Encerrando a agenda científica que antecede a celebração dos 120 anos da Fiocruz no próximo ano, o Fórum Oswaldo Cruz reuniu na sexta-feira (6/12), na Tenda da Ciência, especialistas de universidades, associações científicas e da própria Fiocruz no seminário O futuro da saúde no Brasil, compromisso social da ciência. A palestra principal foi do neurocientista e diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Sidarta Ribeiro.
Além da presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, compuseram a mesa solene o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ildeu de Castro; a presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Gulnar Azevedo; a vice-reitora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Teresa Atvars; e a reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Denise Pires de Carvalho.
A presidente Nísia afirmou que a agenda comemorativa dos 120 anos foi definida “para nos unirmos, em um momento de dificuldades no país, lembrando juntos a nossa história e, ao mesmo tempo, refletindo sobre os desafios do futuro”. Para Nísia, a Fiocruz e outras instituições científicas e universitárias “podem reforçar um projeto democrático e inclusivo para o Brasil, em que a ciência seja uma base para isso”.
Sidarta Ribeiro iniciou dizendo que o convite falar sobre o futuro da saúde conduz a uma reflexão muito dura, “vivemos um momento muito perigoso não só para o Brasil, mas para o planeta, mas é também muito auspicioso, muita coisa boa pode acontecer nas próximas décadas em função do acúmulo do conhecimento”. Usando a imagem do copo meio cheio e meio vazio, ele discorreu sobre esses dois aspectos. Entre os aspectos negativos da atualidade, Sidarta relacionou e analisou questões como a Emenda Constitucional 95, as ameaças retirar recursos da saúde e educação para o financiamento público das campanhas eleitorais, a liberação de agrotóxicos, desastres nas barragens da Vale, o derrame de petróleo no litoral, violência e mortes nas comunidades. Essa situação, segundo ele, “afeta todo mundo, as pessoas começam a viver em pânico e isso vai gerando efeitos nas gerações subsequentes, o estresse excessivo de um indivíduo adulto pode levar a modificações em células germinativas que podem gerar uma nova geração também em sofrimento psíquico”.
A segunda metade da palestra de Sidarta foi dedicada à “esperança a partir das novidades científicas, que podem ser boas para a saúde e que têm um impacto social importante”. Pesquisador dos efeitos da cannabis e de outras drogas psicoativas, ele é um crítico da abordagem oficial sobre o uso dessas substâncias. “Tem muita hipocrisia dos governos e da indústria, que falam de combater as drogas, mas, ao mesmo tempo, continuam vendendo produtos ainda mais perigosos nas drogarias e nos bares”, afirmou.
Citando avanços obtidos em pesquisas recentes, Sidarta reafirmou o potencial dos canabinóides no tratamento de diversas patologias, “essa planta uma farmacopeia inteira”. Ao mesmo tempo, apontou os problemas associados ao aumento indiscriminado do uso de antidepressivos, “as pessoas estão recebendo um monte de coisas ruins para ter um benefício que é extremamente reduzido, baseado em estudos que, geralmente, duram poucas semanas, quando o médico receita um antidepressivo ao longo de anos ele está fazendo experimento com os pacientes”. Veja aqui a palestra de Sidarta e a cobertura completa do Fórum.
Ao final do Seminário foram assinados os documentos relativos às parcerias da Fiocruz com a UFRJ e a Unicamp, para realização de ações em ciência, tecnologia e inovação, com a articulação de uma estratégia nacional para o desenvolvimento e bem-estar social. Responsável pela relatoria geral, o oordenador das Ações de Prospecção da Presidência da Fiocruz, Carlos Grabois Gadelha, fez um resumo dos objetivos das parcerias celebradas no evento.
No caso da UFRJ, a colaboração se dará a partir dos seguintes eixos norteadores: ações integradas no Parque Tecnológico da UFRJ para incrementar a inovação no Complexo Econômico e Industrial da Saúde (Ceis); pesquisa, eesenvolvimento, inovação e educação para o bem-estar social; desenvolvimento de atividades de educação, saúde e direitos em lugares de favela e periferia e sua relação com a cidade; prospecção estratégica em torno de CT&I, o bem-estar e a sustentabilidade ambiental.
Com a Unicamp, as ações serão norteadas por temas como: mercado de trabalho no Ceis; dinâmica econômica, CT&I e Ceis; economia política, desenvolvimento, política econômica e saúde no Brasil; federalismo e o Ceis; padrões de desenvolvimento, meio ambiente e saúde no Brasil; e financeirização, trabalho e saúde no Brasil. Na Fiocruz as atividades serão desenvolvidas pela Coordenação das Ações de Prospecção e na Unicamp pelo Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho (Cesit) do Instituto de Economia.
