Com quase dois mil inscritos, o curso Bem-Viver: Saúde Mental Indígena prorrogou as inscrições até 25 de fevereiro. A formação, online, gratuita e autoinstrucional, tem como objetivo construir uma rede de apoio psicossocial voltada para essas populações vulnerabilizadas. Para tanto, busca formar diferentes profissionais ligados à saúde, educação, sistemas de proteção social (conselheiros tutelares, professores), assistência social e outros diretamente envolvidos na assistência das populações indígenas. O conteúdo já está disponível aos inscritos!
A formação é composta de cinco módulos, com carga horária de 60h, e trata de aspectos relacionados à saúde mental e fatores psicossociais que já eram enfrentados pelas populações, mas que se intensificaram no período da Covid-19.
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O curso foi desenvolvido pelo Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), que vem buscando implementar ações que ajudem a mitigar tais efeitos. Ele integra o projeto “Juntos contra a Covid-19 e na proteção de crianças e adolescentes indígenas na Amazônia Brasileira”, do Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef), do qual participam a Fiocruz e a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). Além da formação, uma série de outras ações integra essa articulação maior que tem o objetivo de oferecer apoio aos Povos Indígenas da Amazônia brasileira na prevenção e mitigação dos impactos da Covid-19. Ele é financiado pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) e prevê que mais de 27 mil famílias indígenas sejam beneficiadas.
Temas abordados na formação:
* Grace Soares é jornalista e consultora da Fiocruz no projeto do curso Bem-Viver: Saúde Mental Indígena
** matéria publicada em 26/1/2021 e atualizada em 22/2/2021
Cada vez mais impactada pela Covid-19, a população indígena – que tradicionalmente é mais suscetível a novas doenças em função de suas condições socioculturais, econômicas e de saúde – precisa de múltiplos esforços para o enfrentamento desta pandemia. Ciente dessas especificidades e suas necessidades, o Campus Virtual Fiocruz, acaba de lançar o curso Enfrentamento da Covid-19 no contexto dos povos indígenas. Ele é online, gratuito, aberto a todos os interessados no tema, mas visa capacitar, técnica e operacionalmente, gestores e equipes multidisciplinares de saúde indígena para a prevenção, vigilância e assistência à Covid-19, respeitando os aspectos socioculturais dessa população. A iniciativa vai ao encontro de dois eixos de atuação da Fiocruz para o enfrentamento da pandemia: educação e apoio a populações vulnerabilizadas.
O curso foi desenvolvido pelo Campus Virtual Fiocruz e teve a participação de pesquisadores da Fiocruz, de outras universidades e instituições parceiras. Esta é uma formação livre, composta de quatro módulos, com carga horária total de 30h.
A nova formação está alinhada aos esforços e iniciativas de formação em larga escala de profissionais de saúde na temática da Covid-19. Confira outras iniciativas: Covid-19: manejo da infecção causada pelo novo coronavírus, Enfrentamento da Covid-19 no Sistema Prisional, Doenças ocasionadas por vírus respiratórios emergentes, incluindo a Covid-19, Planejamento escolar local na transpandemia, e Caminhos e conexões no ensino remoto.
Dados do último Censo Demográfico que envolveu os povos indígenas, realizado em 2010 pelo IBGE, mostram que quase 900 mil pessoas se autodeclararam indígenas, ou seja, 0,4% da população, presentes em todos os estados brasileiros. Esse contingente é representado por 305 etnias, falantes de 274 línguas distintas, o que confere ainda mais complexidade no cuidado, pois a diversidade sociocultural dos povos indígenas também se expressa em termos de saúde.
A coordenadora acadêmica e uma das conteudistas do curso, Ana Lúcia Pontes, que é pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) e doutora em saúde pública, ressaltou que o curso é resultado de um trabalho coletivo de pesquisadores com larga experiência com a saúde dos povos indígenas no Brasil. “Ele nasceu do compromisso de construir uma ferramenta, um subsídio a mais para apoiar profissionais, gestores e integrantes do controle social da saúde indígena. O curso busca retratar as grandes diretrizes de enfrentamento da doença causada pelo novo coronavírus no que se refere à prevenção, assistência e vigilância adequadas à diversidade de contexto dos povos indígenas, assim como à realidade e cotidiano do subsistema de atenção à saúde indígena”, detalhou ela sobre a construção do material.
Ana Lúcia apontou ainda que, durante seu desenvolvimento, procurou-se desdobrar esses conteúdos de forma que eles suscitem a reflexão e a qualificação ampla sobre o que é o desafio da atuação em saúde no contexto dos povos indígenas. “Discutimos cenários gerais com vistas a apoiar os profissionais de saúde no atual contexto de enfrentamento da Covid-19, mas, sobretudo, que permitam, em um cotidiano futuro de trabalho, reflexões que possam ser úteis”, ressaltou Ana Lúcia.
