Esta semana faz 36 anos que Drummond encantou-se, como diz Guimarães Rosa. A trajetória pessoal e literária de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) merece ser ainda muito iluminada. Um dos maiores nomes da poesia brasileira de todos os tempos, Drummond levou uma existência aparentemente modesta e avessa aos holofotes, enquanto burilava uma obra vasta e vigorosa. Vivendo no Rio de Janeiro entre 1934 e 1987, o mineiro atravessaria boa parte do século XX produzindo poesia, crônicas para os jornais e marcando, sobretudo com sua obra, todas as gerações posteriores da literatura produzida no Brasil.
A produção poética Drummond tem como um dos seus focos principais a reflexão sobre a passagem do tempo, a memória e a saudade. O poema escolhido para homenagear o grande poeta neste Sextas de Poesia é “Ausência”, que fala da diferença entre a ausência e a falta. Assim como seu poema, Drummond nunca será falta, mas seu oposto: uma presença constante. Viva Drummond!
*Com informações da bibliogragia oficial de Carlos Drummond de Andrade.
Banner com a foto de uma praia de fundo, na foto está o mar, céu azul e uma mulher negra de vestido rosa no primeiro plano. No banner está escrito o poema de Carlos Drummond de Andrade, o tema é Ausência.
Por muito tempo achei
que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante,
a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na
ausência.
A ausência é um estar
em mim.
E sinto-a, branca, tão
pegada, aconchegada
nos meus braços,
que rio e danço e
invento exclamações
alegres,
porque a ausência, essa
ausência assimilada,
ninguém a rouba mais
de mim.
O Sextas de Poesia desta semana traz um poema do segundo livro que será publicado por Debora Reis, que é pedagoga e trabalha na Universidade de Santa Teresinha. "O que não foi dito - e a poesia ainda é protesto" reúne poesias sobre a condição do ser humano e, sobretudo, da mulher, na vida cotidiana de um mundo ferido pelo seu aspecto mais brutal: a perda da humanização nas relações objetivas e intersubjetivas. Essa desumanização é algo visto dentro das poesias de maneira ampla, porém, sobretudo no discurso. É a palavra que reivindica tanto a crítica sobre um mundo cruel, individualista, patriarcal tanto quanto é o lugar da resistência. O que não foi dito é a palavra engasgada, que se coloca na ponta da língua, mas morre na matéria por ser interditada, suprimida. No livro, assim, há a liberdade do rompimento do medo de dizer, e por isso, é um protesto.
A obra está sendo construída ainda, a partir da reinvenção da própria autora, que anda se autorizando falar após a histeria, reivindicada no primeiro livro "Histérica – poesias de quem sobreviveu mulher", que estabelece um marco temporal não só sobre sua história inicial como poeta, mas também sobre sua trajetória como mulher e fases que marcaram a sua vida, indo dos relacionamentos amorosos aos casamentos, divórcio e maternidade.
Pode-se dizer que o livro se trata de uma continuação da sua primeira obra, entretanto, a solidez das poesias se apresenta demarcando uma nova fase da poeta.
O Sextas de Poesia desta semana homenageia o aniversário de Caetano Veloso. Nascido em sete de agosto de 1942, em Santo Amaro da Purificação, o baiano Caetano Veloso faz, em 2023, 81 anos. É cantor, compositor, escritor e poeta de um pensamento múltiplo que se completa e se realiza nas próprias canções.
Na composição escolhida para ilustrar o Sextas de Poesia desta semana, "Nu com a minha música", surge o tema da solidão do cancionista: os bastidores das angústias que antecedem e dão motor às canções. "Às vezes é solitário viver", diz o sujeito, para depois concluir: "Eu que existindo tudo comigo, depende só de mim / Vaca, manacá, nuvem, saudade / Cana, café, capim / Coragem grande é poder dizer sim".
A única saída possível é a canção, a arte. De onde o sujeito pode se inclinar para o lado do sim à vida. "Sempre só e a vida vai seguindo assim".
Caetano Veloso faz do som do seu estribilho, os traços e memórias de nossas vidas.
#ParaTodosVerem Banner com uma imagem preta e branca no topo, a foto é de Caetano Veloso jovem, com cabelos cacheados encostado na porta, o seu rosto está de perfil e com o peito nu. Abaixo um trecho da composição dele "Nu com a minha música"
...Nu com a minha música, afora isso somente amor
Vislumbro certas coisas de onde estou...