A Fiocruz entregou, na segunda-feira (7/10), os títulos de Doutor Honoris Causa e de professor-emérito, respectivamente, aos médicos Paulo Lyz Ferrinho e Paulo Buss. Ferrinho foi até recentemente diretor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) da Universidade Nova de Lisboa e Buss é coordenador do Centro de Relações Internacionais (Cris/Fiocruz), além de ex-presidente da Fundação entre 2001 e 2009. A cerimônia, no campus de Manguinhos, celebrou duas brilhantes carreiras acadêmicas e profissionais e transcorreu sob fortes emoções, dos homenageados e também dos presentes, que recordaram décadas dedicadas à saúde pública e em favor da justiça social.
A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, saudou o que chamou de “manhã de Paulos” e afirmou estar muito feliz com as homenagens. Ela leu uma mensagem enviada pelo novo diretor do IHMT, Filomeno Fortes, sobre a trajetória de Ferrinho. Segundo Nísia, a parceria entre IHMT e Fiocruz é também em favor de todos os Países de Língua Oficial Portuguesa (Palops). “É uma diretriz clara, visando uma cooperação estruturante e que procura dar uma marca à saúde global”. O pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) Claudio Ribeiro fez o discurso de saudação do novo Doutor Honoris Causa.
Ferrinho, ao fazer o discurso de agradecimento, disse sentir um certo “desassossego” por passar a integrar uma lista tão seleta. Ele listou as muitas colaborações, em diversas áreas, entre IHMT e Fiocruz, e disse sentir uma intensa emoção em receber a homenagem de uma instituição que admira e que tem um alcance mundial por suas pesquisas, inovações e projetos.
Em seguida, o ex-presidente Paulo Buss recebeu o título de professor-emérito da Fiocruz. A diretora do Instituto Nacional de Infectologia (Valdiléa Veloso) discursou saudando o homenageado e lembrou os mais importantes pontos do currículo de Buss, que é médico pediatra, foi diretor da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), vice-presidente de Ensino da Fundação e presidente da Fiocruz eleito e reeleito pelos servidores para dois mandatos. O diretor da Ensp, Hermano Albuquerque, leu textos escritos por pesquisadores que trabalharam com Buss e o classificou como uma grande liderança da saúde pública.
Emocionado, o novo professor-emérito da Fiocruz disse em sua intervenção que a homenagem se dirige não apenas a ele, mas a toda a geração indignada de sanitaristas, que chegou à instituição na década de 1970, durante a ditadura. “Nós mudamos o Brasil. Fizemos a reforma sanitária, realizamos a 8ª Conferência Nacional de Saúde, construímos o SUS, que precisamos preservar e robustecer, mudamos o conceito de que os serviços de saúde eram prestados somente a quem tinha carteira assinada, fomos resistência. Mudamos, para melhor, este país”, argumentou Buss. Ele citou célebres sanitaristas, já falecidos, como também responsáveis por essas conquistas, como Sergio Arouca, Adib Jatene, Luiz Hildebrando Pereira da Silva e Eleutério Rodriguez Neto. Após o discurso, vários dos presentes à cerimônia foram ao microfone relembrar passagens da vida e da carreira de Paulo Buss.
Confira entrevistas com Paulo Lyz Ferrinho e Paulo Buss:
• Ferrinho: ‘pesquisadores não podem abdicar dos deveres de cidadania’
• Paulo Buss: ‘é delicioso ser professor’
O Prêmio Capes de Tese 2019 premiou um aluno e concedeu duas menções honrosas a outras duas alunas da pós-graduação da Fiocruz. Jorlan Fernandes de Jesus, aluno da pós-graduação em Medicina Tropical do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) ganhou o Prêmio pela tese, vinculada ao programa Brasil sem Miséria, Arenavírus no Brasil: ecoepidemiologia e os aspectos de sua ocorrência no processo de expansão da agricultura familiar, na Área de Conhecimento Medicina II. O estudante foi orientado por Elba Regina Sampaio De Lemos. Outras duas alunas receberam menções honrosas.
Para a coordenadora-geral adjunta de Educação da Fiocruz, Eduarda Cesse, o prêmio tem um valor inestimável e atesta a qualidade das teses da pós-graduação brasileira. “É uma grande satisfação para a instituição e a certeza de que estamos formando bons quadros”, afirma, ressaltando que as teses são analisadas por avaliadores ad hoc. Os três alunos serão homenageados em 15 de outubro, na cerimônia de entrega do Prêmio Oswaldo Cruz de Teses, instituído pela Fiocruz.
