Está no ar o volume 28, número 10, da Revista Ciência e Saúde Coletiva, publicada pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). A edição temática traz as condições de trabalho e saúde mental dos trabalhadores da saúde no contexto da Covid-19 no Brasil. Coordenada pela pesquisadora da Ensp, Maria Helena Machado, a publicação está disponível no SciElo e conta com o editorial 'Aprender com a pandemia - e não repetir os erro', assinado pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
Confira o volume 28, número 10, da Revista Ciência e Saúde Coletiva
O que a pandemia nos ensinou?
A edição da Ciência & Saúde Coletiva, 28.10.2023 nos leva a revisitar o tempo vivido da pandemia da Covid-19, ajudando-nos a perceber os erros, mas sobretudo os ensinamentos sobrevindos desse tempo e que repercutem até hoje. O foco da edição é a ação dos mais diversos profissionais, sem os quais a catástrofe vivida teria sido muito maior. No editorial está escrito: “a pandemia gravou no coração brasileiro um profundo reconhecimento aos trabalhadores e trabalhadoras da saúde”. Dos quatro milhões hoje existentes, 3,5 milhões estavam diretamente vinculados ao SUS e formaram uma verdadeira barreira a favor da vida.
Médicos, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas, nutricionistas, educadores físicos, agentes de saúde, recepcionistas, motoristas de ambulâncias, recepcionistas, profissionais de limpeza, de segurança, maqueiros, trabalhadores da cozinha das unidades de saúde compartilharam a mesma carga extenuante de trabalho, os mesmos riscos, e cumpriram igualmente o papel fundamental de defesa da vida. Não podemos esquecer também todos os agentes dos serviços funerários presentes nos momentos em que os familiares não podiam estar.
Os artigos desta edição percorrem a situação vivida e as consequências ainda presentes na vida desses mais variados trabalhadores que vivenciaram de perto os horrores da pandemia e reverenciam os que pagaram com a própria vida sua dedicação.
Esse triste acontecimento evidenciou também, entre outros, dois pontos positivos conquistados pela sociedade brasileira: o SUS como um sistema universal de saúde, social e culturalmente reconhecido como uma das maiores conquistas democráticas do país; e a ciência nacional internacionalmente articulada e produzindo conhecimento e tecnologia úteis e acessíveis a todos os cidadãos.
#ParaTodosVerem imagem da capa da revista, com a cor verde na parte superior e preta na inferior, uma foto em preto e branco embaçada de um aglomerado de pessoas, e ao lado, o nome da revista Ciências & Saúde Coletiva.
Apresentar um diagnóstico e constituir uma memória sobre a evolução da pandemia no Brasil a partir de registros e análises de dados, sistemas de monitoramento e vigilância em saúde. É com esse intuito que o Observatório Covid-19 Fiocruz e a Editora Fiocruz lançam o e-book Covid-19 no Brasil: cenários epidemiológicos e vigilância em saúde, que está disponível para download gratuito na plataforma SciELO Livros.
Organizado pelos pesquisadores Carlos Machado de Freitas, Christovam Barcellos e Daniel Antunes Maciel Villela, o volume é o terceiro da série Informação para Ação na Covid-19, uma parceria entre o Observatório e a Editora Fiocruz. O livro digital segue a ideia central da iniciativa encabeçada pelo Observatório: reunir o conjunto de respostas, pesquisas e ações técnicas produzidas pela Fiocruz durante a pandemia, mapeando a evolução do vírus no país e as ações de enfrentamento.
O e-book segue uma linha cronológica para traçar as primeiras estratégias de combate ao espalhamento da doença, antes mesmo de chegar oficialmente em terras brasileiras. "Os modelos matemáticos baseados em dados preliminares gerados nos países inicialmente atingidos foram usados para estimar os possíveis efeitos da pandemia no Brasil", afirmam os organizadores, no texto de apresentação.
Porém, as muitas particularidades do país entraram em jogo logo no início, fazendo com que cientistas, epidemiologistas e pesquisadores levantassem uma série de aspectos e impactos diantes de um contexto com diversas variáveis e especificidades. "Num país tão imenso, heterogêneo e desigual, foi um grande desafio, através de notas, boletins, relatórios técnicos e webinários, discutir a evolução da pandemia no Brasil", relata Carlos Machado, coordenador do Observatório Covid-19 Fiocruz.