A Covid-19 se mostra altamente letal entre os povos indígenas. No entanto, com sua história de grande vulnerabilidade, torna-se cada vez mais relevante que os profissionais estejam sensíveis ao enfrentamento da pandemia entre esses povos.
Para a coordenadora-geral da iniciativa e responsável pelo Campus Virtual Fiocruz, Ana Furniel, a produção deste curso foi um enorme desafio. De acordo com ela, não tem sido fácil enfrentar a pandemia de Covid-19 em todo o mundo, mas as especificidades aumentam de maneira significativa quando falamos da pandemia entre os povos indígenas.
“É necessário lidar com um perfil epidemiológico diferenciado, hábitos culturais distintos e, muitas vezes, com uma situação totalmente diversa, como a dos povos isolados. A situação de vulnerabilidade é ainda maior entre essa população e precisamos entender suas formas de comunicação, de aprendizado e como se apresenta o subsistema de atenção à saúde indígena”, explicou Ana. Ela apontou ainda que, com o curso, “espera-se auxiliar os diferentes profissionais das equipes de saúde que enfrentam diariamente um contexto muito difícil e que, infelizmente, vem piorando com o passar dos meses”.
Curso será oficialmente lançado durante Painel da Abrasco: 20 anos do GT Saúde dos Povos Indígenas - Gênese, trajetórias e perspectivas
O curso será oficialmente lançado nesta tarde, às 16h, durante evento de comemoração aos 20 anos do GT Saúde dos Povos Indígenas, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). O Painel "Gênese, trajetórias e perspectivas" terá a participação de Ana Lúcia, Carlos Coimbra Júnior (Ensp/Fiocruz), Eliana Elisabeth Diehl (UFSC), Esther Jean Langdon (UFSC), Ricardo Ventura Santos (Ensp/Fiocruz e Museu Nacional da UFRJ) e Inara do Nascimento Tavares (UFRR), além da vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Cristiani Vieira Machado, que integra o Conselho Deliberativo Abrasco. O encontro será transmitido pela TV Abrasco.
Cristiani lembrou que os povos indígenas já são grupos em situação de muita vulnerabilidade social, que sofrem com a luta pela terra, com as diversas formas de violência e desrespeito aos seus direitos. Segundo ela, "diante da pandemia, a atenção à saúde desses povos requer a compreensão do contexto, das especificidades do subsistema de saúde indígena e das necessidades dessa população. O curso aborda algumas dessas questões, visando qualificar os profissionais que atuam nessa área para o enfrentamento da Covid-19 nesse cenário complexo".
Enfrentamento da Covid-19 no contexto dos povos indígenas: conheça a estrutura do curso
Módulo 1: Povos indígenas no Brasil
Módulo 2: Vulnerabilidade dos povos indígenas
Módulo 3: Organização do trabalho e da assistência no subsistema de saúde
Módulo 4: Vigilância da Covid-19 em comunidades indígenas
Uma experiência pioneira de trabalho e formação de saúde indígena. Com essa premissa, o livro Atenção Diferenciada: a formação técnica de agentes indígenas de saúde do Alto Rio Negro apresenta o processo de construção, implementação e execução do Curso Técnico de Agentes Comunitários Indígenas de Saúde (CTACIS). Concluído em 2015 e voltado para os agentes indígenas de saúde (AIS) que atuam no Distrito Sanitário Especial Indígena do Alto Rio Negro (DSEI-RN), no Amazonas, o curso titulou dezenas de alunos como técnicos em agentes indígenas em AIS, por meio de uma parceria estabelecida entre diversas instituições, incluindo o Instituto Leônidas & Maria Deane (Fiocruz Amazônia) e a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz).
Os pesquisadores Luiza Garnelo e Sully Sampaio, da Fiocruz Amazônia, e Ana Lúcia Pontes, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), relatam a experiência – iniciada em 2007 – no livro, que faz parte da coleção Fazer Saúde da Editora Fiocruz.
Com a proposta de melhorar os serviços de saúde nas comunidades indígenas, o curso foi desenhado como uma estratégia multidisciplinar por diversos atores e implementado de acordo com as realidades locais. A obra tem como eixos centrais a dinâmica da implementação curricular e as reflexões sobre a construção de um perfil profissional para os Técnicos em Agente Comunitário Indígena de Saúde.
As estimativas apontam cerca de seis mil AIS em todo o país, atendendo aproximadamente 700 mil pessoas no Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (Sasi) do Sistema Único de Saúde (SUS). Os autores reforçam a importância da iniciativa em um contexto no qual esses agentes permanecem isolados e invisíveis para o restante do SUS. “Existe um senso comum de que é impossível elevar escolaridade e dar formação técnica para indígenas. O livro questiona essa perspectiva”, defende Ana Lúcia Pontes.