Fernanda de Bruycker Nogueira, da pós-graduação em Biologia Parasitária do IOC/Fiocruz, recebeu menção honrosa do Prêmio Capes pela tese História evolutiva, caracterização e vigilância molecular das diferentes linhagens do vírus dengue tipo 1 no Brasil, dentro da Área de Conhecimento Ciências Biológicas III. Ela foi orientada por Flavia Barreto Dos Santos. Já Vanessa Silva Moraes, que além de aluna é também servidora do Instituto René Rachou (IRR/Fiocruz Minas), recebeu menção honrosa pela tese Produção de uma proteína recombinante do ovo de Schistosoma mansoni e avaliação de desempenho pelo imunoensaio de Elisa indireta empregando amostras sorológicas humanas, na Área de Conhecimento Medicina II. Vanessa esteve sob orientação de Paulo Marcos Zech Coelho.
Outra premiação importante do ano foi o Prêmio Oswaldo Cruz de Teses, cuja primeira edição ocorreu em 2017, com quatro áreas: Medicina; Saúde Coletiva; Ciências Sociais e Humanas; e Ciências Biológicas Aplicadas a Saúde e Biomedicina. Os agraciados de 2019 são, em Medicina, Luana Lorena Silva Rodrigues (premiada), do IOC/Fiocruz, e Vanessa Silva Moraes (menção honrosa), da Fiocruz Minas. Em Saúde Coletiva, Tatiana Vasconcelos dos Santos (premiada), do Instituto Nacional da Mulher, da Criança e do Adolescente (IFF/Fiocruz) e Ana Carolina Proença da Fonseca (menção honrosa), do IOC/Fiocruz. Em Ciências Biológicas aplicadas a Saúde e Biomedicina, Andréa Marques Vieira da Silva (premiada), do IOC/Fiocruz, e Denise Anete Madureira Alvarenga, da Fiocruz Minas, e Kayo Cesar Bianco Fernandes, do INCQS (menções honrosas). Em Ciências Humanas e Sociais, Daniela Savaget Barbosa Rezende (premiada), do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica (Icict/Fiocruz), e Aluízio de Azevedo Silva Júnior (Icict) e Luiz Alves Araújo Neto, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), ambos com menções honrosas.
A seleção foi realizada por uma Comissão Avaliadora de membros externos à Fundação e acompanhada pela Coordenação-Geral de Educação (CGEd/Fiocruz). No total, foram quatro vencedores e seis indicados a menções honrosas. Todos os que receberam prêmios e menções honrosas receberão certificados, assim como os orientadores. Cada premiado receberá um certificado, com indicação do ano de premiação. Além disso, também contarão com o apoio de R$ 7.500 (apenas os premiados) para participar de evento acadêmico/científico nacional ou internacional.
Conheça, também, os nomes dos orientadores dos projetos selecionados:
• Aluízio de Azevedo Silva Júnior | Orientação: Inesita Soares de Araújo/Maria Natália Ramos
• Ana Carolina Proença da Fonseca | Orientação: Pedro Hernan Cabello Acero
• Andréa Marques Vieira da Silva | Orientação: Milton Ozório Moraes
• Daniela Savaget Barbosa Rezende | Orientação: Inesita Soares de Araújo/Kátia Lerner
• Denise Anete Madureira Alvarenga | Orientação: Cristiana Ferreira Alves de Brito/Taís Nobrega de Sousa
• Kayo Cesar Bianco Fernandes | Orientação: Maysa Beatriz Mandetta Clementino
• Luana Lorena Silva Rodrigues | Orientação: José Henrique da Silva Pilotto/Alcina Frederica Nicol
• Luiz Alves Araújo Neto | Orientação: Luiz Antonio da Silva Teixeira
• Tatiana Vasconcelos dos Santos | Orientação: Romeu Gomes/Martha Cristina Nunes Moreira
• Vanessa Silva Moraes | Orientação: Paulo Marcos Zech Coelho/Rafaella Fortini Grenfell e Queiroz/Lisa Shollenberger McEwen
* Atualizado em 13/9/2019.
Os pós-graduandos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) foram para a rua. No último dia 9/9, alunos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) estenderam cartazes e protestaram, em caminhada que partiu do campus da Fiocruz e foi para as ruas da Avenida Brasil, no Rio de Janeiro. A mobilização teve um propósito claro: ir contra os cortes anunciados, ao longo do ano, para os orçamentos da ciência e da educação.
