“Vocês são pioneiros por participarem de um curso numa área em que a Fiocruz está começando. Estamos plantando para o futuro”. Essas foram as palavras do coordenador do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE/Fiocruz), Antonio Ivo de Carvalho, durante o encerramento do curso Foresight: Métodos e aplicações em ciência, tecnologia e inovação, no dia 22/5. A fim de iniciar uma cultura de prospecção na instituição, o curso apresentou o foresight a trabalhadores da Fundação. O foresight é uma abordagem metodológica adotada por organizações de pesquisa, governos e empresas em todo o mundo, na produção de informação qualificada para gestão estratégica e planejamento de longo prazo.
O curso é uma iniciativa do CEE/Fiocruz, com a Escola Corporativa Fiocruz, em parceria com o Grupo de Estudos sobre Organização da Pesquisa e da Inovação da Universidade de Campinas (Geopi/Unicamp). Dos 91 inscritos, foram selecionados 35 trabalhadores, de diferentes unidades da instituição. Eles participaram de sete encontros, com aulas semanais, às segundas-feiras — sendo a última dedicada à apresentação de trabalhos. Com os conhecimentos adquiridos, os alunos elencaram temas para conceber propostas de prospecção, a partir da realidade que vivenciam na Fiocruz.
À frente do curso, o professor Sergio Salles, do Departamento de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências da Unicamp, elogiou a turma. “A interação foi excelente, sem dúvida entre as melhores que tivemos. Os grupos fizeram trabalhos sensacionais". Ele também destacou a forma “especial” como a Fiocruz se posiciona como instituição frente à sociedade, bem como sua “dinâmica democrática e participativa, o que "ajuda muito quando se oferece um curso que trata de instrumentos para se pensar um futuro coletivo”. Além dele, o curso de foresight, foi ministrado por professores convidados.
A aluna Dominichi Miranda de Sá fez um agradecimento em nome da Coordenação de Ações de Prospecção da Fiocruz, liderada pelo pesquisador Carlos Gadelha, e da qual também faz parte. Ela explicou que a nova coordenação está em processo de formalização no âmbito da Presidência, ressaltando sua importância. “É totalmente pertinente, no sentido de pensar a prospecção como parte da agenda estratégica, da política institucional e de uma articulação matricial, articulando outros setores que pensam o futuro da Fiocruz e as unidades, dado seu imenso potencial para a prospecção”.
A diretora da Escola Corporativa Fiocruz, Karla Kaufmann, também destacou que o desenvolvimento de uma consciência crítica na instituição também está vinculado à capacidade de fortalecer as parcerias internas. “É importante esse alinhamento de uma área estratégica com uma área de desenvolvimento de pessoas para se alcançar determinada competência”, disse.
A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, que estava na 70ª Assembleia Mundial de Saúde, em Genebra, gravou um vídeo para cumprimentar os alunos e professores, comentando o quanto podem contribuir para uma cultura de prospecção na Fiocruz. Em sua mensagem, ela ressaltou a concepção conjunta do curso pelo CEE e a Escola Corporativa (na instituição) — e também a parceria com o Geopi/Unicamp (entre instituições). E disse: “Quero acompanhar muito de perto os desdobramentos dessa iniciativa, que, certamente, trará frutos importantes para o campo da prospecção, para o campo do planejamento estratégico e da gestão de informação”. A presidente também comentou o papel de atores institucionais ligados aos estudos prospectivos, como o projeto Brasil Saúde Amanhã, a Coordenação de Ações de Prospecção e o Centro de Estudos Estratégicos- que considera “um ator político fundamental”. (Clique aqui para assistir ao vídeo)
Encerrando o curso, o diretor do CEE anunciou a criação de uma comunidade virtual de aprendizagem e de um repositório para os trabalhos apresentados, buscando manter conexão com o Geopi/Unicamp e outros centros de prospecção. “Queremos cultivar essa relação continuada com vocês”.
Pensamento estratégico e integração
“Sou da Fiocruz Brasília e nós temos um grupo que trabalha com prospectiva e o curso é uma forma de ampliar esses conhecimentos. Nós trabalhamos com uma técnica e aqui eles mostraram mais de 33 técnicas. Então, isso vai ao encontro dos direcionadores estratégicos da instituição, da nova Presidência, que é ampliar esses estudos prospectivos na Fiocruz. Servirá também de integração entre as áreas que estão fora do campus, caso da minha unidade.” (Márcio Cavalcanti – Fiocruz Brasília)
Decisões com base em evidências
“Apesar de trabalhar com tomada de decisão, este universo não é familiar para mim. Entrei em contato com novas metodologias, com uma forma de pensar, de trabalhar, que pode contribuir muito para o trabalho que desempenho, para organizar, prever o futuro e compreender como este pode modificar o presente. Isso é muito importante para quem toma decisões e para quem auxilia tomadores de decisão: decidir com base em evidências e informações, e não de forma subjetiva. Essa metodologia proporcionada pelo curso realmente pode mudar a forma de se pensar institucionalmente.” (Camila Guindalini – Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde - CDTS/Fiocruz)
Rede de cooperação interna
“O curso é muito pertinente na abordagem do método, no conhecimento das diferentes estratégias e instrumentos de que vamos poder nos apropriar. Espero que consigamos nos aprofundar na aplicação desses instrumentos em nossa realidade. O curso de Foresight é muito importante para trabalhadores da Fiocruz se aproximarem dos temas relacionados aos estudos de futuro, pensando o papel da Fiocruz e em como o as unidades da instituição, em conjunto, vão se preparar para dar respostas a grandes desafios. É também uma oportunidade para nos conhecermos mais, conhecer o que o conjunto de trabalhadores têm desenvolvido nas diferentes unidades, identificarmos oportunidades de criarmos uma rede de cooperação interna, com o intuito de desenvolver alternativas.” (Ana Lúcia Feitosa – Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas - INI/Fiocruz)
