Para orientar e informar os cuidadores de idosos no contexto da pandemia da Covid-19, a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) lançou nesse mês três novas cartilhas de apoio para esses profissionais. As publicações abordam os temas: luto e solidão, atividades físicas e direitos das pessoas cuidadoras de idosos, e integram o projeto Cuidando de quem cuida, vinculado ao programa Inova Fiocruz, que reúne, ao todo, seis vídeo-aulas e seis cartilhas sobre o assunto. “Tudo foi elaborado em linguagem simples e acessível, algumas com ilustrações, voltado tanto para as pessoas cuidadoras de idosos que são da família, como também as contratadas que atuam de forma remunerada”, ressalta o professor-pesquisador da EPSJV Daniel Groisman, coordenador do projeto e um dos responsáveis pela elaboração do material.
Além de Groisman e de outros pesquisadores da Fiocruz, as cartilhas foram elaboradas com apoio de especialistas convidados da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e da Associação dos Cuidadores do Estado do Rio de Janeiro (Acierj).
Segundo Groisman, ainda que a vacinação no país tenha sido iniciada em janeiro de 2021, a pandemia ainda deve se manter por algum tempo, dada as dificuldades e o tempo necessário para se imunizar a população brasileira. "A importância desse material se justifica porque nele discutimos questões que se fazem presentes tanto durante a pandemia quanto nos desafios do cuidado no pós-pandemia”, aponta.
Direito das pessoas cuidadoras
Informações sobre os principais direitos das pessoas cuidadoras de idosos durante a pandemia de Covid-19 e como fazer para acessá-los estão reunidas na cartilha Diretos das pessoas cuidadoras de idosos na pandemia de Covid-19. Segundo a publicação, os direitos das pessoas idosas são garantidos por legislações específicas, como a Constituição Federal e o Estatuto do Idoso. “Mas e quanto à pessoa que cuida? Quais são seus direitos?”, questiona a cartilha.
Dentre os principais direitos das pessoas cuidadoras remuneradas e familiares, o documento destaca os direitos à saúde, assistência social, previdência social e justiça. De acordo com Groisman, os direitos estão dispersos em diferentes políticas, setores e portarias e, no material, estão reunidos de maneira fácil. “Ainda que a gente não tenha no Brasil um direito ao cuidado, a exemplo de outros países que têm políticas de cuidado mais avançadas, existem direitos sociais que podem ser acessados pelas pessoas cuidadoras e é importante informar esse público sobre isso”, afirma.
Promoção da saúde física das pessoas idosas
As restrições causadas pelo necessário isolamento social impactaram no nível de atividade física das pessoas idosas, podendo trazer consequências para a sua saúde e para a sua funcionalidade. Pensando nisso, a cartilha Como estimular a pessoa idosa a continuar fisicamente ativa durante a pandemia de Covid-19? foi elaborada com o objetivo de passar orientações gerais para as pessoas cuidadoras sobre a questão das atividades físicas para os idosos. “Nesse cenário pandêmico, tivemos uma diminuição das atividades sociais, das saídas de muitas pessoas idosas, que ficaram dentro de suas casas. Isso traz impactos para a capacidade física ou funcional. A ideia é promover uma rotina mais ativa e de estimulação da funcionalidade e da saúde física”, alerta Groisman.
Como lidar com a solidão e o luto durante a pandemia
A cartilha Como lidar com a solidão e o luto durante a pandemia de Covid-19? foi criada com o propósito de auxiliar aos cuidadores de pessoas idosas a lidarem com a solidão e com sentimentos ligados à morte de parentes, amigos e pessoas com quem mantinham relações de cuidado, sobretudo idosos, ocorridas na pandemia. Groisman destaca que, a princípio, esse tema não seria abordado em uma cartilha, mas que o fato foi reconsiderado tendo em vista o enorme índice de mortes, em sua maioria, de idosos. “A gente achou que era muito importante dar algum acolhimento a essas famílias e demais pessoas cuidadoras que sofreram perdas nesse período. Como o nosso projeto se propõe a olhar para quem cuida, a gente também tem que olhar para quem estava cuidando e perdeu uma pessoa querida nessa pandemia, que vitimou tantas pessoas da população brasileira”, ressalta.
