Atualmente, a Fiocruz oferece 35 programas de residências em saúde, 31 ofertas diretas e mais 4 iniciativas de cooperação, formando centenas de profissionais aos longo dos anos para atuarem diretamente na ponta do atendimento à população. Buscando periodicamente avaliar quais são as necessidades de saúde e os desafios da formação dos novos trabalhadores, a Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC), por meio da Coordenação Adjunta de Residências em Saúde (CGE) e do Fórum de Coordenadores de Residências em Saúde, realizou o III Seminário Integrado das Residências em Saúde. Com o tema "A formação que queremos para o SUS nas residências", o encontro reuniu diferentes atores da área, discentes e representantes da Fiocruz, do Ministério da Saúde e da Educação (MS e MEC); além das comissões de residências médica e multiprofissional.
+ O evento foi transmitido pelo canal da VideoSaúde no Youtube e pode ser visto na íntegra aqui!
Durante a mesa de abertura - composta pela coordenadora-geral de Educação (CGE/VPEIC/Fiocruz), Eduarda Cesse, a coordenadora adjunta de Residências em Saúde (CGE/VPEIC/Fiocruz), Adriana Coser, a coordenadora de Assistência da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS), Patrícia Canto, o secretario Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Daniel Soranz, a representante da Coordenação de Equidade, Diversidade, Inclusão e Políticas Afirmativas (Cedipa) Roseli Rocha; e o representante da Associação de Pós-Graduandos da Fiocruz (APG/Fiocruz-RJ) Matheus Rodrigues -, Patrícia pontuou que residência é essencialmente aprendizado e assistência; é onde se aprende, mas também onde assumem-se responsabilidades, disse a assessora da VPAAPS.
Já Roseli abordou a importância do desenvolvimento de políticas e da devolutiva dessas formações em residência à sociedade. No entanto, para ela, um ponto de grande destaque para a formação dos profissionais de saúde é a luta contra as desigualdades. "Esse deve ser um compromisso de todos nós. Defender a equidade enquanto um princípio do SUS, combater as desigualdades sociais, desigualdades ético-raciais e de gênero não é algo facultativo para quem atua na saúde. Temos que assumir isso como um dever ético", afirmou ela, com o apoio unânime dos demais integrantes da mesa quanto a essa necessidade.
A Fiocruz oferta residências desde a década de 1970, lembrou Adriana Coser, apontando que os desafios são inúmeros, especialmente no que tange a afinar essa formação para o SUS. Segundo ela, "este é o momento de identificar os processos educacionais da trajetória formativa de um futuro profissional, preparando-os para um sistema único de saúde antenado ao futuro, mas também ao presente, atentos ao que está acontecendo no contexto brasileiro". O atual secretario de saúde do RJ, Daniel Soranz, que é pesquisador da Fiocruz e já atuou como preceptor de residentes e durante anos integrou equipes de Saúde da Família, atuando nas comunidades do Complexo de Manguinhos atendidas pelo Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (CSEGSF/Ensp/Fiocruz), afirmou acreditar que a residência é o melhor modelo para formar profissionais de saúde para o SUS, apontando que a prefeitura tem uma séria política de investimentos nos programas multiprofissionais e médicos.
"Hoje, de cada 10 médicos de família diplomados no Brasil, 7 foram formados na cidade do Rio de Janeiro. Isso não acontece à toa, é fruto de recurso, vontade política e muito planejamento. Temos a maior residência médica e multiprofissional aqui no Rio e isso se deve à parceria estabelecida com a Fiocruz, por meio da Ensp, disse ele, enaltecendo ainda a importância da Fiocruz no Centro-Oeste com a oferta de residência no Mato Grosso do Sul, que é jovem, mas já bastante relevante para a Região. "Temos que olhar os números e valorizar o residente nas suas responsabilidades, sua formação para a sociedade e para o SUS, considerando a fixação desses profissionais, pois nos locais em que temos residência, aumentamos cobertura", defendeu ele.
A mesa-redonda trouxe o debate em torno do tema ‘Residências em saúde: qual a formação necessária para o atual contexto do SUS?’, com a participação de Paulo Pinho, coordenador-geral de Residências em Saúde – Secretaria de Ensino Superior/MEC; Priscila Souza, coordenadora-geral de Residências – Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde/MS; e Rodrigo Cariri, da Comissão Nacional de Residências Médicas.
O debate abordou os desafios e os avanços necessários para, cada vez mais, termos uma formação de excelência, no sentido de termos profissionais plenamente qualificados e seguros para todos os desafios que o Sistema Único de Saúde traz, preparando estes profissionais para as adversidades no campo da saúde coletivo e para o conceito de necessidades de saúde. Nesse sentido, a Fiocruz tem uma formação comprometida com as diretrizes e com as políticas do país.
