O Sextas de Poesia de hoje apresenta um poema de Içara Bahia, jornalista, redatora e se especializou em roteiro, dramaturgia e jornalismo literário. Ela nasceu em 1985, em Salvador, na Bahia, mas mora longe do mar desde 2012, ano em que se mudou para São Paulo, onde vive desde então. Vive de escrever e escreve para sobreviver. "Meu relógio não conta as horas" é o seu primeiro livro, "quando se cresce à beira-mar, o tempo é guiado pelo céu, pelo sol e pelo mar, então, o relógio não conta as horas, torna-se enfeite em torno do punho que escreve versos na busca".
O poema "Penso mar", que ilustra o Sextas desta semana, faz parte desse livro no qual ela diz que "em qualquer lugar meu mar também é dentro".
*com informações da Editora Patuá, site no qual também é possível adquirir o livro de Içara Bahia.
O poeta da semana é aquele que fala das desimportâncias ou do nada. Muitos dizem que com sua poesia Manoel de Barros tenta “descoisificar a realidade”. Ele tem na palavra o sentido da existência.
"A poesia está guardada nas palavras – é tudo que eu sei". E é através dela que o poeta de Cuiabá traduz o mundo de forma inventiva e simples. Assim, Barros nos convida a transformar, a reinventar este mundo: "O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê. É preciso transver o mundo”. Ou ainda, segundo ele, não ter conexões com a realidade: "expressão reta não sonha. Não use o traço acostumado". Nem ande nos trilhos, liberdade caça jeito!
O Sextas de Poesia, em seu primeiro poema de 2024, apresenta Mário Cesariny de Vasconcelos, poeta e pintor, considerado o principal representante do surrealismo português. É de destacar também o seu trabalho de antologista, compilador e historiador das atividades surrealistas em Portugal.
Em "Ama como a estrada começa", ele nos fala dos começos, das estradas, e com o amor é parecido: vem não se sabe de onde, nem como, nem porquê.
E, quando reparamos, ele já se instalou...
Mas a frase diz mais. Diz para amarmos como a estrada começa: sem saber o seu caminho, mas sem deixar que isso lhe corte a liberdade para tentar ser feliz, sem reservas, até ao infinito... (Até ao fim das estradas).
Que seja uma linda estrada 2024!
*Com informações do blog Silêncio nas Palavras.
ParaTodosVerem foto de uma estrada em descida, e ao fundo, a paisagem de uma praia com montanhas ao fundo, e um trecho do poema de Mário Cesariny: "Ama como a estrada começa".
O Natal chegou ao Sextas de Poesia nos versos de Manuel Alegre, poeta português, que acredita na poesia como ritmo, como música interior, canto e encanto, encantação, exorcismo, uma forma de relação mágica com o mundo. “Escrita e vida são inseparáveis".
Um Natal de poesia e encantamento para todas e todos!
O poeta fez parte da resistência contra a guerra colonial. Depois de, em 1963, regressar a Coimbra, sob o regime de residência fixa, conseguiu, no ano seguinte, desertar para a França, fixando-se pouco tempo depois em Argel. No exílio prolongado por 10 anos, Alegre teve uma importante intervenção política. As suas obras literárias bebem dessa influência, tendo-se revelado como importantes bandeiras de resistência contra o regime tirânico de Salazar. Muitos foram musicados e cantados por autores como Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira.
Em Abril de 2010, a Universidade de Pádua, na Itália, inaugurou a Cátedra Manuel Alegre, destinada ao estudo da Língua, Literatura e Cultura Portuguesas. Pelo conjunto da sua obra recebeu, entre outros, o Prêmio Pessoa, em 1999, e o Grande Prêmio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, 1998.
*com informações da biografia de Manuel Alegre no site Palavras27
Com um trecho do livro "A descoberta do mundo", o Sextas de Poesia homenageia a grande escritora Clarice Lispector, que faria 103 anos no ultimo dia 10 de dezembro. O poema nos apresenta um cotidiano transfigurado pelo olhar de Clarice, que redescobre nas Macabéas de todo dia a luminosidade de uma presença estelar. Entre flanelas e vassouras, mulheres simples e humildes se transformam em personagens que se eternizam.
