A Fiocruz recebeu a diretora da Faculdade de Saúde Pública e Políticas da London School of Hygiene and Tropical Medicine (LSHTM), Kara Hanson, da para uma palestra sobre o financiamento da Atenção Primária a partir de uma perspectiva global e a organização dos sistemas de saúde nos países de baixa e média renda. O encontro foi organizado no âmbito do Programa Institucional de Internacionalização (Capes PrInt-Fiocruz). Na oportunidade, também foram tratados novos acordos e cooperações entre a Fiocruz e a LSHTM. A visita se deu como desdobramento de uma missão internacional, realizada pela vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Cristiani Vieira Machado, em julho de 2022, à London School. A palestra está disponível para acesso, em inglês e em português, no canal da Vídeosaúde Distribuidora no Youtube.
Kara Hanson, que também é formada em economia e leciona sobre economia de sistemas de saúde, apresentou um pouco sobre a London School e as Academic Faculties (Institutos) e Medical Research Council (MRC Unities), em Uganda e Gambia. A área de pesquisa em que ela atua é multidisciplinar, sobre os Sistemas de Saúde, e o seu trabalho mais especificamente é na África subsaariana.
A London School of Hygiene & Tropical Medicine é reconhecida por suas pesquisas, estudos de pós-graduação e educação continuada em saúde pública e global, com presença internacional e espírito colaborativo para ajudar a moldar a política de saúde mundial. O MRC fornece financiamento para institutos, unidades e centros de pesquisa em todo o Reino Unido, apoiando a formação com o objetivo de manter e melhorar a saúde humana.
Cooperação em cursos
Em um primeiro momento, a representante da London School demonstrou interesse em entender como os sistemas de saúde são organizados em países de menor potencial financeiro. Compreender, principalmente, como o dinheiro flui nesses sistemas, ou seja, como se dá o financiamento de projetos e pesquisas, o que, segundo Kara, existe uma grande dificuldade de acesso a informações.
A reunião levantou possibilidades sobre uma cooperação na área de doenças crônicas. Também foi colocada em pauta a criação de um curso sobre sistemas de saúde (Health Systems), que já vem sendo planejado desde antes da pandemia do Covid-19, em parceria entre o Reino Unido, London School e o Brasil. A ideia é que países mais pobres, em desenvolvimento, também possam participar do curso. Com isso, Gustavo Matta, coordenador de projetos de pesquisa da Rides - PrInt, levantou a questão do financiamento das participações, fazendo com que o alcance do curso não se limite a pessoas de países de alta renda, ou a possibilidade de o público ser limitado a agentes da Fiocruz e da London School. Foi apontada ainda a ideia de articular e integrar diferentes programas de pós-graduação da Ensp/Fiocruz para realizar esse curso.
Para aprofundar a ideia da cooperação internacional, Gustavo Matta e o pesquisador do Programa de Computação Científica da Fiocruz (Procc/Fiocruz) e coordenador do projeto Rede integrativa para enfrentamento das desigualdades em saúde (Rides – PrInt), Daniel Vilela, passaram uma semana na London School, onde discutiram sobre a efetivação da organização do pequeno curso em Sistemas de Saúde.
Kara também apresentou o Executive Program for Global Health Leaders, que conta com três semanas de mentoria e treinamento em Londres, Genebra e Cidade do Cabo. As bolsas oferecidas por esse programas são financiadas pela Gates Foundation. A especialista apresentou também a possibilidade de organizar o próximo programa em parceria com o Cris/Fiocruz, buscando maximizar a participação de agentes da América Latina e descolonizar a visão eurocêntrica.
A reunião foi importante para levantar temas como violência de gênero e saúde. Vinícius Carvalho, pesquisador do IOC e coordenador da Rede Integrativa de doenças crônicas de origem não infecciosa (Ricroni – PrInt), aproveitou para ressaltar que desigualdades, doenças infecciosas e não infecciosas e doenças crônicas são os programas de foco do PrInt. Para complementar a ideia de Vinícius, Kara apresentou outra possibilidade de cooperação, o Centre for Global Chronic Conditions, e a ideia de um curso sobre condições crônicas e sistemas de saúde.
Kara apresentou também a ferramenta da LSHTM, o Public Health Rapid Support Team (UK-PHRST), que leva especialistas em saúde pública a outros países com objetivo de minimizar a transmissão da Covid-19. Apontando ainda que "existe um esforço para expandir para outras epidemias negligenciadas".
A previsão é que ambas as intituições se encontrem no VII Simpósio de Sistemas Globais de Saúde, que será realizado no final de outubro, em Bogotá, e deem continuidade ao entendimento sobre novas ações conjuntas.
Parcerias entre pesquisadores e a London School
A Fiocruz realizou um levantamento com os pesquisadores de 19 institutos para conhecer parcerias ou interesses em cooperar com a London School. Ao todo, foram recebidas 98 respostas em sete dias: 72 pessoas não tinham projetos, mas apresentaram interesse em cooperar; 9 pessoas já tinham projetos em andamento; 10 têm contatos com pesquisadores da London School, ainda sem projetos, mas com potencial para desenvolver parcerias.
Através do PrInt, a Fiocruz já enviou 8 bolsistas para o doutorado sanduíche no Reino Unido; três professores visitantes para o Reino Unido; e recebeu 3 professores do Reino Unido no Brasil.
Assista ao vídeo com a palestra de Kara Hanson durante o seminário internacional do Programa Institucional de Internacionalização (Capes PrInt-Fiocruz) sobre o financiamento da Atenção Primária: uma perspectiva global
Imagem: arquivo CGE-Internacional
Dentro do chamado Abril Indígena, a Fiocruz, com o apoio da Embaixada do Reino Unido no Brasil, acaba de lançar um guia com ações para incentivar gestores públicos a implantar políticas de enfrentamento à Covid-19 e, assim, mitigar os efeitos nocivos da pandemia sobre populações marginalizadas, como povos indígenas e moradores de favelas, e diminuir as desigualdades de gênero.
A publicação está disponível em acesso aberto na Plataforma Educare:
Até o dia 16/4, segundo dados do Comitê Nacional pela Vida e Memória Indígena, a Covid-19 causou o óbito de 1.038 indígenas, registrou mais de 52 mil casos e afetou 163 povos. O material tem base em evidências científicas e reúne análises detalhadas dos dados da pandemia. O guia, que pode ser acessado aqui, representa o eixo Impactos Sociais do Observatório Covid-19 Fiocruz.
O Abril Indígena é considerado a maior mobilização indígena do país e promove uma ampla programação e atividades nas quatro semanas do mês.
Os pesquisadores do Observatório destacam que a pandemia tem mostrado de forma clara as grandes desigualdades que atingem a população brasileira em todos os níveis. Para os grupos mais vulneráveis, a falta de acesso a direitos básicos e oportunidades foi agravada com a pandemia, aumentando a urgência por políticas públicas que ajudem a diminuir as diferenças.
“Esta é mais uma colaboração com a embaixada britânica, que já vem nos apoiando em diversas frentes de atuação ao longo dos anos e, em especial, neste momento tão difícil para o país. Estamos enfrentando uma crise humanitária de grandes proporções, que atinge as populações de maneira diferente e aumenta ainda mais as desigualdades sociais. Entender esses impactos e oferecer formas de enfrentamento às populações vulnerabilizadas e aos gestores será fundamental para buscarmos uma saída humanitária da pandemia”, comenta a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima.
A seção voltada para povos indígenas é resultado de um trabalho desenvolvido pelas pesquisadoras Ana Lúcia Pontes e Daniela Alarcon, ambas da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). “Fizemos uma consolidação das diversas contribuições que o conjunto de pesquisadores da Fiocruz e do Grupo de Trabalho em Saúde Indígena da Abrasco [Associação Brasileira de Saúde Coletiva] elaboraram ao longo de 2020. O objetivo foi o de dar visibilidade à extrema vulnerabilidade dos povos indígenas na pandemia e sistematizar recomendações e estratégias que podem minimizar os impactos”, explica Ana Lúcia.
A pesquisadora afirma que o grupo considerou importante incluir conteúdos sobre a campanha de vacinação, diante das muitas dúvidas quanto à inclusão dos indígenas no grupo prioritário e também das próprias comunidades sobre a vacina. “As recomendações são bastante amplas e incluem a segurança alimentar e nutricional, o acesso à informação em linguagem adequada e acessível, a proteção territorial, em especial dos povos isolados e de recente contato, até medidas que possam estruturar a resposta da vigilância e da atenção em saúde contra a Covid-19”, observa.
“O trabalho visa atingir um público mais amplo, que inclua gestores, lideranças e intelectuais indígenas que estão no protagonismo do debate do enfrentamento da Covid-19. Tendo em vista as suas vulnerabilidades, indicamos a necessidade da priorização e construção de estratégicas específicas e diferenciadas para os povos indígenas no enfrentamento da pandemia”, sublinha Ana Lúcia.
O guia apresenta 13 medidas urgentes e ações específicas para conter a Covid-19 e relaciona nove fatores que vulnerabilizam os povos indígenas, entre eles a elevada prevalência de outras doenças, as limitações para implementar medidas de prevenção, as dificuldades de transporte e acesso à saúde, a insegurança alimentar, a falta de saneamento básico e a invisibilidade das populações indígenas urbanas. A iniciativa também aponta soluções inclusivas e sustentáveis que ajudariam não apenas no enfrentamento da pandemia, mas também na redução de desigualdades a longo prazo.
Segundo o coordenador do eixo Impactos Sociais do Observatório Covid-19 Fiocruz, Gustavo Matta, “o guia é resultado das pesquisas e atividades do eixo Impactos Sociais do Observatório Covid-19 da Fiocruz. Foi construído por meio de uma ação dialógica e participativa entre pesquisadores e movimentos sociais. Entre eles podemos destacar a força, resistência e criatividade dos movimentos de favelas, que têm sido invisibilizados frente às suas necessidades e vulnerabilidades e excluídos dos debates para formulação de políticas e ações de enfrentamento da Covid-19 nesses territórios”.
Matta ressalta que o guia “apresenta as repercussões da pandemia de Covid-19 sobre a iniquidade de gênero. Especialmente o impacto sobre as mulheres nas dimensões do trabalho, da violência e da pobreza. A interseccionalidade é a marca desse material, que visa dialogar com diferentes grupos, linguagens e visões de mundo”.
Segundo dados divulgados pela Fiocruz, mais de 84% das equipes de enfermagem no Brasil são formadas por mulheres e, entre os profissionais de saúde que morreram em 2020 por síndrome respiratória aguda grave (SRAG), elas foram mais de 55%. Além disso, cerca de 62% das mulheres afirmam atuar diretamente em alguma ação de combate à Covid-19 e seus impactos.
Na linha de frente dos trabalhos essenciais durante a pandemia, as diferenças raciais e de gênero dificultam ainda mais a luta diária. No planejamento de respostas à pandemia e de recuperação pós-pandemia, bem como na construção de informações seguras e confiáveis para tomada de decisão, o guia lembra que é imprescindível considerar as necessidades de mulheres e homens, cis e trans, e minorias de gênero.
Por meio de uma perspectiva crítica e interseccional sobre gênero e raça, este eixo inclui 15 recomendações prioritárias para planos de resposta à pandemia e sugestões estratégicas para implementá-las. Elas incluem escuta ativa aos grupos em vulnerabilidade, diálogo aberto com a sociedade e a busca por decisões baseadas em dados científicos para garantir acesso a direitos humanos, saúde, educação e cultura e ferramentas para inclusão. Além disso, o guia também traz recomendações para combater o preconceito, diminuir a diferença salarial entre homens e mulheres, especialmente para as mulheres negras, e a valorização do trabalho desenvolvido por elas, buscando aumentar o número de mulheres em posições de liderança.
Os dados revelam que, para os 17,5 milhões correspondentes a 6% da população brasileira que habitam favelas, os riscos da pandemia são ainda maiores. O desafio vai além de pensar respostas para os impactos da Covid-19, já que as favelas são espaços construídos pelas desigualdades e que abrangem uma série de interseccionalidades.
Nesses espaços, populações inteiras vivem em habitações precárias, com oferta insuficiente de abastecimento de água e saneamento básico e outros problemas que afetam as condições relacionadas à saúde. Agravando ainda mais o cenário, a maior parte dos moradores das favelas não pode trabalhar de casa e muitos perderam as fontes de renda durante a pandemia. Tudo isso impede que essas pessoas se beneficiem das medidas de distanciamento social em proteção contra a doença, aumentando o risco de contágio e contribuindo para o aumento da taxa de letalidade, que chega a quase 20%.
A situação de crise sanitária e humanitária exige resposta urgente. O guia reúne e analisa dados de boletins epidemiológicos da Fiocruz sobre favelas que explicam os desafios do enfrentamento à pandemia nessas condições e traz nove recomendações para combater os impactos do vírus. As recomendações incluem testagem em massa e aprimoramento dos dados georreferenciados produzidos sobre as favelas, além da garantia a serviços de saneamento básico e limpeza urbana e proteção social. Além disso, o guia reconhece a importância de apoiar os moradores no protagonismo de iniciativas que surgem nas favelas para as favelas.
O British Council e o Imperial College London, em parceria, oferecem seis bolsas de mestrado nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM, na sigla em inglês) para estudantes mulheres do Brasil, Argentina, Colômbia, Cuba, Jamaica, México, Peru ou Venezuela. As oportunidades são para as áreas de engenharia química; engenharia ambiental; mudanças climáticas; ecologia, evolução e conservação; aprendizado de máquina e dados ambientais; tecnologia ambiental; química verde; manejo de recursos hídricos; gerenciamento internacional de saúde; energias sustentáveis; transportes; taxonomia, biodiversidade e evolução.
As candidatas devem comprovar sua necessidade de apoio financeiro e como podem inspirar futuras gerações de meninas a escolherem carreiras nas áreas STEM.
O prazo para conseguir um convite das instituições parceiras no Reino Unido é 19 de março, podendo aplicar até o dia 26/3.
Imagem: Freepik