Deixo fluir tranquilo
Naquilo tudo que não tem fim
Eu que existindo tudo comigo, depende só de mim
Vaca, manacá, nuvem, saudade
Cana, café, capim
Coragem grande é poder dizer sim
O Sextas de Poesia desta semana faz sua homenagem aos escritores, que tem o Dia Nacional comemorado em 25/7. O texto escolhido faz parte do livro "Linhas Tortas", de Graciliano Ramos, em que compara a escrita com o trabalho das lavadeiras, como pano esticado no varal: “A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer”. Um ofício que tem na construção do sentido eternizar palavras, sentimentos e olhares de poetas, escritores, compositores, músicos, artistas da vida e da literatura. A tela que enfeita esta edição do nosso Sextas é de Heitor dos Prazeres, mestre das palavras, das belas canções que escrevia em forma de pintura. Viva a palavra escrita e cantada.
Segundo a Secretaria Especial da Cultura, o Dia do Escritor é comemorado anualmente, no Brasil, no dia 25 de julho. A data foi instituída em 1960 por João Peregrino Júnior, então presidente da União Brasileira de Escritores (UBE), a partir da realização do I Festival do Escritor Brasileiro. O Ministro da Educação da época, Pedro Paulo Penido, oficializou a data por meio de uma portaria publicada dois dias antes do dia escolhido. A partir de então, o dia passou a ser comemorado no dia 25 do mês de julho.
#ParaTodosVerem Banner com uma pintura no topo, a pintura mostra duas mulheres negras com panos brancos na cabeça, a que está em primeiro plano veste um vestido azul e a outra em segundo plano um vestido vermelho, elas estão estendendo roupas no varal. No cenário tem uma casa e um poço. Abaixo da pintura, o poema de Graciliano Ramos:
Quem escreve deve ter todo o cuidado para a coisa não sair molhada.
Da página que foi escrita não deve pingar nenhuma palavra, a não ser as desnecessárias.
É como pano lavado que se estira no varal.
O Sextas de Poesia traz o poema de Conceição Evaristo "Vozes-mulheres", em homenagem ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, comemorado em 25 de julho. A iniciativa nasceu em 1992, ano do 1º encontro de Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas, realizado em Santo Domingos, na República Dominicana, que, além de propor a união entre essas mulheres, visava também denunciar o racismo.
Que sejamos vozes de vida-liberdade!
#ParaTodosVerem Banner colorido, no topo a imagem gráfica de uma mão nas cores rosa e azul, na parte inferior do banner desenhos de mulheres negras, no centro o poema 'Vozes-Mulheres', de Conceição Evaristo:
A voz de minha bisavó
ecoou criança
nos porões do navio.
ecoou lamentos
de uma infância perdida.
A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.
A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e fome.
A voz de minha filha
recolhe todas as
nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas
caladas
engasgadas nas
gargantas.
A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem - o hoje-
o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a
ressonância
o eco da vida-
liberdade.
Nosso escritor e poeta homenageado desta semana é o moçambicano Mia Couto, aniversariante, nascido em 5 de julho de 1955, na cidade de Beira. Com o poema "Idade", ele nos convida a sentir o tempo, e sua imensidão: "a idade que tenho só se mede por infinitos".
Mia Couto mostra sempre uma narrativa emotiva e afetuosa para resgatar a luta, a resistência e a construção de novas vidas, humanizadas. Dentre os muitos prêmios literários com os quais foi contemplado, está o Prêmio Neustadt, em 2014, tido como o Nobel Americano, e o Prêmio Camões, que venceu em 2013. Neste ano, o poeta também foi homenageado com a criação do Prêmio Literário Mia Couto, pela Cornelder de Moçambique e a Associação Kulemba. A iniciativa, que está em sua primeira edição, pretende estimular a produção literária de qualidade em Moçambique, distinguindo as melhores obras publicadas anualmente no país.
#ParaTodosVerem Foto de uma criança negra sorrindo, ela segura o desenho de uma câmera laranja posicionado sobre os seus olhos. No lado esquerdo da foto o poema “Idade” de Mia Couto
O Sextas de Poesia faz sua homenagem ao grande José Celso Martinez Corrêa, um dos principais líderes do teatro brasileiro. Brilhante e inquieto, o autor, poeta e diretor deixou sua marca na dramaturgia brasileira com O Rei da Vela, Roda Viva, Boca de Ouro, Os Sertões e tantas outras.