A escritora brasileira marcou a literatura do século XX com seu estilo intimista e complexo, linguagem poética e perturbadora. Clarice Lispector (1920-1977) é um marco em nosso Modernismo e suas obras continuam entre as mais lidas no país.
A autora, vale lembrar, figura como uma das primeiras autoras a ganhar notoriedade nacional, ao lado de grandes nomes, como Rachel de Queiroz e Cecília Meireles, tendo, portanto, também um papel fundamental para desconstruir preconceitos e ampliar o horizonte para tantas outras mulheres na literatura.
#ParaTodosVerem Banner com uma pintura ao fundo, a cor cinza predomina mas também há verde, laranja e amarelo, na pintura há o desenho de vários corpos em pé e sentados em um tom de cinza mais claro, não é possível ver as suas feições. No centro da pintura, um trecho de Clarice Lispector em A descoberta do mundo: "...que prazer de os outros existirem e de a gente se encontrar nos outros".
O Sextas de Poesia faz sua homenagem a Antonio Bispo dos Santos, que hoje completaria 64 anos. Nêgo Bispo, como também é conhecido, nasceu no Vale do rio Berlengas, no Piauí, e morreu nesta semana, 3 de dezembro. Formou-se pelos ensinamentos de mestras e mestres de ofício do quilombo Saco-Curtume, município de São João do Piauí; completou o ensino fundamental, tornando-se o primeiro de sua família a ter acesso à alfabetização. Nêgo Bispo é autor de artigos, poemas e dos livros Quilombos, modos e significados (2007) e Colonização, Quilombos: modos e significados (2015).
Seus pensamentos vêm despertando debates dentro e fora da academia, sobretudo a partir do conceito de “contracolonização”, que postula uma relação entre regimes sociopolíticos e cosmológicos. O autor compreende a colonização como um processo etnocêntrico que busca substituir uma cultura pela outra, por meio de práticas de invasão, expropriação e etnocídio. Autodenominado "lavrador de palavras", traduzia pela escrita e pela voz o olhar de quem nasceu e viveu quilombola. E como afirmava, "mesmo que queimem a escrita, não queimarão a oralidade... a ancestralidade..."
*Com informações da Enciclopédia de Antropologia da USP
O Sextas de poesia apresenta o poeta português Vasco Gato, nascido em Lisboa, em 30 de março de 1978, cidade onde vive e trabalha como tradutor. Publicou, na virada do século, o seu primeiro livro de poesia, 'Um mover de mão'. A essa obra inicial, seguiram-se onze coletâneas em nome próprio e duas compilações de poesia por ele traduzidas. 'Daqui ninguém entra' foi a sua primeira incursão na escrita dramática.
No poema escolhido, "As moradas" ele diz que é preciso espreitar o mundo, "não somos mais do que um verso ao acaso”, “anjos desnorteados”, porque “o que eu habito é a minha vulnerabilidade".
O Sextas desta semana traz Paul Celan, aniversariante da semana, com Os poemas, numa tradução de Maria Teresa Dias.
Paul Celan, filho de judeus de língua alemã, é enaltecido como um dos maiores poetas do pós-guerra, carregou e registrou em sua obra a marca do terror nazista. A desolação pela perda dos pais, mortos em um campo de extermínio, do qual fugira.
Nascido em 23 de novembro de 1920, Celan carrega uma das vozes mais radicalmente singulares da poesia de todos os tempos. Sua voz é plena de faltas, de silêncios, de suspensões, de reiterações e retificações.
#ParaTodosVerem Foto tirada de baixo para cima da Escadaria Selarón, uma escada com degraus coloridos, verde, azul, vermelho e amarelo, ao lado da escada diversas casas em tons amarelo claro e branco. A foto no topo está com tons de vermelho e um trecho de um poema de Paul Celan, com tradução de Maria Teresa Dias:
Vive as vidas, vive-as todas,
separa os sonhos uns dos outros,
vê, eu subo, vê, eu caio,
sou outro, não sou outro.
O Sextas de Poesia desta semana celebra o Dia da Consciência Negra com a poeta Nayyirah Waheed, que aborda questões de gênero, raça e ancestralidade, dando voz a existências silenciadas. Nayyirah Waheed é uma poeta afro-americana contemporânea que possui dois livros publicados: Salt (2013) e Nejma (2014).