Em sete capítulos, a obra analisa etapas como o trabalho e a formação dos agentes comunitários e indígenas de saúde; as concepções político-pedagógicas e a organização curricular do CTACIS; os cuidados da saúde de crianças e mulheres indígenas; questões de vigilância alimentar e nutricional em terra indígena, além dos desafios e potencialidades observados ao longo do curso. São abordados também temas transversais, como território, cultura e política.
Luiza Garnelo e Ana Lúcia Pontes têm formação em Medicina e são docentes no Programa de Pós-Graduação em Condições de Vida e Situações de Saúde na Amazônia (PPGVIDA/Fiocruz Amazônia). Garnelo é bacharel em Filosofia e doutora em Ciências Sociais pela Unicamp. Ana Lúcia é mestre e doutora em Saúde Coletiva pela Ensp/Fiocruz. Já o cientista social Sully Sampaio é pesquisador e bolsista vinculado ao Laboratório de Situação de Saúde e Gestão do Cuidado de Populações Indígenas e outros grupos vulneráveis (Sagespi) do ILMD/Fiocruz Amazônia. Luiza Garnelo é chefe e pesquisadora titular do Laboratório e Pontes é uma das pesquisadoras colaboradoras. Os três autores participaram da coordenação e da implementação do CTACIS do Alto Rio Negro.
Segundo a médica-cirurgiã Myrna Cunningham Kain, pertencente ao povo miskitu (Nicarágua) e defensora dos povos indígenas, o livro é "uma contribuição significativa para a implementação efetiva de sistemas de saúde com enfoque intercultural e que permitam a plena realização dos direitos dos povos indígenas". Para ela, Atenção Diferenciada “aporta esforços na construção de modelos de saúde intercultural que articulem as medicinas indígena e ocidental de forma complementar e que tenham como premissa básica o respeito mútuo e o reconhecimento da diversidade de conhecimento”.
Com oito títulos já lançados, a coleção Fazer Saúde pretende contribuir para a qualificação de profissionais, pesquisadores e gestores do SUS, estimulando o diálogo entre conhecimentos científicos, educação, inovações tecnológicas, saberes e práticas em saúde.
Atenção Diferenciada apresenta uma importante iniciativa de demanda e articulação por parte dos movimentos indígenas: a formação técnica em saúde. “O curso permitiu propor a reorganização do trabalho do agente indígena na comunidade e na equipe”, explica Ana Lúcia, que espera que a publicação subsidie experiências que pensem a importância da profissionalização como formação técnica.
Além do evento na Fiocruz Amazônia, a obra fará parte também do lançamento coletivo da Editora Fiocruz, no dia 11 de dezembro, na Cinemateca do MAM, no Rio de Janeiro. O volume é um dos 14 títulos publicados pela Editora em 2019.
Revista Poli
O livro também é destaque na edição novembro/dezembro da Revista Poli – Saúde, Educação e Trabalho, publicação da EPSJV/Fiocruz. Assinada por André Antunes, a matéria de capa aborda a saúde indígena e questões relacionadas ao trabalho e à formação de profissionais do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena. Clique aqui para ler a reportagem na íntegra.
Hoje é Dia Nacional de Luta dos Povos Indígenas (7/2). Para lembrar a importância da saúde destes povos, saiba que já estão abertas as matrículas para o curso online Conhecendo a Realidade da Saúde Indígena no Brasil, oferecido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), integrante da Rede Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS). Profissionais de saúde podem se matricular até o dia 30 de junho pelo site.
O início é imediato e, como todas as ofertas da UNA-SUS, o curso é integralmente gratuito. O objetivo é capacitar os profissionais de saúde para um atendimento de qualidade à essas populações, considerando a diversidades dos povos indígenas e hábitos que impactam em sua saúde. O módulo é uma continuidade do curso O Fazer da Saúde Indígena, recomendado para interessados nesse tema.
Com carga horária de 60 horas, a capacitação está dividida em três unidades, que apresentam o contexto dos povos indígenas no Brasil e conceitos relevantes da prática da saúde indígena, como a atenção diferenciada, a política de saúde e a epidemiologia aplicadas a prestação dos serviços de saúde. O conteúdo foi organizado para abranger a realidade nacional, contando com uma simulação da realidade de um DSEI amazônico, além de disponibilizar materiais complementares.
“Preparar o profissional para trabalhar em cenários de diversidade cultural e em muitos casos com grandes dificuldades logísticas e de acesso ainda é um desafio recente. Esperamos que estes módulos contribuam para localizar os profissionais de saúde e os desafiem a aprofundar seus conhecimentos em saúde indígena”, afirma a professora Lavínia Oliveira, uma das responsáveis pelo conteúdo do curso.
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