O aumento dos números de casos e mortes causados pela Covid-19 colocou em debate a realização da maior prova de avaliação educacional brasileira, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), com cerca de 5,8 milhões de participantes. Em meio a muitas dúvidas e insegurança de alunos inscritos, seus familiares e até mesmo de alguns governantes, o Ministério da Educação confirmou a realização das provas nos dias 17 e 24 de janeiro. Para além disso, o início do novo ano traz também as questões da volta às aulas. Para nortear decisões de gestores e auxiliar no esclarecimento de dúvidas, a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) acaba de lançar a 2° edição do Manual sobre biossegurança para reabertura de escolas no contexto da Covid-19.
O documento, elaborado com o apoio institucional da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), traz normas e diretrizes, cujo objetivo é orientar sobre a retomada das atividades presenciais e contribuir para a tomada de decisão pelos gestores e comunidade escolar. Sua proposta é disponibilizar informações facilmente acessíveis para escolas públicas, destacando a comunicação sobre os mecanismos de transmissão da Covid-19 e a implementação de boas práticas que possam contribuir para a promoção da saúde e a prevenção dessa doença nas escolas.
O novo manual é uma atualização da 1° edição – publicada em julho de 2020. Além de atualizar temas já tratados, aborda aspectos não contemplados, ou parcialmente contemplados, na primeira obra. De acordo com a apresentação do material, na publicação do documento original, seus autores se comprometeram a “elaborar edições periódicas com a revisão e atualização científica sobre a Covid-19 e os desafios que ela impõe à reabertura de escolas”.
Confira os novos temas trazidos pela 2° edição do Manual sobre biossegurança para reabertura de escolas no contexto da Covid-19:
Estão abertas as inscrições para as disciplinas de verão o Programa de Pós-graduação em Educação Profissional em Saúde da Escola Politécnica em Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV). São duas as oportunidade: "Modernização, Cultura e Desigualdade no Brasil" e "O futuro do capitalismo e a saúde da população: leituras sobre crise, austeridade e mortalidade". O público-alvo das disciplinas são alunos de pós-graduação Stricto sensu da Fiocruz e de outras instituições, assim como outros alunos graduados. As inscrições vão até o dia 4 de janeiro de 2021.
Modernização, Cultura e Desigualdade no Brasil
A disciplina Modernização, Cultura e Desigualdade no Brasil é oferecida de forma concentrada, com 30h de carga horária, e será realizada no período de férias (janeiro/fevereiro). O curso abordará questões relativas à cultura, arte e sociedade no Brasil tal como se apresentam nos séculos XX e XXI, analisando, a partir dos conceitos de modernização, arcaísmo e desigualdade social, os movimentos artísticos e seus contextos sociopolíticos.
Seu objetivo é proporcionar elementos para uma análise crítica dos fenômenos culturais nos campos da educação e da saúde.
O futuro do capitalismo e a saúde da população: leituras sobre crise, austeridade e mortalidade
A disciplina O futuro do capitalismo e a saúde da população: leituras sobre crise, austeridade e mortalidade é oferecida de forma concentrada, com 30h de carga horária, e será realizada no período de férias (janeiro). O curso, que se insere no contexto de atividade do grupo de pesquisas “Demografia, Saúde e Sociedade” (Demos), apresentará uma contextualização sobre a crise econômica, medidas de austeridade fiscal e diferenciais de mortalidade na população.
Seu objetivo é discutir a mudança no padrão de mortalidade no contexto da crise econômica e das medidas austeras de enfrentamento da crise, lançando luz sobre as forças sociais e econômicas que explicam esta mudança, bem como avaliar a evidência do impacto da austeridade na saúde, por meio dos mecanismos de efeito social e efeito de saúde; e os indicadores de mortes por desespero e seus diferenciais sociodemográficos no contexto das crises econômicas.