Um curso panorâmico
“Estou fazendo o curso de Foresight em função dessa aproximação recente com as atividades de prospecção, por meio do vínculo com a Coordenação de Ações de Prospecção. Mas eu já tinha interesses na área, porque a Casa de Oswaldo Cruz está criando um observatório de saúde, e pela própria dimensão do pensamento em História, área da minha unidade de origem. O curso é muito útil, principalmente, porque é panorâmico na apresentação de abordagens e métodos. Um ponto interessante é o fato de estarmos conhecendo outros colegas de outras unidades. O curso tem servido para vermos como as pessoas estão diagnosticando a Fiocruz e qual a expectativa delas quanto a essa ação que a Presidência quer induzir [pensar a Fiocruz do futuro]. Isso é muito importante. Por enorme felicidade, acabamos reunindo no trabalho em grupo pessoas que trabalham com educação, em diferentes níveis, na instituição. Propusemos o tema de educação e saúde na Fiocruz para pensar tendências e metodologias e também tecnologias a serem absorvidas nessa Fiocruz do futuro.” (Dominichi Miranda de Sá - Casa de Oswaldo Cruz - COC/Fiocruz e Coordenação das Ações de Prospecção da Presidência da Fiocruz)
Fonte: Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz
Educação como eixo estratégico para articular as unidades da Fiocruz. A proposta da Vice-presidência de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC/Fiocruz) de fortalecer a integração dentro da instituição vem rendendo ótimos frutos. Um bom exemplo é a colaboração entre o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e o escritório regional da Fiocruz Piauí.
O processo de estruturação da unidade regional foi fortalecido pela implantação do Programa de Medicina Tropical do IOC. Até o momento, duas turmas do mestrado acadêmico (Stricto sensu) foram formadas: 2013-2015 e 2015-2017, com 23 titulações. Uma terceira turma (2016-2018) está em curso.
O coordenador de Ensino da Fiocruz Piauí, Filipe Aníbal Carvalho Costa, comenta que os projetos desenvolvidos são fortemente inseridos na vivência de serviço dos estudantes, que são profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS) no estado do Piauí. “As dissertações foram elaboradas por alunos que se dividem entre a formação acadêmica e a atuação no mercado de trabalho, ou seja, profissionais que conhecem de perto a realidade enfrentada por moradores do estado, principalmente de cidades do interior e de zonas rurais”.
De acordo com ele, os projetos também são bastante representativos do perfil epidemiológico local das doenças infecciosas e parasitárias, que é peculiar, visto que o Piauí representa uma transição de biomas. “Os trabalhos produzidos exploraram temas importantes como parasitismo intestinal, infecções sexualmente transmissíveis, animais peçonhentos e microcefalia. Foram também feitos diagnósticos relacionados à cobertura vacinal no estado, à reemergência da coqueluche, às dermatoses em pessoas vivendo com HIV, entre outros”. Alguns estudos já foram publicados em periódicos importantes na área das doenças infecciosas.
Dessa forma, o escritório regional da unidade se consolida, atuando em diferentes frentes: contribui para a geração de dados epidemiológicos e clínicos importantes para o Estado e, ao mesmo tempo, possibilita o credenciamento de novos pesquisadores do escritório como orientadores do programa.
A pós-graduação Stricto sensu em Medicina Tropical do IOC/Fiocruz oferecida no Piauí formou, no fim de abril, oito novos mestres, entre médicos, enfermeiros e professores que atuam na região. Doença de Chagas, leishmanioses, imunização, entre outros temas de grande impacto para a saúde pública do estado foram alvos de estudos desenvolvidos no âmbito do Programa. As pesquisas contaram com o apoio da Universidade Federal do Piauí, do Laboratório Central de Saúde Pública do Piauí, da Secretaria de Estado da Saúde do Piauí, e da Universidade Estadual do Piauí.
Um dos estudos desenvolvidos pela segunda turma do Mestrado Profissional em Medicina Tropical apontou para o risco da reemergência da doença de Chagas na região sudeste do Piauí, que já foi considerada de alta endemicidade para o agravo. Um dos resultados da pesquisa mostrou alta taxa de infestação intradomiciliar por barbeiros, insetos vetores da doença causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi.
Outro estudo revelou a ocorrência de atrasos na aplicação de vacinas em crianças menores de um ano em municípios do interior do estado. A análise, que sugere melhorias na estrutura logística e de recursos humanos, considerou a aplicação das vacinas pentavalente, tríplice viral e as que previnem a poliomielite (injetável) e o rotavírus.
A ancilostomíase, conhecida popularmente como “amarelão”, permanece endêmica em regiões rurais do Piauí, de acordo com um dos estudos apresentados. A parasitose intestinal causada por helmintos é frequentemente associada a condições de vulnerabilidade social e econômica. O dado amplia o conhecimento epidemiológico do agravo e pode contribuir para a melhoria das estratégias de controle das geo-helmintíases na região.
A leishmaniose tegumentar americana foi alvo de um estudo pioneiro, que identificou a presença do inseto Lutzomyia whitmani, vetor da doença, numa região onde houve surto da doença. Em geral, o agravo é transmitido em florestas, regiões rurais ou áreas periurbanas, nas quais habitações são construídas na proximidade de matas. Os parasitos do gênero Leishmania são transmitidos pela picada de insetos flebotomíneos.