Descrição: O ofidismo é o estudo do envenenamento em humanos decorrente da inoculação de toxinas, produzidas em glândulas de veneno, por meio de presas de serpentes, consideradas animais peçonhentos. Os acidentes ofídicos encontram-se na lista de doenças tropicais negligenciadas (DTN) divulgada pela Organização Mundial de Saúde (OMS/WHO), especialmente em países emergentes. Claramente, observa-se que o conhecimento e as informações dos aspectos biológicos, biotecnológicos, históricos, clínicos, terapêuticos e epidemiológicos dos acidentes ofídicos e constituintes do veneno são imprescindíveis para o desenvolvimento de políticas públicas, com vistas à redução do número de casos, estratégias de promoção da saúde, treinamento dos profissionais de saúde, e busca de novos fármacos prospectados de venenos. Desta forma, as propostas de ações educativas contínuas na saúde, boletins técnicos instrutivos/educativos à sociedade, difusão de medidas preventivas e subsídios para o planejamento na gestão hospitalar se tornam ações e atividades amplamente desejáveis. Portanto, este estudo tem como objetivo elaborar uma proposta de curso de capacitação de curta duração direcionado à sociedade e aos profissionais e acadêmicos de saúde, consolidando o conhecimento técnico-científico acerca do ofidismo, da biotecnologia de venenos animais e da venômica, ressaltando-se os aspectos da clínica-médica, vigilância em saúde e biotecnologia aplicada à saúde. Sabendo que treinamentos quanto ao ofidismo e venômica não são rotineiros e não estão ao acesso de todos, cursos de capacitação em ambiente remoto são uma alternativa para a compreensão de posturas e condutas adotadas nesta nova realidade e fonte de disseminação do conhecimento. Neste sentido, as lições potencialmente aprendidas, neste curso, podem se tornar uma importante ferramenta no aprimoramento da prática profissional em Saúde e na popularização da Ciência, possibilitando uma visão mais ampla e fundamentada do ofidismo e da venômica, bem como entender melhor o contexto médico-científico e o atendimento do paciente/vítima. Além de reforçar a necessidade de que a educação em saúde para a população deve abordar não somente a prevenção e primeiros socorros, como também a importância de observar as características do animal e sua preservação ecológica.
Objetivo Geral: Visa a formação e a qualificação de recursos humanos para o aprimoramento Científico, Tecnológico e Inovador na área de Toxinologia, tanto na pesquisa, extensão quanto no ensino e na comunicação/divulgação, agregando as diferentes áreas multidisciplinares e transversais de atuação em Biotecnologia, Bioeconomia, Imunologia, Fisiopatologia, Proteômica, Genômica, Biologia Molecular, Bioquímica, Toxicologia, Biologia Estrutural, Epidemiologia, Clínica, Diagnóstico e Terapêutica dos Envenenamentos e/ou Intoxicações, além das aplicações tecnológicas das toxinas animais na Saúde. Habilidades e Competências: 1- Adquirir e/ou aprimorar conhecimentos teóricos e/ou práticos em Toxinologia e Biotecnologia aplicadas à Saúde. 2- Identificar ambientes de riscos no desenvolvimento de atividades laborais associadas ao tema. 3- Refletir sobre a importância da C&T em sua formação e/ou aprimoramento profissional por meio de evidências. 4- Entender a responsabilidade de ser e/ou se tornar um profissional melhor capacitado para servir a sociedade. 5- Compartilhar do alinhamento com a nobre Missão da Ciência como agente transformador positivo da sociedade. 6- Sensibilizar-se com a popularização e divulgação científica por meio de Evidências.
