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Publicado em 06/10/2022
Destaques

Revista Trabalho, Educação e Saúde passa a ser anual e traz novidades

Autor(a): 
Fabiano Gama

A Trabalho, Educação e Saúde (TES), revista científica editada pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), chega, em 2022, ao seu volume 20, e traz algumas mudanças e novidades nessa edição.

A primeira grande mudança percebida na revista é quanto à sua periodicidade. Desde a sua primeira edição, em 2003, a divulgação era quadrimestral, totalizando três publicações ao longo do ano. A partir de 2021, a TES passou a adotar a publicação contínua de artigos, tornando-se uma revista anual.

Outra mudança diz respeito ao conteúdo. Durante a pandemia, a revista passou a abordar assuntos que envolvessem a questão da Covid-19. Na edição do último ano, artigos sobre todas as temáticas voltaram a ser publicados, decisão que vem se refletindo na vigésima edição, publicada em 2022.

Em meio à várias temáticas, dois artigos se destacam nesta última edição: “Desvelando o racismo na escola médica: experiência e enfrentamento do racismo pelos estudantes negros na graduação em Medicina”, de Vanessa Fredrich et al.; O segundo, “Educação física, gênero e mercado de trabalho: percepções de mulheres sobre a futura área de atuação profissional”, de Bruno O. Ungheri et al.

Em seu artigo sobre o racismo na escola médica, Vanessa Frederich evidencia formas de manifestação do racismo e mostra como os estudantes negros enfrentam essa questão. Em 2019, 28% dos estudantes egressos de cursos de Medicina no Brasil eram negros. A pesquisa foi conduzida de forma exploratória e qualitativa, por meio de entrevistas semiestruturadas online, com os objetivos de desvelar as formas de manifestação do racismo na graduação de Medicina e compreender como estudantes negros encaram o racismo.

O artigo mostra que as dimensões do racismo internalizado, interpessoal e institucional se sobrepõem, evidenciando seu caráter estrutural, atrelado ao desenvolvimento histórico-econômico do nosso país. Em nível interpessoal, a crença de inferioridade dos estudantes negros é reforçada nos olhares, piadas ou comentários. Em nível institucional, a pesquisa revela que nega-se a necessidade do estudo da saúde da população negra, enquanto a baixa representatividade no corpo docente e discente não é percebida como expressão do racismo.

Bruno O. Ungheri, em sua pesquisa sobre educação física, gênero e mercado de trabalho, analisa a condição feminina nesse espaço profissional e constata a assimetria de salários entre homens e mulheres, e a predominância de homens cisgêneros, brancos e heterossexuais nas posições de liderança.

O estudo analisou a perspectiva de graduandas em Educação Física sobre o exercício de sua futura profissão, o mercado de trabalho e as questões de gênero. A análise foi dividida em quatro categorias: condição da mulher, enfrentamento dos estereótipos, percepções sobre a Educação Física e o mercado da Educação Física para elas. Concluiu-se que as estudantes prospectam enfrentar um mercado de trabalho desvalorizado e marcado por desigualdades entre homens e mulheres.

Dentre as várias temáticas da linha editorial da revista, o periódico traz também pesquisas originais sobre o trabalho do profissional farmacêutico na Atenção Primária em Saúde, o processo de construção da identidade profissional de assistentes sociais, a formação de agentes comunitárias em saúde e de técnicos em saúde para o SUS, paradoxos e limites da colaboração interprofissional em saúde mental e acesso precário à Atenção Primária em Saúde na região amazônica, entre outras.

As notas de conjuntura da TES trazem sempre temas candentes sobre o cenário atual. Neste volume, a primeira nota discute a polêmica sobre a autonomia médica no contexto da pandemia de Covid-19, e a segunda debate o negacionismo científico baseado no discurso que relativiza critérios de busca e definição da verdade e que é potencializado pela indústria de fake news.

A primeira nota expõe que há diversas divergências e disputas entre profissionais de saúde, pesquisadores e entidades regulamentadoras, sobre tratamentos prescritos para a Covid-19. Diante desse cenário, esta nota se propõe a discutir a autonomia médica, com base em documentos oficiais do Conselho Federal de Medicina brasileiro, produzidos entre 2020 e 2021, considerando as possibilidades terapêuticas mencionadas. Foram obtidos três documentos oficiais que evidenciam como única forma de autonomia a ‘autonomia médica’, enquanto a ‘autonomia do paciente’ não é evidenciada no que tange à adoção de terapêuticas.

A segunda nota debate o negacionismo científico com base em duas referências principais. A primeira é de ordem epistemológica e remete ao discurso pós-moderno sobre a ciência, com sua relativização dos critérios de busca e definição da verdade. A segunda referência são discussões sobre o processo de formação de opiniões, concepções de mundo e convicções do que o filósofo italiano Antonio Gramsci chamou de ‘homem do povo’. São usados, para esse fim, o conceito de senso comum. Defende, por fim, que é preciso reafirmar a objetividade como um critério da ciência no debate epistemológico, mas que é igualmente necessário enfrentar esse problema no terreno da luta de classes, fortalecendo relações orgânicas de identidade e confiança como parte da disputa de hegemonia.

Confira a vigésima edição da Revista Trabalho, Educação e Saúde, e todas as edições anteriores.