Richarlls Martins, coordenador-geral da APG-Fiocruz, explica que o ato representou a resistência do movimento social frente à política de enfraquecimento do sistema nacional de ciência e tecnologia brasileiro. "A Fiocruz é um patrimônio do Brasil, que há quase 120 anos produz pesquisa em saúde para a população brasileira, independente do projeto político em curso", pontuou. "Hoje, a manifestação dos alunos do IOC dialoga com demandas de ação urgentes neste sentido".
No mesmo dia do ato, foi publicada uma nota do Conselho Deliberativo da Fiocruz em defesa da pesquisa e da pós-graduação como patrimônios da sociedade brasileira. Confira a nota, na íntegra:
"O Conselho Deliberativo da Fundação Oswaldo Cruz (CD Fiocruz) vem se somar às universidades públicas e demais instituições de ensino e pesquisa em defesa do caráter estratégico da ciência e da pós-graduação para o desenvolvimento soberano do país e resolução dos graves problemas da sociedade brasileira.
Os cortes que atingiram os orçamentos das áreas de Educação e de Ciência e Tecnologia ao longo de 2019 e a ameaça de redução do orçamento federal dessas áreas para 2020 colocam em risco o desenvolvimento científico e tecnológico do país e o sistema de pós-graduação construído e expandido nas últimas cinco décadas, que contribuíram de forma decisiva para fortalecer a pesquisa nacional e projetar o Brasil no cenário internacional.
A gravidade da situação se expressa nas sucessivas retiradas de cotas de bolsas de estudantes da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para alunos de Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado, assim como para os alunos de Iniciação Científica (graduação e ensino médio) ao longo deste ano, culminando na suspensão por Capes e CNPq da inclusão de novos bolsistas a partir de setembro de 2019, mesmo havendo alunos aprovados que aguardam a implantação das bolsas para iniciar os estudos, nas diversas instituições de ensino e pesquisa nacionais.
Tais medidas impedem que milhares de estudantes se insiram nestas instituições, reduzindo as oportunidades de formação de professores e cientistas e os incentivos para que os jovens sigam na docência ou na carreira científica. Geram ainda prejuízos adicionais para as atividades de pesquisa nas diferentes áreas do conhecimento, dada a relevante contribuição dos estudantes nesse âmbito.
A Fiocruz é uma instituição nacional de ciência e tecnologia voltada para geração de conhecimento científico e de soluções dos problemas de saúde, comprometida com o Sistema Único de Saúde (SUS) e a melhoria das condições de vida da população brasileira.
As atividades da Fiocruz perpassam todas as áreas de conhecimento estratégicas para o enfrentamento dos problemas de saúde, envolvendo pesquisa básica laboratorial, pesquisa clínica, inovação tecnológica, desenvolvimento e produção de insumos (medicamentos, vacinas, métodos diagnósticos), controle da qualidade de produtos ligados à saúde, assistência à saúde em unidades de referência, estudos ambientais e sobre determinantes sociais em saúde, ações de informação e comunicação em saúde. As atividades de educação são desenvolvidas nos diversos níveis de conhecimento, da Iniciação Científica ao Pós-Doutorado, incluindo a formação de quadros para a gestão pública e o SUS. Compreende-se que a resolução dos problemas de saúde da população brasileira requer contribuições de todas as áreas do conhecimento – da área biomédica às ciências humanas e sociais –, o que exige investimentos públicos em pesquisa e na formação de profissionais qualificados nos diversos campos e frentes de atuação.
A ciência e a educação são bases para o fortalecimento do SUS e de um projeto nacional de desenvolvimento orientado para a soberania nacional e autonomia tecnológica, com direitos sociais e sustentabilidade ambiental. Os efeitos negativos dos sucessivos cortes na pesquisa e nas bolsas de estudantes, caso não sejam revertidos, vão repercutir negativamente nas próximas décadas, com prejuízos para o país em termos de sua capacidade de produzir conhecimento e de formar profissionais para dar conta dos graves problemas que atingem a população brasileira, afetando as atuais e futuras gerações.
A Fiocruz reafirma seu compromisso com a reversão dessa grave situação a que estão submetidas a pesquisa e a formação de profissionais qualificados no Brasil e se une aos diversos grupos sociais na mobilização em defesa dos investimentos em ciência, em educação e em saúde, como eixos fundamentais para a retomada do crescimento do país, a promoção do bem-estar social e da melhoria das condições de vida da população brasileira."