Técnicos de enfermagem, de análises clínicas e radiologia; agentes comunitários e indígenas de saúde: esses são apenas alguns exemplos dos trabalhadores técnicos que têm feito uma grande diferença no enfrentamento da pandemia de novo coronavírus no Brasil. Pouca gente conhece, no entanto, o segmento educacional que forma esses e muitos outros trabalhadores não apenas no campo da saúde. Por isso, a edição especial da Revista Poli - publicação da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) - traz uma série de reportagens que conta a história da Educação Profissional no Brasil do início do século 20, quando foram criadas as escolas que deram origem à atual Rede de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, até os dias atuais, passando pela industrialização da Era Vargas e pelos anos de chumbo da ditadura.
Como a relevância desses trabalhadores e da sua formação é uma realidade muito anterior à Covid-19, a revista traz o perfil de um personagem real que, mesmo sem ter tido acesso à formação profissional, é reconhecido como o braço direito de alguns dos maiores cientistas da Fundação Oswaldo Cruz na primeira metade do século passado: Joaquim Venâncio, que dá nome Escola Politécnica, unidade técnico-científica dedicada ao ensino, à pesquisa e à cooperação na área de educação profissional. A edição especial, aliás, marca o aniversário de 35 anos da EPSJV/Fiocruz, cuja trajetória é narrada em duas reportagens deste número: em uma, sua história se confunde e se mistura com as lutas pela redemocratização do país, tanto no campo da saúde como na da educação; em outra, destacam-se suas principais ações de agora, 2020, quando uma pandemia que já matou mais de 110 mil brasileiros chamou as instituições públicas de ensino e pesquisa a intensificarem ainda mais sua produção científica e seu diálogo com a sociedade, em defesa da vida.
Na seção Dicionário, o leitor vai entender melhor o que significa ‘Escola Unitária’, um conceito que atravessa as principais disputas que o campo da Educação Profissional experimentou no Brasil e no mundo – e que influenciou diretamente a criação do então Politécnico da Saúde, três décadas e meia atrás. Por fim, a entrevistada desta edição é a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, que fala sobre a importância da formação dos trabalhadores técnicos e da sua formação antes e depois da atual crise sanitária atual, ressaltando ainda a articulação de todas as áreas de atuação da instituição como fundamental para a resposta que vem dando à sociedade brasileira neste momento.
A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) lançou o Manual sobre biossegurança para reabertura de escolas no contexto da Covid-19, que reúne normas e diretrizes para a retomada das aulas em segurança. O manual traz informações facilmente acessíveis, destacando as questões sanitárias, aspectos sobre a transmissão da Covid-19 e a implementação de boas práticas de biossegurança que possam contribuir para a promoção da saúde e a prevenção dessa doença nas escolas.
Segundo a coordenadora-geral de Ensino Técnico da EPSJV, Ingrid D’avilla, que fez parte da equipe de elaboração do documento, o manual poderá contribuir para a tomada de decisão pelos gestores, trabalhadores e a comunidade das instituições de ensino. Para ela, o manual se compromete com a explicitação de fundamentos técnico-científicos da biossegurança, que necessariamente precisam ser discutidos a partir de uma perspectiva pedagógica e de ênfase na proteção à vida. “Sua importância reside tanto na possibilidade de incentivar mudanças nas estruturas das escolas, sobretudo, naquelas em que historicamente houve naturalização de péssimas condições; como também na decisão de que, além do contexto epidemiológico local, ter ou não ter capacidade de implementar determinadas ações deve ser um impeditivo ético para a reabertura de escolas”, ressalta.
No manual, a EPSJV reconhece a realidade das escolas brasileiras, que possuem condições distintas de infraestrutura, recursos financeiros, adequação de força de trabalho, interlocução com o sistema de saúde, entre outros, para conseguirem uma perfeita adaptação às orientações. “Assim, consideramos de fundamental importância que tais normas e diretrizes façam parte do horizonte de modificações possíveis que a gestão pública deve implementar para garantir o retorno às atividades de ensino presencial com segurança para professores, estudantes e todos os trabalhadores da área da educação”, diz o texto.
“É muito importante que os protocolos de biossegurança considerem o contexto epidemiológico da Covid-19, ou seja, não existem protocolos dissociados do contexto. Em qualquer plano de retorno ou reabertura das escolas deve se considerar três perguntas sobre a situação epidemiológica local: a Covid-19 está controlada no território?; O sistema de saúde tem condições de responder ao aumento de casos?; O sistema de vigilância em saúde pode identificar a maioria dos casos e os seus contatos?. Todos esses aspectos precisam ser pensandos antes de se decidir pela reabertura das escolas. E como são aspectos muito complexos, devemos pensá-los sempre em sinergia com a produção científica das outras unidades da Fiocruz e das universidades públicas”, diz Ingrid.
