A abertura do ano acadêmico da Fiocruz, nesta sexta-feira (22/3), contou com uma conferência da subsecretária-geral da ONU e diretora-executiva do Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa), Natalia Kanem. Com o tema Desafios globais e oportunidades para o avanço das agendas CIPD e 2030: garantindo direitos e escolhas para mulheres e jovens, a conferência lotou o auditório do Museu da Vida, no campus de Manguinhos da Fundação. Antes da aula inaugural, houve uma homenagem à vereadora Marielle Franco, assassinada há pouco mais de um ano, e uma apresentação do grupo Filhas de Maria, formada por quatro mulheres de Manguinhos, bairro onde está sediada a Fiocruz, que em suas músicas canta o cotidiano da região e critica o racismo e o machismo.
O Ministro de Saúde do Paraguai, Julio Mazzoleni, que está em visita oficial ao Brasil, foi o primeiro a falar. Ele se disse impressionado com as características da Fiocruz e sua bem-sucedida fusão de tradição e modernidade. Depois dessa primeira intervenção, formou-se a mesa de abertura, que teve as presenças da representante da Associação dos Pós-Graduandos da Fiocruz (APG-Fiocruz), Helena de Oliveira, da vice-presidente do Sindicato dos Servidores de Ciência, Tecnologia, Produção e Inovação em Saúde Pública da Fiocruz (Asfoc-SN), da Mychelle Alves Monteiro, da consultora em Gênero e Saúde da Opas no Brasil, Ana Gabriela Sena, do representante do Unfpa no Brasil, Jaime Nadal, da vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Cristiani Vieira Machado, e da presidente da Fundação, Nísia Trindade Lima.
Cristiani Machado defendeu o Sistema Único de Saúde (SUS), a igualdade e o compromisso social e lembrou que a desigualdade atinge sobretudo as mulheres e os jovens. “Na próxima semana vamos lançar cinco editais importantes, sendo que um deles se destina às meninas na ciência”. A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, sublinhou a alegria e a honra em receber a subsecretária-geral Natalia Kanem e afirmou que a Fundação tem um compromisso com a Agenda 2030, o que levou a instituição a se articular internamente para estabelecer uma instância que cuida do tema e que busca atingir os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). “A erradicação da pobreza em todas as suas formas e dimensões, incluindo a pobreza extrema, é o maior desafio global e um requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável”, disse.
Enquanto isso, Helena Oliveira pediu aos alunos da Fiocruz que não se esqueçam de que a vida acadêmica não se limita à produtividade e que a luta por acesso e igualdade torna a pós-graduação um curso com mais qualidade e encorajou-os à mobilização. Mychelle Alves reafirmou a defesa da Asfoc-SN de políticas sociais que visem ao bem-estar da população, em especial aos mais desfavorecidos, e com a construção de um projeto de país que seja inclusivo, soberano e sustentável.
Para Ana Gabriela Sena, a Agenda 2030 requer mudanças e deve criar oportunidades para todos. “Para a Opas a igualdade de gênero é fundamental. Temos que empoderar as mulheres, sem deixar ninguém para trás”. Jayme Nadal afirmou que Unfpa e Fiocruz têm uma relação sólida e tradição em cooperação em políticas públicas e com um diálogo articulado.
Antes da conferência, Nísia homenageou a memória de Marielle Franco entregando uma placa à irmã da vereadora, Anielle Franco. A presidente também homenageou dois funcionários mortos há pouco tempo: o ex-presidente da Fiocruz Luiz Fernando Ferreira e o consultor-científico do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) Reinaldo Martins.
Após as homenagens e intervenções iniciais, teve início a conferência de Natalia Kanem. Ela disse que quer mais colaboração com a Fiocruz, tendo como foco os ODS e os direitos da mulher e dos jovens, e agradeceu o apoio financeiro e técnico do Brasil. “Os direitos humanos são a base para a paz e a prosperidade e formam os pilares da ONU”. Natalia disse que desde 1994, quando houve a Conferência sobre População e Desenvolvimento (CIPD) das Nações Unidas no Cairo, que os direitos sexuais e reprodutivos vêm sendo alicerçados no mundo. “Vinte e cinco anos depois, ainda é o espírito daquela conferência que nos anima e impulsiona. As pessoas, especialmente as mulheres, precisam ser protagonistas de suas vidas, como seres humanos autônomos. Por isso precisamos de mais e mais educação, inclusive sexual, para que tragédias que se repetem ao redor do mundo possam desaparecer”.
Ela afirmou que há o que comemorar. A mortalidade infantil, por exemplo, caiu de 143 para 65 por mil. O número ainda é grande, mas o avanço é inegável. Mas há muito o que fazer. “Cerca de 300 mil mulheres morrem anualmente devido à falta de condições adequadas de saúde. São 830 mulheres por dia, muitas delas meninas. Em todo o planeta, 15 milhões de meninas menores de idade vivem casamentos forçados com homens mais velhos e uma em cada três mulheres sofreu ou sofrerá algum tipo de violência, E uma em cada cinco meninas já está casada antes dos 18 anos, sendo que 12% casam antes dos 15 anos”, comentou Natalia, que também relatou o cada vez mais comum o estupro em situações de guerras e conflitos militares.
Natalia citou ainda a mutilação genital (extração do clitóris), que atinge cerca de 200 milhões de mulheres. Um número que, de acordo com a subsecretária-geral, será acrescido este ano de mais 4 milhões de mulheres. “Em parceria com o Unicef, fazemos campanhas em muitos países para que esse costume seja erradicado. Precisamos dar voz às mulheres, dar a elas o poder de escolher o que querem para suas vidas. Em famílias menores a mulher é soberana. Todo ano, nascem em torno de 7 milhões de bebês cujas mães são meninas”.
