Sobre o curso
Falsas notícias, fatos alternativos, conspiração, pós-verdade: existem inúmeros nomes usados para explicar fenômenos atuais de difusão de conteúdo aos valores informacionais extremamente diversificados (Tandoc, Lim e Ling, 2017). Essa inflação semântica atesta bem a dificuldade dos analistas em identificar e compreender o ecossistema da informação contemporânea (Jouët e Rieffel, 2013), em um mundo marcado por incerteza e dificuldade em manter a confiança em diferentes níveis da sociedade (Laufer e Orillard, 2000).
O assunto é complexo, preocupando não só os produtores tradicionais de conteúdo informativos, mas também novos produtores, tanto públicos como privados e assim como os cientistas (Edelman, 2017, 2018). Muitas iniciativas de verificação de fatos são implementadas, mas são frequentemente problemáticas (Bigot, 2018) por pelo menos duas razões. A primeira diz respeito à autoridade que oferece esse tipo de verificação: os especialistas tradicionais. Essas tentativas de restabelecer representações compartilhadas se deparam com os muitos casos em que a expertise tradicional não é mais confiável (Badouard e Mabi, 2015a; Coutant, 2014).
Qual o sentido de abrigar uma coluna que disseca as representações que circulam em torno da saúde, quando é a instituição jornalística que a emite que provoca desconfiança entre o público? A segunda é a dificuldade de decidir sobre a verdade de muitos conteúdos. Embora seja concebível controlar a factualidade de certas informações, muitos dos fenômenos agrupados sob o nome de informações falsas são mais controversos, a partir dos quais não surge consenso, conflitos de interpretação, valores ou representações que não são facilmente categorizados nos registros de verdade e falsidade (Badouard e Mabi, 2015b, Origgi, 2006).
Essas questões refletem problemáticas tradicionalmente abordadas nas ciências da comunicação (Brétéché e Cohen, 2018, Breton e Proulx, 2012, Chambat-Houillon, 2018). Os referenciais teóricos e abordagens que eles desenvolveram tornam possível entender que não é suficiente pronunciar um discurso ou formalizar um conhecimento, é preciso também ser reconhecido como credível, legítimo, confiável, competente, sincero, benevolente, etc (Quéré, 2001). Além das visões de informação estáticas ainda muito difundidas, elas enfatizam que a comunicação como fenômeno social vai muito além da transmissão de informações, que seriam consideradas como dados pré-existentes aos fenômenos de comunicação. Pelo contrário, são construídos, difundidos e interpretados de acordo com lógicas complexas. A pesquisa permite, assim, compreender os mecanismos pelos quais se chega a conceder credibilidade de um conteúdo, bem como atualizar as regras para a construção de discursos que facilitem seu reconhecimento (Demortain, 2015; Jouët e Rieffel, 2013; Le Deuff, 2006; Quéré, 2005).
O objetivo é disseminar essas abordagens para tomadores de decisão, educadores, pesquisadores e produtores de informações afetadas pelas notícias falsas. Atividades em sala de aula conduzirão à apropriação de leituras originais para esses fenômenos, bem como à aplicação de métodos concretos para qualificar a informação ou produzi-la, promovendo seu reconhecimento (Breton, 2015; Catellani, Domenget e Le Moing Maas, 2017; Quéré, 2001).
As contribuições serão, portanto, classificadas em duas categorias: teóricas, com a atribuição de chaves de leitura, que nos permitem abordar com precisão os mecanismos subjacentes à atual centralidade das informações falsas; e práticas, fornecendo métodos e técnicas para encontrar seu caminho dentro do ecossistema informacional e produzir conteúdo que possa ser reconhecido. Eles dizem respeito, em primeiro lugar, ao entendimento geral do ecossistema de informação na era digital. Será uma questão de documentar os dispositivos disponibilizados a todos para produzir conteúdos de qualidade e sinceridade variados (Beauvisage e Mellet, 2016, Marwick e Lewis, 2017). Os mecanismos para sua disseminação e visibilidade serão então analisados para se compreender sobre quais avaliações de sua relevância, qualidade, interesse ou centralidade os mediadores humanos e /ou digitais classificam esses conteúdos (Alloing e Vanderbiest, 2018, Beer, 2013; Cardon, 2015; Gillespie, 2014; Rebillard, 2017). O conhecimento acumulado sobre a alfabetização informacional dos internautas e sobre as questões de qualificação dessa informação diversificada será enfim abordado para se apreender a quais elementos estes últimos se fundem quando lhes conferem interesse e/ou credibilidade (Coutant, 2014, Dahlstrom, 2014). Liquète, Delamotte e Chapron, 2012, Méadel, 2015).