Um dia, empinando uma pipa (papagaio), ela se rompeu e acabou molhada. Colocou para secar e o encontrou praticamente destruído (pelo sol) no dia seguinte. Um vento acabou por levar a pobre pipa embora. Zé Celso, então com 21 anos, escreveu um texto na forma de canção, Vento Forte para Papagaio Subir - escolhido para ilustrar o Sextas desta semana -, primeira montagem do, então, recém-formado Grupo Teatro Oficina, com direção de Amir Haddad, em 28 de outubro de 1958. Na trama, o jovem João Ignácio deixa Bandeirantes, fictícia cidade do interior de São Paulo, após uma tempestade. Decide, então, seguir o vento, deixando a velha vida para trás, no rumo em que a vida o levar, como Zé Celso, que nos deixou de forma trágica em 6/7/2023, aos 86 anos.
#ParaTodosVerem foto de José Celso Martinez Corrêa, um senhor branco de cabelos brancos, vestindo uma roupa branca, com os braços abertos segurando uma alga, ele está em uma praia na parte rasa do mar. Abaixo da foto, o seu poema “Vento forte para um papagaio subir”.
O "Sextas de poesia" faz sua homenagem ao poeta português Daniel Faria, que nasceu em Baltar, pequena vila portuguesa, em 1971. Estudou Teologia na Universidade Católica, licenciando-se mais tarde em Estudos Portugueses na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Após os estudos, optou pela vida monástica e ingressou no Mosteiro Beneditino de Singeverga, onde iniciou seu noviciado. Um poeta com curta passagem pela vida, morreu aos 28 anos, em junho de 1999. De uma personalidade estóica, deixou vários livros, belos poemas, com uma pesquisa interessante das possibilidades, no fim do século, de uma lírica pura, pesquisa que liga sua poesia à linhagem dos primeiros modernistas.
No poema escolhido para este Sextas, ele nos convida a "guardar a manhã...", texto publicado na obra O Livro do Joaquim.
#ParaTodosVerem Banner com a foto de uma árvore com poucas folhas, do lado esquerdo da árvore está de noite com a lua no céu, desse mesmo lado está o início do poema de Daniel Faria, onde está escrito: "Guarda a manhã para a tua noite" do lado direito está amanhecendo com o sol entre nuvens, com a outra parte do poema: "Para que possas sempre adormecer."
O Sextas de Poesia de hoje apresenta o poema de um escritor nórdico, Kjell Heggelund, nascido em Hamar, Noruega. Foi um grande pesquisador da literatura, editor, poeta, tradutor e crítico literário norueguês. Ganhou vários prêmios e escreveu diversos livros ao longo de sua carreira.
O poema escolhido para esta semana é "Expectativas", um lindo texto que, entre a noite e o dia, nos fala sobre colher o "doce fruto da manhã".
#ParaTodosVerem Foto de um cavalinho de balanço de madeira, atrás dele há uma janela onde entra a luz do sol com vista para uma área arborizada. No centro da foto, o poema de Kjell Heggelund.
Na semana em que se comemora o Dia dos Namorados, 12/6, é também lembrado o aniversário desse, que é um dos mais importantes poetas da língua portuguesa, Fernando Pessoa. Nascido em 13 de junho de 1888, Fernando Pessoa escreveu poesia, prosa, teatro, ensaios críticos e filosóficos. Ele ficou conhecido ainda por ser vários poetas ao mesmo tempo, não se tratando de pseudônimos, mas de heterônimos, ou seja, entidades individuais que revelavam seus próprios gostos, estilos, influências, valores e crenças.
O poema escolhido é um trecho de “Primeiro Fausto”, uma série de poemas organizados em formas de cenas, onde ecoam ressonâncias filosóficas da poesia pessoana, e das suas diferentes posturas frente à vida, à morte, o amor e, principalmente, o conhecimento. O conjunto desta obra inacabada, sobre a qual Fernando Pessoa se debruçou durante 20 anos, representa a luta entre a Inteligência e a Vida, na qual a Inteligência é sempre vencida. A Inteligência é representada por Fausto, e a Vida por diversos temas, segundo as circunstâncias. Sobre o amor "Amo como o amor ama. Não sei razão pra amar-te mais que amar-te".