A coordenadora destaca que alguns protocolos que já existem são restritos e apresentam apenas listas de ações para boas práticas nas escolas. “Nem sempre as recomendações contemplam fundamentação científica, muitas vezes, são apenas repetições de determinadas palavras que já foram incorporadas ao senso comum”, observa, e explica: “Quando os protocolos recomendam a adoção de rodízios nas escolas, por exemplo: o que essa expressão significa? Como ela pode ser parte de um conjunto de ações e medidas que protejam vidas?”, diz ela acrescentando que deve ser pensado o significado da palavra rodízio: “Estamos falando de alternância dos estudantes? De rodízio como mecanismo para redução da frequência das atividades presenciais? Como possibilidade de redução de fluxo de pessoas no ambiente interno das instituições, sobretudo, na primeira fase dos planos de retomada? Ou seja, é uma expressão que por si só não dimensiona o caráter de um retorno gradual”.
O manual está organizado em quatro partes: Sobre a Covid-19; Sobre a organização geral da escola para atividades de ensino presenciais; Recomendações gerais para o deslocamento; e Sugestões para a saúde do trabalhador. “Embora esse manual se refira às escolas de modo geral, é importante reconhecer que as discussões não contemplam aspectos específicos dos diferentes níveis e modalidades educacionais. Sendo assim, optou-se, portanto, por um recorte mais transversal”, explica Ingrid.
Parcerias institucionais
Além de produzir o manual para orientar outras escolas sobre o retorno às atividades presenciais no contexto da Covid-19, a Escola Politécnica tem recebido diversas solicitações para a participação em debates com outras instituições de ensino e sindicatos sobre o tema. Nesse sentido, a EPSJV está promovendo, em parceria com o Sindicato dos Servidores do Colégio Pedro II, uma série de lives para discutir as propostas de reabertura das escolas federais do Rio de Janeiro. Além disso, a Escola Politécnica está realizando reuniões com o Grupo de Trabalho sobre Protocolos Sanitários, Pedagógicos e de Acolhimento para retorno às atividades presenciais do Colégio Pedro II (campus Engenho Novo II), e formulando um projeto intersetorial para discussão sobre o retorno seguro com as escolas e as creches públicas de Manguinhos.
A diretora da EPSJV, Anakeila Stauffer, destaca que a EPSJV recebe, atualmente, muitos questionamentos de outras instituições públicas de ensino do Rio de Janeiro sobre quais seriam as soluções mais coerentes para as atividades escolares no contexto da pandemia. Para respondê-los, a Escola Politécnica tem fomentado a criação de um fórum permanente das escolas públicas do Rio de Janeiro e está contribuindo na organização e nas ações do ‘Fórum de Articulação Educação Básica e Universidade na Baixada Fluminense do RJ: pelo direito à vida e defesa da ciência, lançado no dia 03 de julho em parceria com a Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (FEBF/Uerj).
Para Anakeila, a importância da parceria com outras instituições está no fortalecimento do papel da Fiocruz e da Escola Politécnica como instituições de Estado comprometidas com a defesa da vida, e na constituição de redes com outras escolas públicas, pois a cooperação nacional e internacional sempre foram marcos da Fundação. “Todos os esforços que construirmos serão importantes, mas insuficientes já que os desafios já existentes na educação brasileira antes da pandemia serão intensificados. Para responder esses desafios, as escolas precisarão de uma ação intersetorial, além de financiamento compatível com o novo momento”, aponta.
Leia aqui o Manual sobre biossegurança para reabertura de escolas no contexto da Covid-19.
