, trazendo contribuições para a Ensp e a Fiocruz, bem como para o cumprimento de nosso compromisso institucional com a ciência e o SUS”, declarou.

Para ela, compreender as interações entre condicionantes internacionais e nacionais das políticas, as similaridades e diferenças entre os países é crucial para o fortalecimento do SUS. “Não é possível fortalecer a atuação internacional da Escola sem ter uma linha forte de pesquisas em Saúde Global e sobre políticas e sistemas de saúde em perspectiva comparada. Isso é crucial para o posicionamento estratégico da Ensp e da Fiocruz no cenário mundial, bem como para que tenhamos mais conhecimento sobre os sistemas de saúde dos países com os quais cooperamos, de forma a estabelecer parcerias técnico-científicas de forma horizontal, consistente, duradoura e solidária. Não dá para cooperar sem conhecer o outro”, afirmou. Considerando que a Ensp já atua junto a redes internacionais de Escolas de Saúde Pública e recentemente foi reconhecida pela Opas como Centro Colaborador para formação de profissionais para os sistemas de saúde na região das Américas, o projeto de Cristiani e toda a experiência profissional na universidade americana podem contribuir para fortalecer ainda mais a articulação e cooperação da Ensp com outros países.

“A Fiocruz é um ator importante na saúde global, com forte atuação em pesquisa, educação e cooperação técnica internacional. A Ensp/Fiocruz tem uma longa tradição no desenvolvimento de estudos e análises em sistemas de saúde em perspectiva comparada e em saúde global”, avaliou. Como pioneiros nessa linha de pesquisa, a pesquisadora citou Paulo Buss, Celia Almeida, Ligia Giovanella, entre outros pesquisadores e estudantes da instituição que se dedicam à temática hoje. “Eu atuo há mais de 25 anos em investigação sobre políticas e sistemas de saúde no Brasil, coordenando um grupo de pesquisa junto com Luciana Lima intitulado ‘Estado, Proteção Social e Políticas de Saúde’. Há cerca de 15 anos comecei a me dedicar a estudos comparados, especialmente com outros países da América Latina, mas temos também buscado expandir as pesquisas sobre África (em especial a partir de nossa cooperação com Moçambique) e os Brics (projeto atualmente coordenado por Adelyne Pereira)”, comentou. Segundo a professora, é impossível compreender os desafios que o Brasil precisa enfrentar sem considerar as mudanças geopolíticas mundiais e os dilemas que se apresentam para os países do Sul Global. Por isso, é necessário aprofundar a análise de políticas de saúde em múltiplas escalas, do global ao local.

Para além da dimensão da pesquisa, Cristiani ministra, há aproximadamente 10 anos, a disciplina de Análise de Políticas e Sistemas de Saúde em perspectiva comparada com outras colegas da Ensp, como Ligia Giovanella, Isabela Santos e Adelyne Pereira. Assim, considerou que os conhecimentos trazidos pelo projeto que vai desenvolver em Stanford “serão incorporados nessa e em outras disciplinas e cursos, bem como na orientação de estudantes de pós-graduação dessa linha”.

A ex-vice-Presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz ponderou sobre os desafios que a temporada em outro país pode trazer: “sei que sentirei falta da família, das amigas e das minhas atividades aqui na Fiocruz”. Porém, reforçou que a oportunidade de ter mais tempo de dedicação aos estudos e ao projeto, assim como de poder interagir com pesquisadores de perfis, países, campos e temas variados, mantêm suas expectativas elevadas. Ela explicou que o Centro tem tradição de análises e produção sobre temas cruciais como democracia, regimes políticos, políticas públicas, mudanças nas organizações e metodologia qualitativa em pesquisa. Como exemplo, citou um projeto sobre transformações na “sociedade do cuidado”. “Estou com expectativa de mergulhar nessas questões, estudar, interagir e aprender”, contou.    

+ Saiba mais na página do Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences, da Universidade de Stanford