A subsecretária-geral criticou o que chamou de “incapacidade coletiva” para resolver essas questões. “No Brasil, por exemplo, o número de jovens de 15 a 19 anos com HIV dobrou nos últimos anos. Isso tem muito a ver com a polarização política que freia as políticas públicas. Por isso é tão fundamental recuperarmos a narrativa, baseados em evidências científicas. O futuro depende do investimento em mulheres e jovens. Milhões de meninas não sabem ler e consequentemente não estudam. Como vão mudar suas vidas? Queremos zero desigualdade, zero mortalidade infantil e materna, zero violência de gênero”.
Em todo o mundo, segundo Natalia, apenas metade das mulheres têm controle sobre as questões reprodutivas e sexuais. “Portanto, requer que enfrentemos as causas desse problema não apenas empoderando as mulheres e meninas, mas também envolvendo homens e meninos. Os jovens precisam ter esse conhecimento antes que sejam sexualmente adultos. A escola é o espaço adequado para levarmos esse conhecimento a eles. E também necessitamos reformar as legislações, protegendo mulheres e jovens”. Natalia observou que o desafio é de todos e que somente assim os grupos desfavorecidos terão voz e protagonismo. “Assim as mulheres poderão tomar suas decisões e defender seus direitos”.
A Conferência sobre População e Desenvolvimento (CIPD) das Nações Unidas, realizada no Cairo em 1994, resultou na elaboração de uma agenda (CIPD) apontando um compromisso comum para o alcance do desenvolvimento sustentável com equidade para todas e todos por meio da promoção dos direitos humanos e da dignidade, apoio ao planejamento familiar, saúde sexual e reprodutiva e direitos, promoção da igualdade de gênero, promoção da igualdade de acesso à educação para as meninas e eliminação da violência contra as mulheres, entre outros.
No 20º aniversário da CIPD, a Assembleia-Geral da ONU, em uma sessão especial, apelou aos países para que cumprissem os compromissos assumidos no Cairo e abordassem as desigualdades crescentes e os desafios emergentes, como delineado no Relatório Global da CIPD Além de 2014, lançado pelas Nações Unidas, que coloca os direitos humanos e a dignidade individual no coração do desenvolvimento.
Todos os anos, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) inicia o ano letivo com uma grande Aula Inaugural, que é aberta a todos. Em 2019, o tema do encontro será Desafios globais e oportunidades para o avanço das agendas CIPD e 2030: garantindo direitos e escolhas para mulheres e jovens. A aula será no dia 22 de março, a partir das 9h, no Auditório do Museu da Vida (Av. Brasil, 4365, Manguinhos, Rio de Janeiro).
Este ano, a convidada é Natalia Kanem, subsecretária geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e diretora executiva do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). Natalia ocupa um dos cargos mais altos entre as mulheres nas Nações Unidas, além de ser a primeira mulher latino-americana a dirigir a UNFPA. Ela tem mais de 30 anos de experiência em liderança estratégica nas áreas de medicina, saúde pública e reprodutiva, paz, justiça social e filantropia.
A Aula Inaugural de 2019 aborda os desafios propostos por duas importantes agendas globais, no que se refere aos direitos das mulheres: a Agenda 2030 e a agenda da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (CIPD).
A Agenda 2030 é um plano de ação estabelecido pela ONU, que se baseia em 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), sendo o número 5 a igualdade de gênero.
Já a CIPD foi uma conferência que ocorreu no Cairo em 1994, promovida pela UNFPA, e resultou na elaboração de uma agenda de compromissos para o alcance do desenvolvimento sustentável, dentre os quais destacam-se a promoção da igualdade de acesso à educação para as meninas e a eliminação da violência contra as mulheres.
A Fiocruz cada vez mais abraça as causas relacionadas aos direitos das mulheres. Este ano, o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência foi celebrado pela primeira vez na Fundação, numa roda de conversa com pesquisadoras que contaram sobre suas trajetórias científicas. A data foi estabelecida pela ONU, também em consonância com os ODS da Agenda 2030.
Acompanhe a transmissão da aula inaugural ao vivo*, pelo link!
*Atualizado em 19/3/2019.
No dia 22/3, às 9h, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) inicia oficialmente o ano letivo com a sua grande Aula Inaugural. O tema do encontro será Desafios globais e oportunidades para o avanço das agendas CIPD e 2030: garantindo direitos e escolhas para mulheres e jovens e a convidada deste ano é Natalia Kanem, subsecretária geral da Organização das Nações Unidas (ONU).
Todos são bem-vindos! O local é o Auditório do Museu da Vida (Av. Brasil, 4365, Manguinhos, Rio de Janeiro), no campus da Fiocruz.
Além da grande Aula Inaugural, organizada pela Presidência da Fiocruz, há outras aulas inaugurais de unidades da Fundação. São diversos temas relevantes nos campos da ciência, saúde e educação, que fazem parte da agenda de abertura do ano.
A aula da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) da Educação de Jovens e Adultos (EJA-Manguinhos) abordou o tema da cultura na favela e recebeu lideranças e referências culturais das comunidades da Maré e Manguinhos (saiba mais).
Já a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) falou sobre mineração extrativista e o bem-estar das populações, ao abordar o desastre de Brumadinho (saiba mais).
*Atualizado em 1/4/2019.