A indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão é um dos pilares do Programa de Extensão da Pós-Graduação (Proext-PG), uma nova modalidade de chamada implementada pela Fiocruz em 2025, que envolve estudantes de pós-graduação e graduação em atividades de extensão acadêmica desenvolvidas no âmbito de programas de pós-graduação da Fundação. A iniciativa está em sua primeira edição, e, tal qual a publicação da chamada, inova à medida em que implementa uma comissão de avaliação composta não somente por pares acadêmicos, mas também por pessoas que atuam nos territórios. A chamada selecionou um total de 12 projetos para apoio financeiro e 8 bolsas de iniciação à extensão (IEXT).
O Proext-PG Fiocruz é financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e tem como objetivo a formação plural e inclusiva do estudante nas suas mais diversas dimensões, com foco ainda no fortalecimento da interação entre a Fiocruz e a sociedade, gerando resultados que impactem positivamente o território no qual as pesquisas serão desenvolvidas.
Nesta primeira edição, foram selecionados projetos ligados aos Programas de Pós-Graduação em Biologia da Interação Patógeno-Hospedeiro do Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia); Políticas Públicas em Saúde (mestrado profissional - Profsaúde) da Fiocruz Brasília; Ciências da Saúde do Instituto René Rachou (Fiocruz Minas); Biociências e Biotecnologia em Saúde do Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz Pernambuco); Biologia Parasitária, Biologia Celular e Molecular, e Biodiversidade e Saúde, todos os três ligados ao Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz); Informação e Comunicação em Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz); História das Ciências e da Saúde, e Preservação e Gestão do Patrimônio Cultural das Ciências e da Saúde, ambos oferecidos pela Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz); Saúde da Família (mestrado profissional - Profsaúde) da Fiocruz Mato Grosso do Sul; e Pesquisa Translacional em Fármacos e Medicamentos do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos).
A Política de Extensão Acadêmica da Fundação — um texto ainda em elaboração interna — baseia-se nos mesmos alicerces da Política Nacional de Extensão Universitária, considerando a realidade da Fundação, mas tendo como diretrizes a interação dialógica, a interdisciplinaridade e interprofissionalidade; a indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão; o impacto na formação das pessoas que estudam na Fiocruz; e o impacto e transformação social.
Quebra de paradigmas e transformação social
A Coordenadora Adjunta do Lato Sensu da Coordenação-Geral de Educação (CGE/VPEIC), Mariana de Souza — responsável pela elaboração e execução da nova chamada —, descreveu a iniciativa como um feito histórico para a área. De acordo com ela, o Proext-PG trouxe duas grandes mudanças em relação ao que tradicionalmente é feito: “A primeira foi a obrigatoriedade de inserção, como membros da equipe, de pessoas do território no qual os projetos acontecerão, deixando de aparecerem somente como objetos de estudo. A segunda diz respeito à forma de avaliação. Desde a sua elaboração, o edital previu a participação de pessoas que atuam nos territórios, pois entendemos que, se uma ação vai interferir em determinado local, ninguém melhor do que quem atua no território para avaliar a pertinência de um projeto”, detalhou Mariana.
Além do grupo de condução da CGE/VPEIC, uma representante do Comitê Gestor do Proext-PG, Márcia Lenzi, e três pessoas convidadas — uma acadêmica, Edla Herculano; e duas pessoas com inserção em territórios: Emmanuele Costa, historiadora de favelas que atua no Dicionário de Favelas Marielle Franco, e Fernando Gonçalves, que, entre outras atividades, atua no Pré-Vestibular Popular Construção, ambos projetos que tem interface com a Fiocruz —, fizeram parte da equipe de avaliação e integraram a banca de seleção da chamada. De maneira complementar, todos demonstraram entusiasmo com a abordagem e inserção da perspectiva territorial no processo e fizeram destaques.
Edla Herculano falou sobre a participação dos territórios como parceiros e não meros receptores de atividades. Para ela, sem dúvidas um avanço no qual instituição, estudantes e sociedade saem ganhando. Já Emmanuelle Torres Costa rememorou antigos esforços para "quebrar", de maneira imaginária, os muros que cercam a Fiocruz, salientando que pensar atividades extensionistas intimamente relacionadas com os territórios e que convoquem os mesmos para atuarem em colaboração é sinal de transformação social. "Precisamos, cada vez mais, que pessoas de favelas, periferias, aldeias e quilombos sejam reconhecidas como produtoras de conhecimento e tenham destaque na produção de ciência. A extensão é um pequeno passo no oceano de possibilidades de construção coletiva que temos dentro da Fiocruz", comentou.
Marcia Lenzi falou da alegria em participar das diversas etapas da iniciativa e acompanhar de perto seus frutos, sempre buscando parcerias com instituições diversas distribuídas pelo país. "Projetos de extensão são como pontes fundamentais entre o conhecimento acadêmico e as demandas reais das comunidades, especialmente em territórios historicamente marginalizados, como favelas, periferias urbanas e regiões interioranas", disse Fernando Caldeira Gonçalves, defendendo que a troca de saberes promove a cidadania e contribui para a transformação social. Para ele, projetos de extensão são ferramentas poderosas para a justiça social, pois são capazes de conectar a Fundação aos territórios que mais precisam de apoio, transformando realidades e também desafiando a própria instituição a repensar seu lugar na sociedade. Investir nesses programas é investir na construção de um futuro mais inclusivo, onde o conhecimento sirva, de fato, à emancipação social.
Encontros Virtuais e Câmara Técnica de Educação
Essa temática já vem sendo estudada e debatida pela comunidade educacional da Fiocruz. Em setembro de 2024, a Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC) organizou uma edição do Encontros Virtuais da Educação, e recebeu a pró-reitora de Extensão da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ivana Bentes para o debate. A ideia foi fomentar o desenvolvimento da política interna de extensão, pensando suas bases e questões estratégicas e essenciais para sua concepção.
De maneira mais recente, o Programa de Extensão da Pós-Graduação (Proext-PG Fiocruz) também foi pauta de apresentação e discussão na Câmara Técnica de Educação. O encontro realizado em 8 de julho marcou o fim das contribuições ao texto da Política de Extensão da Fiocruz. A partir disso, todos as propostas recebidas serão avaliadas e consolidadas, e o texto seguirá para aprovação do Conselho Deliberativo (CD Fiocruz). Na ocasião, Mariana Souza também teve a oportunidade de dividir com a comunidade educacional da Fiocruz os resultados da experiência da chamada interna.