A nova edição da revista Poli traz um debate sobre quais medidas educacionais, econômicas e sanitárias os especialistas avaliam como importantes em um contexto em que governos - municipais, estaduais e federal - vêm discutindo estratégias de flexibilização de tais medidas de isolamento social, adotadas para frear a escalada dos casos de contaminação por Covid-19 no país. Especificamente sobre a educação, tema importante para a Fiocruz que está sendo debatido neste momento pelos gestores das unidades que oferecem cursos e programas de pós-graduação presenciais, os analistas alertam que são necessários mais recursos para que municípios e estados possam implementar as medidas sanitárias e pedagógicas fundamentais para garantir um retorno gradual das aulas. Confira a publicação, que é uma iniciativa da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio.
+ Veja também: Fiocruz busca soluções para continuidade das ações educacionais na pandemia
Por um lado, economistas defendem a manutenção de programas como o auxílio emergencial de R$ 600 pago a trabalhadores informais desde abril, mas cobram medidas de cunho mais estrutural, como a ampliação da cobertura e dos valores pagos por programas de transferência de renda como o Bolsa Família, bem como mudanças na regressiva estrutura tributária brasileira que possam garantir recursos para as políticas sociais no longo prazo. Como já citado, na área da educação, analistas falam sobre medidas necessárias para garantir um retorno gradual das aulas presenciais. Por fim, especialistas em biossegurança discutem as medidas de higienização pessoal e distanciamento social que, pelo menos por um tempo, precisarão ser mantidas mesmo após o fim do isolamento.
A atuação de entidades filantrópicas de origem empresarial na promoção de soluções para o ensino remoto e o planejamento da volta às aulas é o foco de outra reportagem. Segundo especialistas ouvidos pela revista Poli, a pandemia vem acelerando um processo que já vinha em curso, de ampliação do uso da tecnologia como ferramenta pedagógica, que acarreta profundas transformações ao trabalho docente e levanta questionamentos sobre as enormes desigualdades no acesso à internet e às tecnologias da informação entre os estudantes das escolas públicas.
O papel do Estado é um tema subjacente a duas outras matérias presentes nesta edição. Uma delas discute a dependência externa brasileira em relação a equipamentos e insumos essenciais para o controle da pandemia, como respiradores e EPIs, entre outros, e a necessidade de se fomentar a produção nacional. Nesse sentido, especialistas ouvidos pela revista Poli destacam que é preciso tocar um processo de reconversão produtiva, colocando emergencialmente empresas de outros produtos a serviço da fabricação de equipamentos e insumos para a saúde. Mas cobram também mais investimentos públicos tanto no fortalecimento da indústria quanto no desenvolvimento científico e tecnológico que antecede a produção. Já na seção Dicionário, o verbete desta edição apresenta os Laboratórios de Saúde Pública, instituições públicas que, a despeito de sofrerem com uma crônica falta de recursos, vêm desempenhando papel fundamental no monitoramento dos casos de Covid-19 no país.
A falta de EPIs e de treinamento adequado são as principais queixas de entidades representativas dos trabalhadores técnicos da saúde, que estão entre os mais vulneráveis à Covid-19. É o que aponta outra reportagem da edição, que traz um levantamento das mortes e casos de contaminação pelo novo coronavírus entre técnicos em saúde.
O entrevistado desta edição é o vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Naomar de Almeida Filho, que fala sobre o Plano Nacional de Enfrentamento à Covid-19, iniciativa da Frente pela Vida, que traz recomendações destinadas a autoridades políticas e sanitárias, gestores públicos e sociedade em geral, que foi entregue a parlamentares da Câmara dos Deputados e do Senado Federal no início de julho.
A Revista Poli é uma publicação impressa editada pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz). A versão online pode ser acessada aqui.
Cuidadores de idosos, Agentes Comunitários de Saúde (ACS), Agentes de Combates a Endemias (ACE), entre outros. São muitos os profissionais da saúde que estão no combate ao novo coronavírus. Para orientá-los e informá-los no contexto da pandemia da Covid-19, a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) lançou nas últimas semanas diversos materiais de apoio para esses profissionais. Essa importante produção em acesso aberto está disponível na plataforma Educare — um ecossistema de Recursos Educacionais Abertos onde podem ser encontrados diversos materiais para pesquisas e aulas.