Em um cenário de ampla vulnerabilização de determinados grupos sociais - tema que norteou o segundo e-book da série, intitulado Os Impactos Sociais da Covid-19 no Brasil -, os especialistas envolvidos na obra consideram que as "particularidades brasileiras, sua configuração territorial, profundas desigualdades sociais, estrutura do sistema de saúde e condições de vida e trabalho exigiram uma adaptação desses modelos e análises de grupos populacionais específicos que poderiam se constituir como mais vulneráveis à pandemia e, por isso, requereriam atenção especial e políticas específicas", ressaltam os organizadores.
Em três partes, que englobam um total de 25 capítulos, o título agrega os muitos desafios - com ênfase nas equipes técnicas da Fiocruz - para a avaliação de cenários epidemiológicos diante da chegada do vírus Sars-CoV-2 ao país. "Houve um esforço imenso da comunidade científica, e aqui no nosso país não foi diferente, para avaliação desses cenários epidemiológicos, com o uso de dados reportados nos nossos sistemas de vigilância, com os usos de modelos matemáticos e estatísticos e os painéis de acompanhamento dos dados, inclusive para formulação de estratégias de mitigação e supressão da transmissão", explica Daniel Villela, pesquisador do Programa de Computação Científica da Fiocruz (Procc/Fiocruz).
Os esforços para produzir e disseminar rapidamente conhecimentos que têm como base os registros de casos, hospitalizações e óbitos foram amplamente utilizados para subsidiar políticas e ações de enfrentamento à pandemia no Brasil. Esse conjunto de iniciativas está no âmbito da temática cenários epidemiológicos, um dos quatro grandes eixos do Observatório Covid-19 Fiocruz, que inclui ainda medidas de controle e organização dos serviços e sistemas de saúde; qualidade do cuidado, segurança do paciente e saúde do trabalhador; impactos sociais da pandemia. Dessa forma, o conteúdo do livro não esgota a amplitude e a diversidade de temas que envolvem a Covid-19, reunindo uma ampla comunidade científica que gira em torno dos temas de saúde pública. "Toda esta produção teve como base e estímulo a procura de respostas para os problemas que estavam se apresentando em determinado momento da pandemia, bem como o diálogo com a produção científica advinda de diversos campos de saber realizada e publicada em seu curso", destaca o texto de apresentação.
Além dos três organizadores, quase 100 pesquisadoras e pesquisadores participam do volume com as mais diversas contribuições, mapeamentos, estudos, apontamentos e reflexões. São especialistas com experiências nas mais variadas áreas, como medicina, epidemiologia, psicologia, estatística, história, biologia, enfermagem, engenharias, antropologia, geografia, farmácia, tecnologia da informação, comunicação, sociologia, entre outras.
A importância das parcerias para a análise de dados
A interface com outros órgãos, programas, ações e iniciativas também foram essenciais para os objetivos de diagnóstico e mapeamento que caracterizam a obra. Alguns dos exemplos são a plataforma MonitoraCovid-19, mantida pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), o InfoGripe da Fiocruz e o Painel Coronavírus da Fiocruz Bahia. "Esse livro traz contribuições importantes também na questão do acesso a dados e análise dos dados", afirma Christovam Barcellos, responsável pelo Monitora Covid-19. Segundo o pesquisador, a urgência do contexto e a necessidade de repostas cada vez mais rápidas fizeram com esses dados tivessem que ser reinterpretados, incluindo índices de mortalidade, notificação de casos, dados laboratoriais, dados sobre vacinas e sobre mobilidade da população.
Esse cuidadoso processo de análises, leituras e releituras compõe os estudos apresentados ao longo do volume. "Tudo isso é relatado no livro em capítulos, por exemplo, que destacam o papel que o InfoGripe teve na estimativa de casos e tendências; a montagem do Monitora Covid-19 pelo Icict/Fiocruz e que reúne, hoje em dia, uma quantidade enorme de dados; os esforços do Conass [Conselho Nacional de Secretários de Saúde] e Conasems [Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde] para disponibilizar dados oportunos e até montagens de painéis específicos sobre favelas, tentando entender o que estava acontecendo, particularmente, nessas populações mais vulneráveis", exemplifica Barcellos.
As três partes da obra estão divididas com os seguintes títulos: Cenários (com 11 capítulos); Produzindo e Organizando Informação para Ação (com cinco capítulos); Estratégias de Enfrentamento e Vigilância (com nove capítulos). A última parte é dedicada a uma série de temas que giram em torno da vigilância em saúde. Questões que foram - e continuam sendo - fundamentais para o combate à Covid-19 e que vêm sendo intensamente debatidas na agenda pública do país, incluindo os desafios do retorno às atividades escolares e a gestão de riscos durante a pandemia.