A autora ganhou muita visibilidade nas redes sociais Instagram e Twitter, nas quais costumava publicar textos e imagens para ilustrar seus poemas. Pouco se sabe sobre sua vida pessoal, infância ou suas referências, mas Waheed fez das redes sociais seu portfólio e é hoje uma das poetas mais populares da internet. A publicação de seus livros de forma independente é também uma forma de insubmissão e de ruptura. Esse distanciamento não é por acaso, já que em seus livros a autora afirma que o leitor deve buscar a si mesmo ao entrar em contato com a sua obra.
O racismo é um fenômeno social, com bases solidificadas na nossa estrutura e organização cultural, daí a importância da escrita poética na resistência. A feminista negra e poeta Audre Lorde atribui à poesia a capacidade de fazer com que as pessoas “aconteçam”, em uma narrativa poética de vivências silenciadas, a poesia tem a capacidade de alcançar o inalcançável: uma possibilidade de autodefinição insubmissa.
O Dia da Consciência Negra foi escolhido em homenagem a Zumbi dos Palmares, que morreu nessa data, no ano de 1665. Zumbi comandou o Quilombo dos Palmares por quase 15 anos e liderou a resistência de milhares de negros contra a escravidão. E como diz a pesquisadora Lélia Gonzalez: "Palmares é um exemplo livre e físico de uma nacionalidade brasileira, uma nacionalidade que está por se constituir. Nacionalidade esta em que negros, brancos e índios lutam para que este país se transforme efetivamente numa democracia".
Com informações do Portal de Revistas da USP
https://www.revistas.usp.br/clt/article/view/212720/194692
O Sextas de Poesia traz Mahmoud Darwich, que é conhecido no mundo árabe como “o poeta da palestina”. Um escritor que prima por uma poesia simples e, ao mesmo tempo, densa. De imagens que explodem uma intimidade na qual dá para ver o retrato de uma coletividade. Preso e exilado, anotou de longe e deu não apenas voz, mas sons e imagens para a luta do povo palestino. Em Onze Astros, o autor aponta para a poesia mais do que apenas como uma fotografia de uma região ou de uma luta, mas também como a tentativa de captura de uma universalidade das regiões e das lutas, como se um devir das minorias estivesse onde quer que haja guerras, lutas, invasões e exilados. "Meu interior é meu exterior. Não se fie muito na fumaça do inverno, abril logo sairá de nosso sonho. Meu exterior é meu interior”, uma frase que retrata toda a poesia, dor e luta de Darwish.
O escritor e poeta é também autor da Declaração de Independência Palestina, escrita em 1988 e lida pelo líder palestino Iasser Arafat, quando declarou unilateralmente a criação do Estado Palestino. Membro da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), afastou-se do grupo em 1993, por discordar dos Acordos de Oslo.
A vila em que nasceu foi inteiramente arrasada pelas forças de ocupação israelenses, em 1948, durante a Nakba, e a família do poeta refugiou-se no Líbano, onde permaneceu por um ano. Voltou clandestinamente ao seu país e descobriu que o vilarejo onde nasceu fora substituído pela colônia agrícola israelense de Ahihud.
Mahmoud Darwish foi preso diversas vezes entre 1961 e 1967, e a partir da década seguinte passou a viver como refugiado até ser autorizado a retornar à Palestina para comparecer a um funeral, em maio de 1996.
Com informações de Jornal Nota.
#ParaTodosVerem Banner com uma colagem de imagens em cores vermelha, sépia e lilás, em uma foto há uma criança segurando um porta-retrato sem vidro, em outra foto há duas meninas brincando, só é possível ver a silhueta delas, com um céu azul e um prédio ao fundo, em uma terceira imagem há meninos sentados olhando para o lado. No centro do banner o trecho do livro "Onze astros":
Na última noite nesta terra,
arrancamos os dias das pequenas
árvores, e contamos as costelas
que levaremos junto e aquelas
que deixaremos aqui, na última
noite não diremos adeus, não
teremos tempo para acabar.
Tudo ficará como está, já que
o lugar trocará nossos sonhos...
De uma hora para outra, não
saberemos mais brincar...