A cartilha Orientações para Cuidadores Domiciliares de Pessoa Idosa na Epidemia do Coronavírus – Covid 19 tem o objetivo de preencher uma lacuna, pois há pouco material disponível a respeito. É o que afirma o professor-pesquisador da EPSJV, Daniel Groisman. Segundo ele a maior parte dos materiais tem como alvo os profissionais de saúde inseridos em serviços ou, no caso dos idosos, no contexto da assistência institucional de longa permanência. “Entretanto, a maior parte da população idosa reside e é cuidada nos seus domicílios, razão pela qual priorizamos esse tema na elaboração da cartilha”, explica. Daniel ressalta que as pessoas idosas são o principal grupo de risco para a pandemia e, dentre elas, as que necessitam de cuidados são mais vulneráveis ainda. “As pessoas que cuidam, seja de forma remunerada ou como familiares, são pouco assistidas pelas políticas públicas e possuem baixo acesso a orientações e informações”.
Na cartilha, o leitor vai encontrar informações básicas sobre o cuidado no contexto pandêmico, organizadas de forma clara e acessível, que visam prevenir o contágio e promover a biossegurança no cotidiano do trabalho de cuidados, assim como minimizar danos causados pelo isolamento social prolongado para a saúde da pessoa idosa. “Além disso, há indicações de telefones úteis e links para sites, onde é possível acessar mais informações, como por exemplo, a página da EPSJV dedicada aos agentes de saúde em ação”, adianta Daniel.
Voltado, principalmente, aos trabalhadores da Educação Popular em Saúde, foi lançado também o folheto O que mais podemos saber sobre o novo coronavírus e a Covid-19?. Segundo a professora-pesquisadora da EPSJV/Fiocruz, Vera Joana Bornstein, o material busca orientar os agentes de saúde no trabalho educativo com a população, principalmente nas questões relacionadas à transmissão, na busca ativa de casos suspeitos e na identificação e acompanhamento de pessoas com agravos. “Uma vez que as pessoas entendam melhor como acontece a transmissão desse vírus, elas podem se prevenir da melhor forma contra ele. E, com isso, podem adotar e recomendar medidas eficazes para impedir ou dificultar essa transmissão e, assim, proteger a si, sua família, e a comunidade”, aponta.
Outro material lançado pela Escola é a Ferramenta de bolso para agentes de saúde e cuidadores na ativa em defesa da vida na epidemia Covid-19, voltada para trabalhadores da saúde que estão diretamente na luta contra o coronavírus. Segundo a professora-pesquisadora, Nina Soalheiro, o conteúdo foi produzido em conjunto com alunos do curso técnico de Agente Comunitário de Saúde e ex-alunos do Curso de Qualificação Profissional em Saúde Mental. “A grande riqueza na construção desse trabalho foi a diversidade do grupo que produziu: temos dentistas, terapeutas naturais, pessoas da educação popular, ACS e cuidadores. Um grupo com diferentes experiências e escolaridades”, destaca.
Para Nina, a ferramenta busca ser um instrumento de defesa, proteção, autocuidado e de como os profissionais podem buscar apoio e ajuda. Ela conta que o documento foi dividido pensando em uma metáfora de portas. “Nossa ferramenta de bolso tem início com informações sobre biossegurança, que seria a porta da proteção. Em seguida, apresentamos a porta do autocuidado, que são exercícios respiratórios, de ginástica laboral e de relaxamento. Por fim, temos a porta da emergência, na qual estão informações sobre como buscar apoio e ajuda”, explica. Nina, acrescenta que a ideia foi buscar uma linguagem próxima da realidade do trabalhador da saúde brasileira que, muitas vezes, trabalha em contextos de grande vulnerabilidade.
Para dar apoio à atuação dos Agentes Comunitários de Saúde, a Escola Politécnica, em parceria com a Superintendência de Atenção Primária à Saúde (Saps/Sgais/SES RJ), organizou a cartilha Orientações para Agentes Comunitários de Saúde no enfrentamento à Covid-19. Segundo a professora-pesquisadora da EPSJV/Fiocruz, Márcia Valéria Morosini, essa iniciativa se justifica pelo fato de o ACS ser um trabalhador que atua na linha de frente na atenção à saúde nos mais diferentes territórios, com desiguais condições de vida e saúde.
