Fiocruz é SUS: rodas de saberes, práticas compartilhadas dá título ao novo livro da Plataforma IdeiaSUS Fiocruz. A publicação, que será lançada no dia 1º de março, às 10h, no Auditório do Museu da Vida, campus sede da Fiocruz no Rio de Janeiro, com transmissão simultânea pelo canal da VideoSaúde no YouTube, está organizada em sete capítulos, dos quais um deles foi traduzido, de forma inédita, para o Guarani.
O primeiro e o segundo capítulos tratam da curadoria em saúde IdeiaSUS Fiocruz. Assinado pelas pesquisadoras da IdeiaSUS, Claudia Le Cocq e Marta Magalhães (organizadoras também do livro), o capítulo 1 destaca os caminhos trilhados por esta iniciativa, que ganha impulso em 2018. Como escrevem as autoras, a curadoria é reconhecida como um processo formativo e informativo das práticas do Sistema Único de Saúde (SUS). O objetivo é contribuir para a reflexão, a sistematização e o fomento da discussão sobre experiências de diferentes territórios e temáticas do SUS.
Ainda no capítulo 2, assinado por vários curadores parceiros da IdeiaSUS, os focos são as potencialidades e os desafios da proposta. Como definem, a atividade implica o ato de apoiar e acompanhar práticas de saúde, convidando gestores e equipes envolvidas com aquela experiência a aderirem ao processo de reflexão crítica sobre os seus trabalhos no cotidiano do SUS.
Práticas compartilhadas
A publicação resulta do próprio exercício da curadoria da IdeiaSUS, especialmente do acompanhamento de cinco práticas do SUS, ao longo de 2013. O terceiro capítulo segue com a sistematização e apresentação da prática sobre a implantação da Rede de Atenção e Prevenção ao Suicídio de Anastácio, em Mato Grosso do Sul. A criação da Rede, em 2017, justificou-se pelos altos índices de suicídio na região sul-mato-grossense de Anastácio e Aquidauana. A iniciativa nasce com o objetivo de atuar na prevenção, atenção e posvenção dos casos identificados pela Rede de Atenção à Saúde da cidade.
O capítulo 4 trata da saúde mental dos povos indígenas. A experiência nasce da escuta das demandas de saúde mental da população indígena da aldeia Tarumã, pertencente ao Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) do Polo Base de Araquari, em Santa Catarina. A escuta permitiu entender que a alimentação, por exemplo, tem forte influência sobre a saúde mental dos indígenas. Foi explicado à equipe de curadores que se determinado alimento for ingerido em fase de vida específica, como no período gestacional ou puerperal, isso pode ser determinante de adoecimento psíquico. O capítulo sobre esta experiência, de forma inédita, foi traduzido para o Guarani, pela própria comunidade da Aldeia Tarumã e estudantes da Escola Indígena de Ensino Fundamental Tupã Poty Nheé.
O quinto capítulo é dedicado a uma experiência do município de Pilar, em Alagoas, voltada para o enfrentamento da hanseníase. O trabalho lança mão de duas potentes estratégias: identificação de clusters, ou seja, de áreas consideradas de risco para a doença, permitindo uma análise fiel das ações de controle, bem como o diagnóstico precoce; e treinamento em serviço. Trata-se de um trabalho inovador, que garantiu maior adesão e mobilização dos participantes e o devido diagnóstico da situação das ações de controle da hanseníase, fazendo frente a uma doença ainda negligenciada no Brasil. O país é o primeiro do ranking de incidência da hanseníase e o segundo em números absolutos da doença, atrás apenas da Índia.
O capítulo 6 aborda uma estratégia de educação e promoção de direitos em Presidente Figueiredo, no Amazonas. Trata-se da aplicação da educação permanente em saúde, por meio de oficinas, e da participação de usuários, profissionais e gestores de saúde na construção do Plano Municipal de Saúde, com apoio das conferências locais de saúde. Como escrevem os autores desse capítulo, um planejamento participativo possibilitou o fortalecimento da participação social, o conhecimento da realidade das unidades de saúde e a construção colaborativa das ações de saúde a partir dos territórios.
O último capítulo do livro é sobre uma experiência de Santo André, em São Paulo, voltada para o cuidado à saúde de gestantes, usuárias de substâncias psicoativas, vivendo em situação de rua. A equipe cuidadora dessas mulheres fazem parte do Consultório na Rua, sob a gestão da Coordenação de Saúde Mental do município, que, historicamente, investe na diretriz de redução de danos. Entre as ações realizadas estão abordagem, acolhimento, cadastro no SUS, atendimento médico, de enfermagem e redução de danos, avaliação de vulnerabilidade, encaminhamento e transporte para atendimentos em outras unidades de saúde, incluindo serviços de urgência, além de coleta de exames, distribuição de insumos de higiene e preservativos.
O livro é encerrado com o posfácio, assinado pelo historiador Carlos Fidelis Ponte, presidente do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), instituição parceira na edição da publicação. Em alusão às experiências evocadas, Fidelis Ponte afirma que as iniciativas locais implicam elementos essenciais para a conquista de uma vida digna e saudável.
Vozes da Saúde
As experiências destacadas nesta publicação servem, ainda, de pauta para cinco dos atuais 65 episódios de Vozes da Saúde, as experiências da IdeiaSUS, disponíveis no Youtube. A série, produzida pela Plataforma IdeiaSUS Fiocruz e a VideoSaúde Fiocruz, é um ponto de memória de práticas que refletem um sistema público de saúde diverso, potente e presente na vida de milhões de pessoas, espalhadas pelo Brasil.
Para assistir aos episódios de Vozes da Saúde relativas às práticas apresentadas no novo livro da IdeiaSUS Fiocruz, basta clicar sobre cada título abaixo.
– Identificação de Clusters e treinamento em serviço: estratégia para abordagem da hanseníase
– Reduzindo danos e protegendo vidas: cuidado às gestantes em situação de rua
– Equidade no SUS por meio da articulação regional: saúde mental indígena
– Conferências locais de saúde: estratégias de educação permanente para o plano municipal de saúde
– Implantação de rede de atenção e prevenção ao suicídio de Anastácio/MS: uma realidade possível
Acompanhe:
Três experiências estão na centralidade da segunda roda virtual de práticas Sonhar coletivo: experiências de economia solidária na reinvenção da vida, que acontece na próxima quarta-feira, 11 de outubro, às 15h, no YouTube. A live é promovida pela Comunidade de Práticas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (CPSMAP) da Plataforma IdeiaSUS Fiocruz, com apoio do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Laps/Ensp/Fiocruz). A coordenação é de Ana Paula Guljor, do Laps/Ensp/Fiocruz, e Paulo Amarante, curador da CPSMAP.
Cooperativa Social de Saúde Mental Ciranda Samaúma, em Rio Branco (AC): a iniciativa promove a inclusão social e rompe com os estigmas e preconceitos associados às pessoas em sofrimento psíquico, valorizando e estimulando sua autonomia e potencial criativo.
Arte, horta & cia, programa de geração de vida e renda do Museu Bispo do Rosário, no Rio de Janeiro (RJ): projeto que busca estabelecer uma rede de sustentabilidade e autonomia, envolvendo a comunidade local, que inclui oficinas de mosaico, bordado e costura, horta e culinária, tudo baseado na economia solidária.
Rede de Saúde Mental e Economia Solidária de Curitiba e Região Metropolitana - Libersol, em Curitiba (PR): espaço de articulação que congrega instituições e pessoas interessadas em promover ações para fortalecer os princípios da Reforma Psiquiátrica brasileira e da economia solidária, buscando, ainda, contribuir com empreendimentos econômicos solidários da região.
Acompanhe ao vivo:
Um debate sobre o cuidado de mulheres gestantes vulnerabilizadas pela estrutura social, que enfrentam, em seus diferentes encontros ao longo do pré-natal, juízos que as invisibilizam e as invalidam quanto ao desejo da maternidade. Este é o cerne da discussão da roda ‘O desejo da maternidade de mulheres em situação de rua: caminhos necessários para garantia de um direito’. O encontro, que acontece nesta próxima sexta-feira, 6 de outubro, no canal da VideoSaúde no YouTube, das 14h às 16h30, é promovido pela Plataforma IdeiaSUS Fiocruz, através da equipe da Curadoria em Saúde. Esta vem acompanhando, entre outras práticas, a experiência do Consultório na Rua de Santo André (SP), vinculada à Coordenação de Saúde Mental do SUS do município.
Em 2022, a equipe foi contemplada com a primeira edição do Prêmio IdeiaSUS – Fiocruz é SUS, entregue às cinco melhores experiências (uma de cada região do país) participantes da 17ª Mostra Brasil, aqui tem SUS, realizada pelo Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems). O trabalho, que teve como título Reduzindo danos e protegendo vidas: cuidado às gestantes em situação de rua, usuárias de substâncias psicoativas na cidade de Santo André, passou desde então a ser orientado pela equipe da Curadoria em Saúde da IdeiaSUS Fiocruz, recebendo ainda, em 2022, no mesmo contexto, o prêmio Atenção Primária Forte: Caminho Para a Saúde Universal, ofertado pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS).
Do debate, participam: Junia Quiroga, representante auxiliar do Fundo de População das Nações Unidas no Brasil; Maria Ribeiro, professora no Programa de Pós-Graduação em Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP; Marcelo Pedra, pesquisador do Núcleo de Populações em Situações de Vulnerabilidade e Saúde Mental na Atenção Básica (NuPop) da Fiocruz Brasília; e Giancarlo Silkunas Vay, defensor público do estado de São Paulo e professor de Direito da Criança e do Adolescente, Criminologia e Direito Penal.