Justificativa: Os acidentes por animais peçonhentos são um problema de saúde em nível mundial. Em especial, o ofidismo é considerado um agravo de saúde comum para as populações das áreas rurais, florestais, ribeirinhas e indígenas da região Norte e Amazônia Legal, pois muitos casos ocorrem em lugares isolados e distantes (PIERINI et al., 1996; WALDEZ; VOGT, 2009; MOTA-DA-SILVA et al., 2019b; MOTA-DA-SILVA et al., 2020; SBMT, 2022). Os fatores como região anatômica atingida, peso e idade do paciente, tempo decorrido entre o acidente e a soroterapia, qualidade da assistência, e biológicos da serpente são considerados relevantes para a gravidade do acidente ofídico (FRANÇA; MÁLAQUE, 2009; ROODT et al., 2016; CORBIT; HAYES, 2016; HAYES et al., 2017). Desta forma, constata-se que os acidentes por serpentes são problemas de saúde pública e representam riscos ocupacionais para trabalhadores que atuam nas atividades de caça, pesca, agropecuária e extrativismo (BERNARDE; GOMES, 2012; MOTA-DA-SILVA et al., 2019a). Existe uma necessidade de oferta de cursos de capacitação de curta duração aos profissionais de saúde e à sociedade sobre o ofidismo. A literatura científica demonstra diversos estudos sobre as características biológicas, biotecnológicas, clínicas, terapêuticas, diagnósticas e epidemiológicas das serpentes, seus constituintes bioativos nos venenos e dos acidentes ofídicos, no entanto, os conhecimentos repassados em cursos de capacitação que podem aprimorar o atendimento das vítimas assim como prevenir os acidentes ou situações de agravos são escassos. Por exemplo, a presença das perfurações das presas na pele da vítima e o tempo de coagulação sanguínea podem ser informações importantes para profissionais de saúde estimarem o tamanho do animal e a gravidade clínica do caso (HAYES et al., 2017). O diagnóstico do envenenamento sistêmico em muitas localidades rurais, com deficiências de infraestrutura adequada, como por exemplo, laboratórios estruturados e profissionais devidamente qualificados, o simples teste de coagulação sanguínea em 20 minutos, conhecido como teste WBCT20, o qual poderia ser implantado como um método simples para auxiliar neste diagnóstico do envenenamento ofídico, ainda se torna um desafio para a saúde pública local (GAUS et al., 2013). Apesar de ser recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS/WHO, 2010), esse teste ainda é pouco utilizado como método padrão nos hospitais para determinar a presença de coagulopatia. Porém, estudos recentes demonstram que o método possui sensibilidade satisfatória para detectar a alteração da coagulação sanguínea em acidentes ofídicos com hemotoxicidade (GAUS et al., 2013; BENJAMIN et al., 2018; RAJESWARI; SUNEETHA, 2019; THONGTONYONG; CHINTHAMMITR, 2020). Os mitos e lendas culturais a respeito da assistência às vítimas de ofidismo ainda são frequentes e despertam grande interesse humano. De fato, receitas, crenças e a Medicina tradicional sempre existiram e ainda predominam no tratamento do ofidismo em muitos locais pelo Brasil. Isso ocorre principalmente devido ao público mais atingido por esse tipo de envenenamento ser composto por trabalhadores rurais, agricultores, indígenas, pescadores, seringueiros, extrativistas e indivíduos com limitado acesso à educação e cuidados em saúde (SCHNEIDER et al., 2021). Por outro lado, muitos profissionais e acadêmicos da saúde também demonstram desconhecimento de condutas no atendimento às vítimas de ofidismo e/ou não recebem informações durante a formação profissional da graduação. Portanto, visando a melhoria desse cenário, será que a capacitação ofertada a partir de um curso de curta duração (CCCD) poderá auxiliar os profissionais e acadêmicos da saúde na informação técnica-científica e conduta correta, com base em pesquisas desenvolvidas e cientificamente validadas e divulgadas. Assim como, a popularização e divulgação científica do tema junto à sociedade poderá auxiliar na prevenção de acidentes e na sustentabilidade do meio ambiente.
Capacitar profissionais de Saúde e áreas afins, Acadêmicos e Educadores aprimorando o conhecimento técnico-científico acerca dos animais peçonhentos, ofidismo, soroterapia, diagnóstico, função dos venenos e mecanismo de ação das toxinas, ressaltando-se os aspectos da clínica-médica, vigilância em saúde e biotecnológicos.