A Escola foi responsável pela revisão da primeira versão do material e a inclusão de observações gerais e sugestões específicas quanto à forma e ao conteúdo do material. “Como se trata de um material online, acrescentamos sugestões de links a outros materiais digitais que ajudam a aprofundar algum tema”, destaca Márcia.
A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) está na luta contra a pandemia do novo coronavírus, prestando à comunidade escolar diversas orientações sobre o enfrentamento da Covid-19 e promovendo, mais uma vez, o seu papel de instituição pública na garantia dos direitos sociais. Com a suspensão das atividades escolares presenciais, desde o dia 16 de março, o Politécnico passou a disponibilizar atividades pedagógicas complementares on line para os estudantes dos cursos técnicos integrados ao Ensino Médio nas habilitações de Análises Clínicas, Biotecnologia e Gerência em Saúde.
Segundo a coordenadora geral de ensino, Ingrid D’avilla, desde o início da pandemia, teve-se o entendimento que o processo de isolamento social exige das instituições escolares o fortalecimento, sobretudo, da dimensão de socialização. “Para nós, a disponibilização de conteúdo por meio das tecnologias da informação são a possibilidade, nesse momento, de reduzir os efeitos do isolamento social a partir de atividades que têm um conteúdo pedagógico relevante para a nossa escola”, afirma, citando que um dos objetivos dessa proposta é dar continuidade ao processo de ensino-aprendizagem e possibilitar que os estudantes sejam estimulados, a partir dessas atividades, a organizarem suas rotinas diárias de estudo. Além disso, as atividades foram pensadas como forma de manutenção dos vínculos entre professores, estudantes e pais e responsáveis. Vale lembrar que essas atividades são complementares e não substituem as aulas presenciais. "A Escola reconhece que nem todos os estudantes têm acesso à internet, seja por falta de equipamentos ou de conexão. Além disso, nessa modalidade de formação, as aulas presenciais são insubstituíveis, sobretudo para a integração dos componentes da formação geral e da habilitação técnica", explica.
Na página do material de estudo disponível no Portal EPSJV, o estudante encontra material sobre a Formação Geral, as Habilitações Técnicas, a Introdução à Educação Politécnica em Saúde (IEP) e o Projeto Trabalho, Ciência e Cultura (PTCC). Semanalmente, os materiais serão inseridos nessas grandes áreas. A proposta, que já está em formulação, é que em breve esse material seja migrado para uma plataforma que permita mais interação entre estudantes e professores.
Nas orientações, a Escola sugere que os estudantes organizem o seu tempo considerando momentos para o descanso, o lazer, a interação à distância com os amigos, as atividades cotidianas em casa e com a família, bem como para a realização de tarefas escolares. Ingrid ressaltou que, além de realizar as tarefas propostas, o tempo em casa pode ser utilizado pelos estudantes para revisar conteúdos nos quais têm dúvidas e aprofundar seus conhecimentos em alguma disciplina. “A Escola também está disponível para ajudar os estudantes que tenham dificuldades em seguir a rotina que planejou. Se precisar, reorganize e peça ajuda”, acrescentou a coordenadora.
A EPSJV/Fiocruz, destaca Ingrid, é uma instituição de saúde pública e não somente uma instituição do campo da educação: “A gente se constitui a partir das interfaces entre Trabalho, Educação e Saúde. E, nesse contexto, algumas de nossas ações são intensificadas, como o nosso papel na comunicação pública e da ampliação da consciência sanitária”, diz ela. É justamente por isso que, no Portal EPSJV/Fiocruz, é possível encontrar uma série de reportagens, podcasts e entrevistas sobre questões relacionadas à pandemia. As redes sociais da Escola também serão recheadas de informações e vídeos de estímulo e educativos produzidos pelos professores do Poli e pelos próprios alunos, que estão mobilizados nessa luta, além de lives com digitais influencers que visam entreter os alunos no período de isolamento.
Preocupada com a possibilidade de reduzir os efeitos da falta de alimentação escolar no cotidiano dos alunos e de suas famílias, a EPSJV decidiu, emergencialmente, aumentar o valor das bolsas de demanda social, que passarão de R$ 150 para R$300 por mês até o retorno das atividades presenciais. Essas bolsas são pagas, mensalmente, a 110 estudantes do Ensino Médio Integrado, cujos responsáveis solicitaram auxílio no momento da matrícula por possuírem comprovada caracterização de baixa renda familiar. Vale ressaltar que, por estudarem em horário integral, todos os alunos da EPSJV recebem três refeições por dia na escola (café da manhã, almoço e lanche da tarde).