Além de Diplomacia da Saúde e Covid-19, Os Impactos Sociais da Covid-19 no Brasil e Covid-19 no Brasil: cenários epidemiológicos e vigilância em saúde, mais dois livros serão lançados ao longo dos próximos meses. A próxima obra contemplará o tema de organização dos sistemas e serviços de saúde.
Sobre os organizadores
O historiador Carlos Machado de Freitas é mestre em Engenharia de Produção, doutor em Saúde Pública e pesquisador titular da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz). É editor científico da Editora Fiocruz e coordena o Observatório Covid-19 Fiocruz.
O geógrafo Christovam Barcellos é mestre em Ciências Biológicas e doutor em Geociências. É pesquisador sênior do Icict/Fiocruz, onde é responsável pelo MonitoraCovid-19. É professor da Ensp/Fiocruz e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O engenheiro eletrônico Daniel Antunes Maciel Villela é mestre e doutor em Engenharia Elétrica. Pesquisador em saúde pública na Fiocruz, onde é coordenador do Procc/Fiocruz e coordenador adjunto do Programa de Epidemiologia em Saúde Pública da Ensp/Fiocruz.
Observatório Covid-19: Informação para Ação
A primeira publicação da série Informação para Ação na Covid-19 foi Diplomacia da Saúde e Covid-19: reflexões a meio caminho, lançado no final de 2020. O segundo e-book foi Os Impactos Sociais da Covid-19 no Brasil: populações vulnerabilizadas e respostas à pandemia, publicado em abril. Todos os livros da série estão disponíveis somente em formato digital e em acesso aberto na rede SciELO Livros, que apoia a iniciativa.
A série de publicações instantâneas (instant books) tem o intuito de levar ao público conhecimentos e reflexões sobre a pandemia, combinando um esforço de análises amplas e integradas sobre temas específicos, com rapidez na produção de modo a estarem disponíveis e de modo amplo em um curto período de tempo. "Esses livros têm como objetivo reunir o conjunto de produções técnicas da Fiocruz, como relatórios, estudos e notas técnicas, em resposta à Covid-19", afirma Carlos Machado.
O Observatório foi constituído logo nos primeiros meses da pandemia no Brasil, com o objetivo de reunir informações sobre os diversos aspectos epidemiológicos, demográficos, sociais e políticos da pandemia e sua expressão em grupos sociais de maior vulnerabilidade. Tem caráter multidisciplinar, visto que a pandemia deve ser entendida como um fenômeno influenciado por diversos fatores geográficos, históricos, culturais e econômicos e afeta todas essas dimensões. Em seu âmbito, estudar, analisar e emitir alertas sobre a situação e tendências da pandemia não constitui mero exercício estatístico, pois se desdobra em uma compreensão ampla sobre a sociedade brasileira e seu sistema de saúde, com especial ênfase no Sistema Único de Saúde (SUS).
Sobre a Editora Fiocruz
Criada em 1993, a Editora Fiocruz surgiu da necessidade de tornar público e ampliar o acesso ao conhecimento científico nas diversas áreas da saúde, criando um espaço para dar visibilidade aos resultados de pesquisas. Desde seu primeiro lançamento, em 1994, a Editora mantém como missão a difusão de livros em saúde pública, ciências biológicas e biomédicas, pesquisa clínica, ciências sociais e humanas em saúde.
Em 2021, ultrapassou a marca de 500 títulos publicados. O catálogo da Editora reúne obras que disseminam não só a produção acadêmica da Fiocruz, mas também de demais estudos de importância e impacto para a saúde em âmbitos nacional e internacional.
A Editora Fiocruz já conta também com mais de 350 e-books disponíveis na biblioteca on-line SciELO Livros, sendo que, atualmente, cerca de 230 estão em acesso livre para download gratuito. Os demais títulos estão disponíveis para aquisição com média de 40% de desconto em relação aos valores dos exemplares impressos.
Os debates sobre popularização e divulgação da ciência ganharam ainda mais espaço diante da pandemia de Covid-19. E é em meio a esse contexto que a Editora Fiocruz atinge uma importante marca de difusão da sua produção editorial. No final de junho, com o lançamento do livro Vacinas, a Editora chegou a 350 e-books publicados na rede SciELO Livros. Desse número, 223 estão disponíveis para download gratuito. Os outros 127 estão em modalidade comercial, mas com preço 40% abaixo do valor do exemplar impresso. Além do SciELO Livros, a Editora disponibiliza os e-books gratuitos também em outra rede: o Arca, repositório institucional da Fiocruz.
Muitos dos livros já esgotados no catálogo físico da Editora Fiocruz estão disponíveis no SciELO Livros, como obras das décadas de 1990 e 2000
Em meio à emergência global causada pela pandemia, dúvidas e questões ligadas à saúde e à ciência estão mais em voga do que nunca. Das pandemias e epidemias do passado à importância do SUS, passando pelas vacinas e pelo papel da Organização Mundial da Saúde (OMS), todos esses assuntos fazem parte do universo de temas das publicações da Editora. E o melhor: podem ser consultados de forma fácil e acessível.
A aquisição dos e-books pelo SciELO Livros pode ser feita nas lojas Amazon, Google Play e Kobo Books. Já os títulos que estão em acesso livre podem ser baixados em PDF ou em ePUB, formato específico para títulos digitais. Dessa forma, a Editora Fiocruz reforça sua missão de divulgar e ampliar o acesso ao conhecimento científico produzido nas diversas áreas da saúde. Das quase 500 obras de seu catálogo, mais da metade está disponível na plataforma, que maximiza a visibilidade, a acessibilidade, o uso e o impacto desses livros. Os textos em formato digital são legíveis nos leitores de e-books, em tablets, smartphones e nas telas de computador, amplificando o acesso à leitura em diversos espaços.
São livros das mais diferentes temáticas, com base em pesquisas de excelência acadêmica nas áreas de saúde e políticas públicas. Obras escritas por pesquisadores, professores, especialistas e gestores de saúde das mais diversas instituições de ensino, pesquisa e ciência do país e de várias partes do mundo, incluindo volumes em parceria com órgãos como OMS e Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
Já os lançamentos são, desde 2020, publicados simultaneamente em formatos impresso e digital. Dessa forma, os e-books já ficam disponíveis para aquisição por parte dos leitores ao mesmo tempo em que chegam às livrarias e espaços comerciais físicos. É o caso de Vacinas, o 350º e-book da Editora no SciELO Livros. A obra - que aborda a importância das vacinas ao longo da história - foi lançada em 30 de junho, durante o avanço da campanha de vacinação contra a Covid-19 por todo o Brasil.
Diante das transformações sociais causadas pela pandemia e em meio a um contexto de maior distanciamento físico, a iniciativa de diversificar os espaços de publicação dos volumes expande a participação da Editora Fiocruz no formato digital de amplo acesso. “Esse movimento acena para a importância de estar com os livros onde o leitor possa acessá-los. Em tempos de necessário isolamento social, os livros on-line têm sido fundamentais alimento e companhia”, reforça João Canossa, editor executivo da Editora Fiocruz.
Editora Fiocruz e SciELO Livros: parceria antiga, milhões de downloads
Muitos dos livros já esgotados no catálogo físico da Editora Fiocruz estão disponíveis no SciELO Livros. Obras das décadas de 1990 e 2000, mas que ainda são referências para pesquisas e trabalhos acadêmicos na área de saúde pública em diversas partes do mundo.
Se o acervo da Editora na plataforma on-line é extenso, a razão vem da sólida parceria entre ambas: ao lado das editoras da Universidade Federal da Bahia (EDUFBA) e da Universidade Estadual Paulista (Editora Unesp), a Editora Fiocruz fez parte, em 2011, do consórcio que liderou o desenvolvimento do Projeto SciELO Livros. A iniciativa contou com o apoio da Associação Brasileira das Editoras Universitárias (Abeu). A rede on-line começou a operar em 2012 e completará, em março de 2022, dez anos de fundação.
A antiga parceria rende frutos superlativos na participação da Editora na plataforma: dos quase 107 milhões de downloads de e-books na rede, cerca de 49 milhões são dos volumes da Editora Fiocruz. Os números mostram o interesse por pesquisas de excelência na área da saúde pública, lideradas pela instituição que é referência científica nas Américas.
Além da grande quantidade de downloads, o crescimento da Editora Fiocruz dentro do consumo de informação na produção científica brasileira também é destaque. Para isso, vale ressaltar, segundo dados do próprio SciELO Livros, a vasta quantidade de países que consomem os produtos da Editora: além de Brasil e Portugal, Estados Unidos, Moçambique e Angola também costumam aparecer nas primeiras posições. Há também o fato de a Editora ser uma das fontes mais citadas na área de ciências da saúde, atrás somente de instituições como Ministério da Saúde e OMS.
Novos formatos para aquisição de livros
Ao diversificar os modos de comercialização digital, a Editora e a plataforma se adaptam às novas formas de hábitos de leitura e de consumo da produção acadêmico-científica. Nesse contexto, há várias expectativas de uma presença ainda maior dos títulos da Editora Fiocruz no SciELO Livros. Editor científico da Editora, Gilberto Hochman corrobora a importância do acesso aos livros acadêmicos nos mais diferentes formatos. “O futuro do livro é o do conhecimento acessível e apropriável pelo maior número de leitores e progressivamente alinhado com a ciência aberta”, destaca o pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz em artigo de 2020 publicado na página SciELO em Perspectiva.Divulgação: SciELO
Para além da crise global de saúde, a plataforma é uma consolidação do importante espaço ocupado pelas editoras universitárias. “O SciELO Livros não é uma oferta passageira para degustação dos leitores em tempos febris. Não é uma ação eventual em emergências sanitárias. É parte integrante de uma política pública de acesso aberto ao conhecimento que vem se consolidando no Brasil há duas décadas e que
Livros digitais e a política de acesso aberto da Fiocruz
Em tempos de pandemia e de enfrentamento ao maior desafio sanitário das últimas décadas, a busca pelo conhecimento científico de qualidade é mais essencial do que nunca. E no momento em que a ciência precisa combater inúmeras desinformações e descrenças, a difusão das pesquisas em saúde são ainda mais necessárias.
Para isso, a Fiocruz intensifica a sua Política de Acesso Aberto ao Conhecimento. A Editora Fiocruz integra a iniciativa e disponibiliza as suas obras em acesso livre também no Arca, repositório institucional coordenado pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz).
Os títulos para acesso no Arca contemplam a mesma formatação em PDF daqueles que já estão no SciELO. O repositório traz ainda alguns complementos: entre eles, o vídeo Editora Fiocruz – 25 anos, produzido em 2018 a partir da parceria entre a Editora, o Icict/Fiocruz e a VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz. Disponível para download em formato mp4, o vídeo aparece em versões com e sem legenda.
Com o Arca, a Fiocruz e a Editora buscam garantir à sociedade o acesso gratuito, público e aberto ao conteúdo integral de obras intelectuais produzidas não somente pela instituição, mas também por pesquisadores próprios e parceiros, além das produções de diversas outras instituições de ensino e pesquisa de excelência.
A publicação dos resultados de estudos acadêmicos em acesso aberto é cada vez mais frequente e estima-se que atualmente estão disponíveis milhões de documentos online. Por esta razão, é importante ter ferramentas eficientes para encontrar as versões livres dos artigos que precisamos (sem pagar assinaturas ou comprando artigos individuais e usando métodos legais). Como a necessidade vai criando a oferta, nos dois ou três últimos anos vem surgindo aplicativos gratuitos para atender aos requerimentos dos acadêmicos, bibliotecários, pesquisadores, e estudantes em geral. Qual é o mercado de oferta hoje em dia?
Aaron Tay, um bibliotecário na Singapur Management Library, recentemente escreveu algumas notas em seu blog analisando diversos plugins para os navegadores e também os serviços de agregadores que permitem encontrar de forma quase instantânea textos completos em acesso aberto.
Veja a seguir os diferentes serviços analisados por Aaron Tay.
Base: este serviço criado pela Bielefeld University Library na Alemanha é, provavelmente, um dos maiores e mais avançados agregadores do mundo. Em novembro de 2016, superou 100 milhões de documentos. O serviço Base assegura que pelo menos 40% dos textos identificados estão em acesso aberto, não sendo possível assegurar o restante por falta de metadados nos repositórios. Através do serviço de oadoi.org, tem acesso a mais de 5 mil repositórios. No entanto, o Base não indexa o conteúdo destes textos completos. A interface de busca é muito avançada, possivelmente a mais amigável de toda a família de plugins analisados.
Core: afirma ter cerca de 70 milhões de documentos que, assim como o Base, são recuperados através do protocolo OAI-PMH. Por esta razão, também tem o mesmo problema de vincular com certeza os textos completos, devido à falta de normalização dos metadados nos repositórios institucionais, em particular os “Green OA”. Em contrapartida, o Core indexa o conteúdo destes textos completos.
Dissemin: com cerca de 100 milhões de documentos, está em versão beta. Por enquanto a busca é limitada ao nome do autor. Entrega os resultados rapidamente, indicando quais deles estão disponíveis em acesso aberto.
Lazy Scholar button: lançado em 2014, é um plugin que, até o momento, funciona apenas no navegador Google Chrome. É a extensão mais complexa (algo complicado também) e, entre vários serviços, pode verificar se sua instituição possui assinaturas ao texto completo, apresentar varias métricas de citação, obter comentários de sistemas como PubMed Commons, oferece funções que lhe permite criar citações e recuperar documentos relacionados a sua consulta que podem ser de interesse, também em acesso aberto.
Sugestão: quando eu o instalei, por praticidade, marquei NÃO em quase todos os parâmetros. Vale a pena analisá-lo (ainda que depois não o utilize).
OAIster: propriedade de OCLC, trata-se de um catálogo coletivo que declara ter mais de 50 milhões de registros de recursos em acesso aberto, provenientes da coleta por OAI-PMH de mais de 2 mil fontes que contribuem para o catálogo. Os registros também estão disponíveis na interface do WorldCat. Tem as mesmas limitações que foram indicadas para o Base, Core e coleções baseadas no protocolo OAI-PMH.
Open Access button: é um plugin criado em 2013 por dois estudantes. Não deve ser instalado no navegador Internet Explorer. No Google Chrome é instalado facilmente. Tem milhares de usuários registrados. Em meus experimentos, no entanto, não tive muito êxito.
Google Scholar button: criado em 2015, é instalado diretamente e é, possivelmente, a opção preferida.
Unpaywall button: é o mais novo membro da família e pode ser uma segunda opção.
O problema, então, surge ao indexar os milhares de repositórios institucionais devido ao fato que a função que cumprem para estas instituições vai além do simples depósito de documentos completos em acesso livre. Entre outras finalidades apoia o “auto arquivamento” de acadêmicos, preserva um registro das atividades da universidade e demonstra a relevância de suas atividades científicas, econômicas e sociais, para aumentar sua visibilidade e status. Por estes motivos, como diz Aaron Tay, é possível que os repositórios institucionais não tenham mais que um terço de seus documentos com textos completos acessíveis. Devido a estas limitações, os agregadores de documentos em acesso aberto ignoram estes problemas e indexam os repositórios em sua totalidade, dando a ideia equivocada de que tudo é de acesso livre ao texto completo.
Em termos de eficiência, podemos dividir estas ferramentas em dois níveis:
1. As que se baseiam na busca direta pelo Google Scholar, como Lazy Scholar button, também o Google Scholar button e Unpaywall button.
2. Todas as outras ferramentas analisadas neste post.
O motivo é que o Google Scholar é o maior índice de material acadêmico disponível, apesar de ter limitações ao indexar os repositórios. Todas as outras iniciativas, no momento, são muito menores em termos de cobertura, incluindo os agregadores como o Base e o Core pelos motivos explicados acima. Por outro lado, o Google Scholar desenvolveu algoritmos muito eficientes que permitem distinguir as diferentes manifestações de um mesmo artigo (preprints, versões, postprints etc.).
Além disso, o Google Scholar não apenas indexa repositórios, com também toda classe de sites, incluindo as páginas web das universidades. Estes documentos são invisíveis à maioria dos plugins analisados, que se restringem principalmente a repositórios, ao passo que o Google Scholar indexa todos os documentos que parecem ser acadêmicos, incluídos em sites com extensão: .edu.
Também é necessário ressaltar que os serviços do tipo Open Access button e aqueles que usam Oadoi.org e similares, não indexam artigos disponíveis no ResearchGate ou Academia.edu, devido às fortes suspeitas de que muitos destes documentos depositados pelos autores violam os acordos de direitos com os periódicos, porém são indexados pelo Google Scholar. Segundo um recente artigo4 do Scientometrics, estima-se que cerca de 40% dos PDFs depositados no ResearchGate violam os acordos de copyright.
Segunda Spinak, a quantidade de documentos em texto completo de acesso livre que é possível recuperar com estas ferramentas tem como limite superior o total indexado pelo Google Scholar e como limite inferior os documentos de acesso “legal” que se recuperam com OAIster e OA button etc.
Devido à extensa distribuição de documentos em milhares de lugares diferentes, e à falta de consistência das normas com que trabalham os agregadores de dados, o colaborador afirma que nenhum método é 100% confiável e nem consistente para encontrar todos os textos completos em acesso aberto.
Dado que estas ferramentas são muito novas, com apenas dois ou três anos de desenvolvimento, Ernesto indica que Google Scholar button e Unpaywall button são as mais eficazes.
Fonte: Ernesto Spinak (Blog SciELO)