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Publicado em 10/05/2019
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Apoio aos pós-graduandos: CAD e APG-Fiocruz promovem debate sobre saúde mental e assistência estudantil

Autor(a): 
Ana Carla Longo* e Valentina Leite (Campus Virtual Fiocruz)

A pós-graduação é um período tão estimulante e produtivo quanto desafiador para os estudantes. No dia a dia, é preciso lidar com diversos tipos de pressão: dificuldades para cumprir prazos, objetivos e entregar trabalhos; relações difíceis ou competitivas com os orientadores e pares, assédio; falta de compreensão da família e amigos, entre outras. Estes fatores podem desencadear ansiedade, depressão, provocar isolamento social — enfim, podem desencadear uma série de efeitos na saúde dos pós-graduandos. Para discutir Assistência estudantil e saúde mental na pós-graduação, o Centro de Apoio ao Discente (CAD) e a Associação de Pós-Graduandos da Fiocruz (APG/Fiocruz) promoveram um um debate na última segunda-feira, dia 6 de maio.

Na abertura do evento, a Vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação, Cristiani Machado enfatizou a preocupação em criar, cada vez mais, estratégias para que a instituição não seja um ambiente potencializador de problemas de saúde mental. "Estamos bastante atentos e mobilizados neste sentido. O contexto da pós-graduação define bastante a vida profissional e pessoal, principalmente de jovens pesquisadores", pontuou. Cristiani destacou a importância de iniciativas de assistência estudantil, não só em quesitos práticos como infraestrutura, mas também a níveis de acolhimento psicológico e afetivo.

Representando a APG-Fiocruz, Mayara de Mattos chamou a atenção para condições como ansiedade e depressão, muito comuns entre os estudantes. "Uma pesquisa recente sobre o perfil dos discentes da Fiocruz detectou uma grande quantidade de pós-graduandos ansiosos. A relação com o orientador, as demandas de trabalho, situções de assédio: tudo isso colabora para esse cenário".

E como facilitar o caminho dos alunos neste momento? Este foi o ponto destacado pela coordenadora do CAD, Márcia Silveira. Para ela, é fundamental dialogar com os alunos e construir, coletivamente, uma Fiocruz que acolha sempre mais. Ela cumprimentou a coordenadora geral de Educação da Fiocruz, Cristina Guilam, e a coordenadora adjunta, Eduarda Cesse, que participaram do evento.

Precisamos falar sobre saúde mental

Depois da abertura, foi a vez de receber convidados para debater o tema. O primeiro a trazer questões foi o psicólogo e pesquisador Robson Cruz, que concluiu seu pós-doutorado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Segundo Robson, seu interesse pelo assunto da assistência estudantil e saúde mental na pós-graduação teve origem em sua própria vivência. 

Entre as situações relacionadas à vida acadêmica, ele destacou as dificuldades com a escrita. “Conforme você avança na vida acadêmica, o sofrimento com a escrita não diminui, na verdade, pode até aumentar. O pesquisador é cobrado para que produza e apresente conteúdo escrito quase diariamente. Quando isso não acontece, ele se autossabota. Pensa: 'Eu não sou bom o suficiente' e coisas do gênero". 

Robson lembrou que o sofrimento na vida acadêmica é um fenômeno mundial. "É preocupante observar que o pesquisador não é reconhecido como trabalhador. Se você faz pesquisa no Brasil, isso não é levado tão a sério como deveria... O ambiente acadêmico também é, de certa forma, laboral", disse.

O segundo debatedor foi o doutorando em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Diego Nicolás Ferrari. Ele contextualizou o tema, inciando pela exposição de marcos históricos da América Latina na área da educação, como a Reforma de Córdoba. Depois, comentou a atual situação política do Brasil. "O cenário que vivemos contribui negativamente para a saúde mental dos pós-graduandos. Com os cortes orçamentários, a redução de direitos, a precarização do ensino, o esvaziamento das instituições, estamos perdendo muito do que foi conquistado nas lutas estudantis".

Segundo ele, para transformar esta realidade de forma concreta, é preciso encarar o diagnóstico. "Estamos inseridos num contexto em que o nosso trabalho, como pesquisadores, é programado para nos adoecer. Temos que identificar nossas necessidades para podermos agir”, afirmou.

O pós-graduando é o trabalhador da ciência

Os alunos e demais participantes enriqueceram o debate, relatando experiências pessoais e dificuldades. Samuel Horita, aluno de doutorado do Insituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), falou sobre casos de assédio moral que sofreu na instituição. "Precisamos nos proteger e enaltecer nosso papel. Penso que nenhum pós-graduando deve deixar que o orientador ou qualquer outra pessoa diminua seu trabalho. Pelo contrário, somos profissionais capazes, por isso merecemos respeito e reconhecimento", comentou. 

A pesquisadora Ângela Escher, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), fez um apelo: "Aqui na Fiocruz reunimos os maiores pensadores do país (e muitos do mundo). Mesmo assim, ainda não conseguimos solucionar questões ligadas à saúde mental e às necessidades dos alunos", afirmou. Ela compartilhou a história de seu filho, que foi diagnosticado com TDAH, e precisou de cuidados durante a prova do Enem.

Sobre o Centro de Apoio ao Discente (CAD)

O CAD-Fiocruz acompanha os alunos durante sua estada na instituição, favorecendo a integração e buscando equacionar situações individuais e coletivas que influenciem possam  influenciar o bem-estar, o desempenho acadêmico e o desenvolvimento profissional dos estudantes. É um espaço de escuta psicossocial, que oferece atendimento inicial e encaminha as demandas dos discentes, sejam de cunho institucional ou particular.

Se precisar de apoio, escreva para cad@fiocruz.br ou ligue para (21) 3882-9066.

 

*Estagiária supervisionada.