Segundo Ingrid, a Escola reconhece que a alimentação escolar é um direito para todos os estudantes. Na EPSJV, ela é viabilizada com recursos do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e recursos próprios da unidade. “A suspensão das aulas presenciais pode estar agravando a situação de famílias que já viviam em contexto de vulnerabilidade e com dificuldade de efetivar esse direito humano à alimentação adequada por meio da renda familiar”, explica.
Ingrid afirma que o Poli sabe que o alcance da medida é restrito por falta de recursos orçamentários, mas considera fundamental, sobretudo num momento em que, segundo ela, as diversas instâncias de governo responsáveis pela proteção social não têm dado respostas efetivas e estruturantes para a questão da perda de renda dos trabalhadores, em função da interrupção das atividades produtivas em várias esferas. “Como parte do Estado, a Escola se sente obrigada a dar essa resposta, porque, para nós, isso representa o mínimo de proteção social para que todos possam viver com um pouco mais de dignidade nesse período”, aponta, acrescentando que o Politécnico está acompanhando junto com estudantes e professores se existem situações mais drásticas do ponto de vista de perda de renda familiar com outros alunos que não estão contemplados nessa medida.
Outras ações também estão sendo pensadas para ajudar trabalhadores de diversas áreas na luta contra a Covid-19. Em parceria com a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), a coordenação do curso técnico em Agente Comunitário de Saúde (CTACS) da EPSJV, em conjunto com outros professores-pesquisadores e a direção da instituição, elaborou um plano de trabalho para contribuir para a formação dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), Agentes Comunitários Indígenas de Saúde (ACIS) e Agentes de Combate a Endemias (ACE), incluindo as demais nomenclaturas utilizadas para estes trabalhadores da área de vigilância em saúde. “Fizemos um plano reconhecendo a importância do trabalho desses agentes para o Sistema Único de Saúde no que se refere à elaboração de ações de saúde pública socialmente e territorialmente referenciadas, da educação popular em saúde, promoção da saúde, prevenção de doenças, do trabalho interprofissional e da ampliação da participação popular”, afirma a professora-pesquisadora da EPSJV/Fiocruz e uma das coordenadoras do CTACS, Mariana Nogueira.
No plano de trabalho estão incluídas ações como: divulgação de informações que possam orientar agentes comunitários de saúde, técnicos em vigilância em saúde e agentes indígenas de Saúde no Brasil a respeito do coronavírus, atendendo a uma demanda do Ministério da Saúde; o apoio técnico e político a instâncias governamentais, aos órgãos oficiais e ao controle social; articulação territorial com entidades organizadas por trabalhadores agentes de saúde, movimentos sociais em defesa do SUS e movimentos populares; a realização de educação permanente para esses agentes de saúde que atuam nos municípios do estado do Rio de Janeiro, através da produção de materiais educativos e informativos a respeito do novo vírus; e a organização de um grupo de trabalho que possa estar em articulação junto às lideranças comunitárias das favelas e movimentos sociais, evitando-se a proliferação de ações da instituição com focos semelhantes. “Para isso, estamos desenvolvendo ações de divulgação de informação em saúde; materiais educativos para a formação em saúde dos agentes de saúde, mas também incluiremos material para as trabalhadoras cuidadoras de idosos”, adianta Mariana.
A professora-pesquisadora afirma que, para desenvolver essas iniciativas, a Escola está em diálogo com as educandas trabalhadoras ACS da turma atual do CTACS e com os ACS egressos das turmas anteriores para ouvi-los sobre suas necessidades em sua prática profissional. “Construímos um questionário, enviamos e recebemos respostas. E a partir daí, listamos temas que subsidiarão as ações que estamos desenvolvendo como, por exemplo, os cuidados e uso de equipamentos de proteção individual e a saúde do trabalhador da saúde em tempos de Covid-19”, explica.
Acesse: