A excelência de pesquisadoras e estudantes do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) não para de ser reconhecida. Na reta final do ano, honrarias foram concedidas por sociedades e entidades científicas. Confira abaixo:
A Academia Brasileira de Ciências (ABC) elegeu, em novembro, a pesquisadora do Laboratório de Imunofarmacologia, Tatiana Maron Gutierrez, como membra afiliada da Região Rio de Janeiro.
A categoria contempla jovens pesquisadores de excelência, com até 40 anos, que são eleitos para fazer parte dos quadros da entidade por um período de cinco anos. Os candidatos são indicados por membros titulares da ABC e a eleição é conduzida pela comissão de seleção regional.
A cerimônia de diplomação será realizada em setembro de 2025.
O Conselho Internacional para Ciência de Animais de Laboratório (Iclas, na sigla em inglês) concedeu premiação à coordenadora adjunta do Centro de Experimentação Animal, Isabele Barbieri dos Santos.
A especialista foi homenageada durante o Encontro Nacional da Associação Americana de Ciência de Animais de Laboratório (AALAS, na sigla em inglês), realizado em novembro, em Nashville, nos Estados Unidos.
A premiação destaca profissionais com potencial para fazer contribuições significativas para o ensino, a pesquisa ou aspectos organizacionais da ciência de animais de laboratório em seu país de origem.
A Sociedade Brasileira de História da Ciência (SBHC) premiou a dissertação de mestrado do museólogo do Museu da Patologia, Lucas Cuba Martins.
Intitulado ‘Fotografias de peças anatômicas do museu da patologia no arquivo do Instituto Oswaldo Cruz: um estudo sobre contexto de produção de fotografias em atividades científicas’, o estudo teve como foco um acervo sobre o qual havia poucas informações disponíveis: um total de 529 negativos de vidro referentes a fotografias de peças anatômicas do Museu da Patologia, produzidas entre 1900 e 1960.
Cruzando dados de diversos documentos, Lucas conseguiu associar parte do acervo com peças preservadas do Museu da Patologia, laudos de necropsia e artigos publicados na revista científica Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. A pesquisa identificou ainda peças anatômicas associadas com prontuários médicos do Hospital Evandro Chagas (atual INI).
O estudo revelou dinâmicas de produção das fotografias relacionadas à patologia nas primeiras décadas do IOC e desenvolveu uma metodologia de pesquisa para reconstituir informações de contexto perdidas em coleções biológicas.
O trabalho foi desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Preservação e Gestão do Patrimônio Cultural das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), sob orientação de Aline Lopes de Lacerda. Confira a dissertação.
A mestranda do Programa de Biologia Celular e Molecular, Juliana Simonato Ferreira, e o estudante de iniciação científica do Laboratório de Bioquímica de Tripanossomatídeos, Guilherme do Espírito Santo da Silva, tiveram seus trabalhos reconhecidos durante a 39ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Protozoologia (SBPz).
Juliana recebeu o Prêmio Walter Colli, de melhor apresentação oral, pelo trabalho ‘Novos candidatos para tratamento oral da leishmaniose visceral identificados por ancoragem molecular’.
A estudante é orientada pelo pesquisador Elmo Eduardo de Almeida Amaral, e coorientada pelo pós-doutorando Job Domingos Inacio Filho.
A pesquisa identificou duas moléculas promissoras para o tratamento da leishmaniose visceral por via oral. A primeira etapa do trabalho utilizou análise computacional em busca de compostos capazes de se ligar a uma enzima essencial para a sobrevivência do parasito Leishmania infantum, causador da doença. A partir de uma biblioteca de 4.228 compostos, foram identificadas 54 com características positivas para desenvolvimento de um tratamento oral.
Dentre estes fármacos, dois foram selecionados para testes em cultura de células e em camundongos, considerados como modelos para estudo da leishmaniose visceral. Os ensaios confirmaram a ação contra L. infantum, indicando que os compostos podem ser uma arma para aprimorar o tratamento da doença.
Já Guilherme recebeu o Prêmio Zigman Brener, de melhor pôster, pelo trabalho ‘Insights mecanísticos sobre híbridos de 4-quinolona-3-carboxamida triazol com atividade antileishmanicida’.
O aluno é orientado pelo pesquisador Eduardo Caio Torres Santos. O estudo contou com parceria de pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF) e Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz).
Na pesquisa, foram desenvolvidos compostos que combinam moléculas de dois grupos farmacológicos, buscando potencializar a ação contra parasitos do gênero Leishmania.
Análises em culturas de células apontaram maior atividade e menor toxicidade em comparação com moléculas desenvolvidas com base em apenas um grupo farmacológico.
Edição:
Vinicius Ferreira
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)
Entre as estratégias de enfrentamento da Fiocruz à pandemia está o fortalecimento das ações de educação que podem ser realizadas mesmo em situação de isolamento social. O Prêmio Oswaldo Cruz de Teses e a Medalha Virginia Schall de Mérito Educacional valorizam, estimulam e encorajam pesquisadores, alunos e docentes a avançarem na produção do conhecimento em saúde. O Prêmio, que está em sua quarta edição, é voltado a teses defendidas em áreas temáticas de atuação da Fundação. A nova data de envio de trabalhos é 16 de julho. Vale lembrar ainda que as inscrições para a Medalha Virginia Schall de Mérito Educacional da Fiocruz seguem abertas até 19 de agosto.
Mesmo frente aos últimos acontecimentos, a Presidência da Fundação resolveu manter essas iniciativas que integram seu calendário anual. A coordenadora-geral adjunta de Educação, da Vice-Presidência de Educação, Comunicação e Informação da Fiocruz, Eduarda Cesse, explicou também que tais ações “incentivam a participação e o envolvimento de egressos, alunos, pesquisadores e toda a nossa comunidade, que são, na verdade, peças essenciais dessa instituição”.
Prêmio Oswaldo Cruz de Teses
Podem concorrer ao prêmio autores de teses defendidas entre maio de 2019 e abril de 2020, nos cursos da Fiocruz e de cursos nos quais a Fundação participa de forma compartilhada e que sejam registrados na Coordenação Geral de Educação (CGE). Será selecionada uma tese de cada uma das áreas: ciências biológicas aplicadas e biomedicina; medicina; saúde coletiva; e ciências humanas e sociais.
Confira aqui todos os detalhes da premiação: Prêmio Oswaldo Cruz de Teses: edição 2020 está com inscrições abertas
Medalha Virginia Schall de Mérito Educacional
Esse reconhecimento é voltado a pesquisadores e pesquisadoras, que sejam servidores da Fiocruz, e se distinguem por sua trajetória acadêmica e de vida no campo da educação em saúde. Em 2020, apenas serão aceitas candidaturas de profissionais com destacada atuação nas áreas da medicina e/ou ciências biológicas aplicadas à saúde e biomedicina.
Confira aqui todos os detalhes sobre a Medalha: Concorra à Medalha Virginia Schall de Mérito Educacional
A Semana da Educação na Fiocruz teve início no Dia do Mestre (15/10), em cerimônia realizada no auditório do Museu da Vida (RJ), dedicada à entrega da Medalha de Mérito Educacional Virgínia Schall, do Prêmio Oswaldo Cruz de Teses de 2019, e a homenagens a alunos egressos de programas de doutorado da Fiocruz contemplados pelo Prêmio Capes de Tese. Participaram da mesa de abertura a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima; a vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação, Cristiani Vieira Machado; a coordenadora-adjunta de Educação, Eduarda Cesse; a vice-presidente da Asfoc-SN, Mychelle Alves; e o coordenador da Associação de Pós-graduação da Fundação (APG), Richarlls Martins.
O representante da APG disse: “Em um momento de intenso ataque à educação pública, à pós-graduação e a ciência e tecnologia no país, celebrar a Semana da Educação na instituição é mais do que fortalecer nossa produção, é marcar nossa perspectiva de democracia”. Na mesma linha, Mychelle Alves defendeu "a educação pública, gratuita e de qualidade, para que a gente tenha um país mais justo e igualitário. Hoje estamos vivendo um processo em que tudo o que faz pensar criticamente está sendo atacado”.
Eduarda Cesse chamou atenção para o fato de que 75% dos trabalhos inscritos para o Prêmio Oswaldo Cruz deste ano foram mulheres, que receberam a maioria das premiações. Ela agradeceu às autoras e autores das teses “de elevado valor para o avanço do campo da saúde, assim como aos docentes que se dedicam ao ensino e à pesquisa na nossa instituição, com trajetórias acadêmicas de alto mérito”.
O simbolismo da cerimônia de entrega dos prêmios, em meio às dificuldades do contexto atual da educação pública e da ciência no país, foi ressaltado pela vice-presidente Cristiani Vieira Machado. "É importante que possamos coletivamente valorizar o tipo de pesquisa que fazemos aqui, o entendimento da indissociabilidade entre a pós-graduação e a pesquisa, e do quanto os alunos contribuem em produzir conhecimento e trazer soluções para os problemas da nossa sociedade”, afirmou.
Por sua vez, a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, enfatizou o compromisso da instituição com iniciativas e movimentos “que têm hoje a ideia central de que ciência tecnologia e educação têm que ser vistos como investimentos no futuro do nosso país, não podem ser vistos por uma lógica contábil”. Nesse sentido, referiu-se ao engajamento da Fundação e outras instituições na campanha Ciência, pra que Ciência?, impulsionada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) contra o desmonte da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ela agradeceu ainda ao Conselho Deliberativo da Fiocruz pelo apoio a medida emergencial proposta pela presidência, garantindo recursos para manutenção de bolsas de pós-graduação.
A primeira homenagem no evento foi a entrega da Medalha de Mérito Educacional Virgínia Schall à professora Cecília Minayo, somando-se a uma extensa série de títulos de reconhecimento a sua trajetória na área de saúde coletiva, particularmente em temas relacionados a violência e saúde. A ocasião trouxe uma inovação no formato do cerimonial: a professora foi entrevistada por Suely Deslandes, que foi sua orientanda e colaboradora muito próxima no Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (Claves/Ensp/Fiocruz).
Suely ressaltou a “generosidade e a postura ético-política de parceria e de respeito ao conhecimento do outro” da homenageada, perguntando sobre momentos de sua trajetória profissional de 63 anos como professora. “Comecei com 16 anos alfabetizando crianças, e desde o início, o meu grande norte foi a questão social”. A professora viveu fora do país “naquela época de trevas” da ditadura, ao lado marido Carlos Minayo, responsável por seu ingresso na Fiocruz. “Desde que entrei aqui me sinto como um peixe na água, tenho uma gratidão imensa à Fundação”, declarou.
Respondendo sobre sua análise da formação em saúde hoje em dia, Minayo disse que parte do Brasil está em um processo regressivo e pontuou: "Mas isso não significa que a ciência e a tecnologia aqui estejam regredindo. Quanto mais difícil, maior é nossa vontade de ultrapassar os desafios. Não comungo a ideia de abaixar a cabeça e achar que não tem nada pra fazer”. Perguntada sobre o que compartilharia com os que estão iniciando a trajetória profissional como educadores, afirmou: “A primeira coisa é amar o que faz. E sempre coloque um ponto de interrogação sobre o significado do seu trabalho para a sociedade e para a população”.
Na sequência, os homenageados foram chamados para receberem individualmente seus certificados, sempre antecedidos por depoimentos em vídeo sobre suas teses premiadas. Confira os depoimentos e a lista completa dos premiados e seus orientadores. Acesse, ainda, a gravação completa do evento.
Confira a nossa galeria de fotos para mais fotos do evento!*
*Atualizado em 22/10/2019.
De 15 a 17 de outubro, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) realiza sua Semana da Educação. Todo ano, a instituição reúne a comunidade acadêmico-científica para em torno de atividades sobre a área, como a entrega de prêmios e homenagens. Os encontros serão no Auditório do Museu da Vida, no campus de Manguinhos da Fiocruz, no Rio de Janeiro.
Dentre os destaques da programação, está a entrega da Medalha de Mérito Educacional Virgínia Schall, no dia 15 (terça-feira), a partir das 13h30. A iniciativa foi criada em homenagem à pesquisadora Virgínia Schall, e se destina a servidores da Fiocruz, em atividade ou aposentados. Este ano, a medalha é destinada à área da Saúde Coletiva.
A agraciada é a professora Maria Cecília de Souza Minayo. Ela é reconhecida por sua contribuição ímpar tanto para o ensino na pós-graduação no Brasil, quanto para o desenvolvimento da ciência e tecnologia e sua atuação no movimento sanitário para fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Doutora em Saúde Pública pela Fiocruz, Minayo é respeitada por sua grande experiência na área de saúde coletiva, com ênfase aos temas de violência e saúde e como editora-chefe da revista Ciência e Saúde Coletiva.
Também na terça, serão entregues dois prêmios. O Prêmio Capes de Tese 2019, que este ano será recebido por um aluno e concede duas menções honrosas a outras duas alunas da pós-graduação da Fiocruz. Já o Prêmio Oswaldo Cruz de Teses, reconhecerá trabalhos produzidos em quatro áreas em 2019: Medicina; Saúde Coletiva; Ciências Sociais e Humanas; e Ciências Biológicas Aplicadas a Saúde e Biomedicina.
Nos dias 16 e 17, a agenda da Semana da Educação segue com a realização da Câmara Técnica de Educação, das 9h às 17h. No encontro, a Vice-presidência de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC/Fiocruz) e representantes das unidades estarão reunidos para debater pautas e projetos importantes em andamento.
O evento é aberto a todos. Participe!
Apesar de serem cerca de metade da população, as mulheres ainda são minoria na ciência. Elas são apenas 30% das cientistas do mundo e receberam somente 3% das indicações do Nobel nas áreas científicas. No Brasil, apenas 14% dos membros da Academia Brasileira de Ciências são mulheres. Pensando nisso, a Organização das Nações Unidas estabeleceu, em 2015, o dia 11 de fevereiro como o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, em consonância com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030.
O dia foi celebrado pela primeira vez na Fiocruz, com uma roda de conversa com pesquisadoras da Fundação sobre suas trajetórias científicas, no auditório do Museu da Vida. Eventos paralelos em outras unidades também foram realizados para marcar a data. A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade de Lima, primeira mulher a ocupar a posição, contou sobre sua emoção. “Esse dia me deu um sentimento de 8 de março, mas com o foco na atividade científica”, disse, lembrando de outras mulheres que foram pioneiras na instituição, como Maria Deane e Sylvia Hasselmann. Nísia pediu que as convidadas falassem não só sobre suas conquistas nas carreiras, mas também das dificuldades e desafios que enfrentaram.
Márcia Chame, Maria do Carmo Leal, Maria Elisabeth Lopes Moreira, Patrícia Brasil e Yara Traub-Cseko são hoje cientistas premiadas e referências em suas áreas de atuação. Mas percorreram um longo caminho para serem reconhecidas na carreira. A importância de exemplos, de bolsas de iniciação científica e do encontro com pessoas que acreditem e apoiem suas carreiras foram alguns dos componentes citados pelas cientistas como determinantes em seu sucesso profissional.
As dificuldades, no entanto, estão ainda presentes. A doutoranda e representante da Associação de Pós-Graduandos da Fiocruz Helena d'Anunciação de Oliveira lembrou alguns comentários que ouviu em seu ambiente profissional como enfermeira. Por ser uma área majoritariamente feminina e relacionada ao cuidado, a profissão é muitas vezes estigmatizada. “Já ouvi de um colega que, por ser enfermeira, já tinha fantasia pronta para o Carnaval. Diariamente somos diminuídas em nosso espaço de trabalho e em nossa capacidade tecnocientíficas”, contou Helena.
A relação da carreira acadêmica com a maternidade foi um ponto tocado em diversas falas. A exigência por produtividade muitas vezes ignora fases e processos naturais da vida, como a gestação e o tempo para o cuidado dos filhos, que ainda recai desproporcionalmente sobre as mulheres. Iniciativas recentes da Fiocruz buscam reduzir essa desigualdade. Uma delas é a inclusão de uma cláusula no Edital de Geração do Conhecimento do Inova Fiocruz que considera o tempo de gestação e os filhos no currículo lattes das mulheres cientistas e a criação do Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fundação.
Para as pesquisadoras também é necessária uma mudança cultural. “Os homens precisam participar e desempenhar mais ativamente a paternidade”, destacou a pesquisadora sênior do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Yara Traub-Cseko. “Essa é uma discussão de toda a sociedade, não apenas de mulheres e meninas”, concordou a presidente da Fiocruz. “Eu venho de um feminismo que defendia uma sociedade mais feminina, no sentido de que as características tidas como femininas, como o diálogo e o cuidado, sejam mais valorizadas pela sociedade como um todo. A ciência também precisa se adaptar a isso”.
O racismo e a questão de classe também foram levantados como temas importantes e que afetam a trajetória de muitas mulheres. Ser a primeira da família a ter uma graduação ou uma pós-graduação é uma conquista celebrada por algumas das componentes da mesa, que tiveram que abrir caminhos. “Precisamos falar de racismo. Na minha infância, eu não tinha muitas referências negras com graduação. Hoje eu quero poder ser esta referência para outras meninas”, afirmou a pesquisadora do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS/Fiocruz) Mychelle Alves, que integra o Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fundação.
Após o relato das pesquisadoras convidadas, o microfone ficou aberto para perguntas e intervenções. Uma das participações mais marcantes foi a de Ariela Couto Correia, ex-aluna do Programa de Vocação Científica (Provocc), da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz). “Quando resolvi que queria ser cientista, meu exemplo era a química Marie Curie. Mas com o tempo descobri que há pesquisadoras próximas a mim que são inspiradoras, como essas que estão aqui hoje”, disse. A menina contou a história de como encontrou a sua orientadora, mulher que a ajudou a crescer como cientista. “Agradeço muito à Fiocruz por me ensinar tudo o que sei hoje. A instituição nos prepara para o mundo, entramos aqui estudantes e ela fala: ‘vai, agora é a sua vez de brilhar’”, finalizou ao som de palmas calorosas da plateia.
Outra fala inspiradora foi a de Priscila Moura, aluna de doutorando da Fiocruz. “Quando passei no mestrado, um professor me disse que a Fiocruz não era o meu lugar. Naquele mesmo dia, passei caminhando pelo Castelo Mourisco e me prometi que só sairia daqui com o meu diploma”, contou. Ela lembrou, ainda, da importância de ser solidária com as estudantes mais jovens, que estão no início da jornada: “Eu pego na mão e levanto várias meninas, alunas, diariamente. Até porque eu entrei aqui uma menina... E hoje saio uma mulher negra cientista”, concluiu.
O debate sobre acesso à educação e maternidade também voltou à cena com a participação das moradoras da comunidade de Manguinhos, Simone Quintela e Norma de Souza. Simone, que se especializou em promoção da saúde pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), disse que é preciso levar este debate para dentro das favelas. “Onde eu moro são muitas as mulheres sem oportunidade de estudo, por diversos motivos, dentre eles a maternidade”, apontou. Já Norma enfatizou, em sua fala, a importância da atenção básica e da orientação em saúde às meninas moradoras da comunidade.
Na cerimônia de abertura da Semana de Educação da Fiocruz, no dia 15 de outubro, além da apresentação das atividades programadas, foram entregues o Prêmio Oswaldo Cruz de Teses e a Medalha do Mérito Educacional Virgínia Schall. O evento também marcou o lançamento do livro Ciência, saúde e educação, legado de Virgínia Schall.
As mulheres, aliás, mostraram toda a sua capacidade de contribuir para a área científica. Em 2018, apenas alunas conquistaram o Prêmio Oswaldo Cruz de Teses — o que foi destacado pelo representante da Associação de Pós-Graduandos da Fiocruz (APG-Fiocruz), Richarlls Martins, na cerimônia de entrega. “Essa premiação reconhece o mérito e a capacidade de resistir às dificuldades. E, simbolicamente, mostra a importância da igualdade de gênero e também de termos trabalhos sobre os mais diversos temas em saúde pública”.
Já a vice-presidente da Asfoc-SN, Mychelle Alves, disse que estes eventos são importantes para que a comunidade Fiocruz se una, fortaleça e revigore: “Parabéns a todos, guerreiros que buscam dar respostas à sociedade! Vivemos hoje o desmonte da educação, ciência, tecnologia e inovação. Esses prêmios são a prova de que acreditamos em todas estas áreas e na saúde pública”. Emocionada, citou uma frase do líder mundial Nelson Mandela, ex-presidente da África do Sul e Prêmio Nobel da Paz. “A Educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”.
Mencionando o ambiente de emoções e de tensões no país durante o período pré-eleitoral, a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, afirmou: “Neste momento, é muito importante estarmos juntos para renovarmos nossas esperanças, reforçarmos nossas convicções e atualizarmos a nossa agenda”. Ela parabenizou todos os homenageados e a equipe de diversas áreas envolvidas na realização da Semana, destacando a programação variada do evento e a valorização do trabalho dos profissionais da educação. “Abrimos falando de Paulo Freire, lembrando da importância de afirmar o valor da educação libertadora e do pensamento crítico. Junto com ele, homenageamos aqui na Tenda da Ciência – este espaço de educação, construção de pensamento e de diálogo – que tem o nome de uma grande educadora, Virgínia Schall. Ela também dá nome à medalha que será entregue a Euzenir Sarno, uma referência de pesquisadora, mestre e educadora”. Nísia cumprimentou também o primeiro professor emérito da Fiocruz, Arlindo Fábio, aproveitando para homenagear todos os professores.
A presidente destacou que o campo da educação deve ser pensado de uma forma ampla, considerando a articulação com a ciência e a saúde. Ela também falou sobre a integração dos programas de ensino, com a pesquisa, informação e comunicação, seja nos cursos, práticas e outras experiências.
No evento, foi entregue, pela primeira vez, a Medalha Virgínia Schall de Mérito Educacional – criada em homenagem à psicóloga, doutora em educação e pesquisadora Virgínia Schall, pioneira na articulação dos campos da educação, saúde e divulgação científica no Brasil. A iniciativa reconhece o conjunto da obra de servidores da instituição, em atividade ou aposentados, com atuação nas áreas de medicina, ciências biológicas aplicadas à saúde e biomedicina, ciências humanas e sociais e saúde coletiva.
A medalha foi concedida à pesquisadora Euzenir Nunes Sarno, do Laboratório de Hanseníase do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), que se dedica há mais de 50 anos à saúde pública e tem sua trajetória marcada pela formação de novos cientistas. “É um reconhecimento benevolente da comunidade científica da Fiocruz de uma carreira muito longa, de dedicação à formação de jovens cientistas, seja estudantes de medicina, durante o período na Uerj, seja na Pós-graduação do IOC. Eu compartilharia esse mérito com várias outras pessoas que tem uma carreira semelhante à minha”, disse Euzenir. Já a presidente da Fiocruz destacou que “Euzenir Sarno é uma educadora e pesquisadora totalmente comprometida com uma questão central do nosso sistema de saúde e das nossas dívidas sociais que é a hanseníase”.
Depois de receber a medalha, Euzenir foi entrevistada, no palco, pela coordenadora-geral do Canal Saúde, Márcia Corrêa e Castro. Ela fez à homenageada perguntas enviadas por alunos da professora. Na entrevista, Euzenir lembrou o uso de metodologias inovadoras para a época e disse: “Educar é transformar, fazer com que os alunos se encontrem, tirá-los da passividade”. Encerrando sua fala, celebrou: “Fui superada por muitos deles: esta é minha grande vitória”.
Fechando o primeiro dia do evento, foi lançado o livro Ciência, saúde e educação, legado de Virgínia Schall. A obra é organizada por Simone Monteiro, do Laboratório de Educação em Ambiente e Saúde do IOC, e Denise Pimenta, pesquisadora do Instituto René Rachou (Fiocruz Minas). A determinação de Schall foi destacada por Simone. “Mesmo diante das dificuldades, a Virgínia era uma otimista, ela encontrava uma brecha e realizava. Nossa maneira de continuar a ‘conviver’ com ela é também acreditar, semear. Assim a gente pode eternizar esta pessoa tão especial”, afirmou.
Flávia Lobato (Campus Virtual Fiocruz)* | Fotos: Peter Ilicciev (CCS)
Com informações do Instituto Oswaldo Cruz
“Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”. Partindo dos ensinamentos do Patrono da Educação no Brasil – o pedagogo, educador e filósofo Paulo Freire – foi aberta a Semana de Educação da Fiocruz, no Dia do Mestre (15/10).
As diversas atividades foram apresentadas pelo vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação, Manoel Barral. No próprio dia 15, foram homenageados alunos e professores, com o Prêmio Oswaldo Cruz de Teses e a Medalha do Mérito Educacional Virgínia Schall. Na ocasião, também foi lançado o livro Ciência, saúde e educação, legado de Virgínia Schall (leia mais sobre prêmios, homenagens e o livro aqui).
Barral também comentou os destaques da programação até o dia 19 de outubro: a abertura da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, o lançamento de publicações, o encontro da Câmara Técnica de Educação (com a conferência Desigualdade na oferta de pós-graduação em saúde no Brasil, assim como a continuidade dos debates sobre o Plano Integrado de Educação - Pief) e a realização do Seminário de Educação com intercâmbio de experiências, metodologias e tendências na área educacional.
Depois, apresentou as iniciativas que a VPEIC tem desenvolvido para fortalecer a integração entre as unidades e construir a Política Educacional da Fiocruz, a partir das diretrizes do VIII Congresso Interno da Fiocruz. O vice-presidente destacou ações junto aos programas de ensino, como a avaliação da pós-graduação e a oferta de disciplinas com conteúdos transversais para a formação em divulgação científica e ciência aberta. Ele também informou sobre a implantação do Sistema Integrado de Educação, o projeto de Internacionalização do Ensino e os instrumentos de acompanhamento dos cursos e seus egressos, destacando a articulação com o Observatório Fiocruz de CTI em Saúde (que foi remodelado). Ao que a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, exclamou: “Quantas boas notícias!”.
Após as falas dos representantes da Associação de Pós-graduandos da Fiocruz (APG-Fiocruz) e da Asfoc-SN, Nísia comentou sobre o contexto pré-eleições: “Neste momento de emoções e tensões, é muito importante estarmos juntos para renovarmos nossas esperanças, reforçarmos nossas convicções e atualizarmos a nossa agenda”.
Ela parabenizou todos os homenageados e a equipe de diversas áreas envolvidas na realização da Semana, destacando a programação variada do evento e a valorização do trabalho dos profissionais da educação. “Abrimos falando de Paulo Freire, lembrando da importância de afirmar o valor da educação libertadora e do pensamento crítico. Junto com ele, homenageamos aqui na Tenda da Ciência – este espaço de educação, construção de pensamento e de diálogo – que tem o nome de uma grande educadora, Virgínia Schall. Ela também dá nome à medalha que será entregue a Euzenir Sarno, uma referência de pesquisadora, mestre e educadora”.
Flávia Lobato (Campus Virtual Fiocruz)* | Fotos: Peter Ilicciev (CCS)
*Com informações do Instituto Oswaldo Cruz