Cariri iniciou sua apresentação com foco em demonstrar que é a residência médica no Brasil. Ele trouxe dados do Sistema da Comissão Nacional de Residência Médica (SisCNRM) que apontam um total de 1.037 instituições que oferecem programas de residências, totalizando 7.294 programas (até agosto/2024), e fez um comparativo com os programas stricto sensu. Mostrou a concentração de programas por estados e falou sobre a dinâmica migratória de médicos especialistas, além de apresentar a quantidade de vagas autorizadas e ocupadas e a concorrência de acordo com as especialidades.
Priscila reforçou o papel das residências em saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde, que tem um padrão de excelência, sendo reconhecido como o modelo ideal na formação de especialistas. Ressaltou os desafios enfrentados pelos gestores do SUS e a centralidade do papel do preceptor durante o processo formativo. Trouxe também alguns exemplos de Projetos Pedagógicos alinhados às políticas do SUS e ações para expansão e qualificação das residências no país.
Pinho relatou também dados quantitativos de médicos registrados, totalizando mais de 428 mil registrados pelo MEC no SisCNRM, e mais de 341 mil formados em algum programa de residência médica, presentes em todo o país, elucidou os desafios, quantitativos de especialidades e a distribuição de vagas em programas de acesso direto e também a divisão por estados.
Durante a tarde do Seminário, foram apresentados relatos de experiências de residências em saúde no país, onde foi possível compartilhar experiências de formação interprofissional em rede no SUS e para o SUS nas residências. Participaram da mesa Dinaci Ranzi, das Residências em Saúde de Campo Grande (MS) e Dourados (MS), Bruno Ferrari Emerich, da Residência Multiprofissional de Saúde Mental da Unicamp, e Paulo Henrique D’Angelo Seixas, da Rede Colaborativa para Estudos Estratégicos da Força de Trabalho em Saúde no Brasil. A mesa foi moderada por Adriana Coser.
Os participantes trouxeram ao público apresentações que alavancaram ponto importantes nas parcerias da Fiocruz com as equipes das secretarias municipais de saúde. Foram debatidos pontos como gestão responsável dos processos de trabalho, contribuição com unidades pilotos, ampliando o acesso aos usuários, implantação de programas de residência, processo de avaliação na formação, teleconsulta e teleinterconsulta, atuação dos residentes nos programas de pós-graduação.
Experiências da participação dos residentes na cogestão dos departamentos através da realização de seminários clínicos, avaliação de disciplinas também foram ressaltadas como um importante movimento. Os debatedores apresentaram ainda dados relevantes das residências, como o aumento da cobertura das APS, média de resolutividade nas unidades dos projetos e quantitativo de egressos e expectativas para os próximos anos.
Assista ao III Seminário Integrado das Residências em Saúde na íntegra:
Programa de Estágio Internacional para as Residências Médica e Multiprofissional em Saúde
Uma semana antes desse encontro de integração institucional, a Fiocruz sediou ainda o Seminário 'Experiência Brasil-Cuba na Atenção Primária à Saúde', fruto de uma já antiga cooperação entre a Fundação, a Escola Nacional de Saúde Pública de Cuba (Ensap) e o Instituto Nacional de Higiene, Epidemiologia e Microbiologia de Cuba (Inhen). O evento foi organizado pela Coordenação de Atenção à Saúde da Vice-presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS/Fiocruz), e reuniu residentes, preceptores e demais envolvidos no Programa de Estágio Internacional para as Residências Médica e Multiprofissional em Saúde.
A oferta de intercâmbio teve início na Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) e, por intermédio da VPAAPS, ampliou-se para uma grande cooperação institucional da Fiocruz com a Ensap e o Inhen. Atualmente, além da Ensp, o intercâmbio envolve turmas formadas por residentes o Instituto Aggeu Magalhães (IAM/Fiocruz Pernambuco), do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) e do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz).
Sobre o estágio internacional, ainda na ocasião do III Seminário, Patrícia Canto comentou que essa tem sido uma experiência muito rica. Ela lembrou que apenas em maio de 2024 foi possível ampliar esse estágio para além da Ensp, ofertando vagas para 14 estudantes de diferentes unidades. "Foi uma grande oportunidade de mostrar um sistema de saúde que inspira a todos aqueles que acreditam em um sistema público, igualitário, universal, para todos, como temos aqui no Brasil. Temos muito a aprender e trocar entre essas duas escolas - Fiocruz e Ensap - e pretendemos agora ampliarmos esse convênio com o Ministério da Saúde de Cuba para que possamos avançar na trocas de saberes entre essas duas nações irmãs", disse ela.
+Saiba mais: Formação Internacional: Residentes da Ensp participarão de estágio em Cuba