Brasil tem alta de casos de dengue, zika e chikungunya

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Publicação : 13 DE JUNHO DE 2022

Autor(es) : Isabela Schincariol Domingues

Brasil tem alta de casos de dengue, zika e chikungunya Esse grande aumento do número de casos já configura um surto da doença em todo o território nacional, e pode estar relacionado à redução de medidas e ações de prevenção para o controle da doença durante a pandemia de Covid-19, aliada a condições favoráveis do clima, como chuvas intensas e prolongadas e o calor, além de locais com maior vulnerabilidade das habitações nas cidades, especialmente em áreas empobrecidas.

Por Informe Ensp

Segundo o InfoDengue Fiocruz, desde janeiro, o Brasil registrou mais de 700 mil casos de dengue, superando o total do ano passado (2021). Para a pesquisadora Andrea Sobral, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), o grande aumento do número de casos de dengue já configura um surto da doença em todo o território nacional. Ela, que desenvolve pesquisas na área da epidemiologia e controle das arboviroses (dengue, zika, chikungunya e febre amarela), revela que, além da preocupação com a dengue, tanto a zika como a chikungunya já estão circulando em território nacional - a ponto de, até a semana epidemiológica 18, o país registrar aumento de cerca de 70% dos casos de chikungunya em relação ao ano anterior e de aproximadamente 200% para zika. Em entrevista ao Informe ENSP, Andrea, que também é coordenadora Acadêmica do Programa VigiFronteiras-Brasil, falou sobre os motivos para o atual surto, a influência da pandemia de Covid-19 na notificação e nas ações de prevenção e controle, além das ações para redução do número de casos da dengue e outras arboviroses. 

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Segundo o InfoDengue Fiocruz, desde janeiro, o Brasil registrou mais de 700 mil casos de dengue, superando o total do ano passado. No seu ponto de vista, quais são as principais causas para o aumento dos casos?

Andrea Sobral: O aumento no número de casos de dengue pode estar relacionado à redução de medidas/ações de prevenção para o controle da doença durante a pandemia de Covid-19, aliada às condições favoráveis do clima, como chuvas intensas e prolongadas e o calor, além de locais com maior vulnerabilidade das habitações nas cidades, especialmente em áreas empobrecidas. Nesse último aspecto, é fundamental o investimento em infraestrutura e saneamento básico, buscando que a população tenha acesso adequado ao abastecimento de água, à coleta regular de lixo, drenagem de águas pluviais e esgotamento sanitário. Ressalto ainda que os sistemas de vigilância da dengue foram muito prejudicados durante esses últimos dois anos de pandemia. Houve relevante aumento de casos da doença em novembro, que coincidiu com o aumento das chuvas em algumas regiões do país. Todos esses aspectos favorecem a transmissão da dengue.

É possível afirmar que o país vive um surto?

Andrea Sobral: Sim, os registros de casos notificados até a semana epidemiológica 18 (entre janeiro 2022 e início de maio 2022) apontam surtos da doença no território nacional. Até a semana passada, ocorreram 757.068 casos prováveis de dengue (taxa de incidência de 354,9 casos por 100 mil hab.) no Brasil. A região mais afetada foi a do Centro-Oeste, com taxa de incidência de dengue de 1.171 casos/100 mil hab., seguida das regiões Sul (635,6 casos/100 mil hab.), Sudeste (277,7 casos/100 mil hab.), Norte (176,1 casos/100 mil hab.) e Nordeste (149,1 casos/100 mil hab.). Como já apontado pelo InfoDengue (sistema de monitoramento de arboviroses desenvolvido por pesquisadores da Fiocruz - Fundação Oswaldo Cruz) e pela Fundação Getúlio Vargas, tem-se observado que a doença vem surgindo e se espalhando em áreas onde não havia registro, em especial nas cidades da região Sul do país. Espera-se que, com a chegada de temperaturas mais baixas nas regiões Sul, Sudeste e parte do Centro-Oeste, os registros da doença entrem em declínio agora na segunda quinzena de maio.

De que forma a pandemia de Covid-19 pode estar relacionada ao aumento de casos?

Por conta das limitações de medidas de combate ao mosquito causadas pela pandemia, os sistemas de vigilância da dengue foram muito prejudicados nesses últimos dois anos. Esse período atrapalhou as vistorias periódicas nos domicílios, realizadas pelos agentes de saúde em todo o país. Além disso, os municípios ficaram com suas equipes de vigilância bem precarizadas e efetivamente cansadas por toda a demanda durante esse período.

Há possibilidade da circulação de outras arboviroses como a zika e chikungunya?

Na verdade, já há circulação não só da zika, como também da chikungunya. Até a semana 18, foram registrados 70.092 casos prováveis de chikungunya no país e quase 6 mil casos de zika. Isso corresponde ao aumento de cerca de 70% dos casos em relação ao ano anterior para chikungunya e aumento de aproximadamente 200% para zika. A região Nordeste apresentou a maior incidência de chikungunya (97,6 casos/100 mil hab.) e, até a semana 18, foram confirmados 14 óbitos (há outros sob investigação da doença). Já para zika, não houve registros de óbito, de acordo com o último boletim epidemiológico da SVS/MS.

Quais devem ser as principais ações para reduzir o número de casos da doença?

Intensificar as ações de prevenção de responsabilidade do poder público que envolvam a eliminação dos criadouros do mosquito, com atuação importante das equipes de endemias/vigilância de campo dos municípios monitorando os domicílios, e também campanhas que mobilizem a população a revisar, de forma periódica, suas casas/domicílio (medidas que apontem a necessidade de evitar acúmulo de lixo e água parada que contribuem para a proliferação do mosquito). A lógica é reduzir focos para reduzir o número de casos da doença. Além disso, é necessário reforçar os serviços públicos de saúde a fim de conseguir acolher os pacientes com complicações da dengue.

Foto: Divulgação VigiFronteiras-Brasil

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