Mais de 80 mil pesquisadores em todo o Brasil vão ficar sem bolsa a partir do mês de setembro, caso o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) não consiga sanar, de imediato, um déficit de R$ 330 milhões no seu orçamento. O Conselho divulgou uma nota sobre a suspensão da indicação de bolsistas no dia 15 de agosto.
Diante da gravidade da situação, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) manifestou apoio ao órgão, dado seu papel primoridial no apoio à pesquisa, ao desenvolvimento tecnológico e à inovação. Em carta, a Fiocruz destaca que os recursos são destinados a diversos projetos e ao financiamento de bolsas para estudantes e pesquisadores, que contribuem para o SUS e para a promoção de melhorias nas condições de vida e saúde da população brasileira.
Nesta quarta-feira (21/8), o presidente do CNPq, João Luiz Filgueiras de Azevedo, estaria na Fiocruz**. No entanto, o evento foi cancelado: a coordenação do Núcleo de Estudos Avançados do IOC informou que, por motivo de agenda, a edição com o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), João Luiz Filgueiras de Azevedo foi cancelada. Filgueiras ministraria a palestra CNPq, ciência e inovação para o futuro do país.
No dia 16 de agosto, a Fiocruz publicou uma carta em apoio ao CNPq. Confira o texto completo, na íntegra:
"O Conselho Deliberativo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) vem manifestar seu apoio ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) diante da grave crise orçamentária e financeira vivida pelo órgão. A Fiocruz defende a necessidade de dotação de recursos e infraestrutura adequados ao cumprimento da missão do CNPq de fomentar a ciência, tecnologia e inovação e atuar na formulação de suas políticas, contribuindo para o avanço das fronteiras do conhecimento, o desenvolvimento sustentável e a soberania nacional.
Conforme deliberação da 16ª Conferência Nacional de Saúde, a política nacional de saúde deve priorizar a ciência, tecnologia e inovação como base essencial para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) e de um projeto nacional de desenvolvimento comprometido com a soberania nacional, autonomia tecnológica, com direitos sociais e sustentabilidade ambiental.
Como instituição científica e tecnológica voltada para a produção de conhecimentos e soluções em saúde pública, a Fiocruz é testemunha do papel primordial exercido pelo CNPq no apoio à pesquisa, ao desenvolvimento tecnológico e à inovação. São inúmeros os projetos desenvolvidos pela Fundação com suporte do CNPq, seja por meio de transferência de recursos diretos ou pelo financiamento de bolsas para estudantes e pesquisadores, que contribuem para o SUS e para a promoção de melhorias nas condições de vida e saúde da população brasileira.
Dentre os exemplos estão as pesquisas realizadas no enfrentamento da emergência sanitária representada pela síndrome congênita associada ao vírus zika, o desenvolvimento tecnológico de kits para diagnóstico diferencial pra Zika, Dengue e Chikungunya, e estudos realizados no campo da biodiversidade e saúde que permitem o rastreamento de casos de febre amarela e outras arboviroses. Todos esses representam avanços recentes obtidos pela Fiocruz com alto impacto para a sociedade e que contaram com central apoio do Conselho, prova contundente de sua relevância para o país.
A Fundação conta também com diversos programas responsáveis pela formação de jovens talentos na ciência e pelo desenvolvimento de conhecimento e tecnologias em favor da saúde do povo brasileiro, garantidos por meio parcerias com o CNPq: o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (Pibit) e o Programa de Pesquisador Visitante. Ainda no campo do ensino, 40 programas de pós-graduação stricto sensu desta instituição, voltados para a formação de mestres e doutores nas diversas áreas das ciências biomédicas, pesquisa clínica, saúde coletiva e desenvolvimento tecnológico, dependem, em boa medida, dos recursos transferidos pelo CNPq. Centenas de estudantes poderão, portanto, não ter mais condições de estudar, caso esta grave crise financeira do CNPq não for revertida.
Diante dos riscos decorrentes para os projetos de pesquisa e ensino da Fiocruz, e entendendo que ciência, tecnologia e inovação devem ser considerados componentes estruturantes e estratégicos para a retomada de crescimento de um país justo, soberano, sustentável e voltado para as necessidades da sociedade, o Conselho Deliberativo se soma às diversas entidades científicas pela defesa da manutenção do CNPq e pela reversão de sua atual crise financeira."
*Com informações de Jornal da USP e Maíra Menezes (IOC/Fiocruz)
**Atualizado em 20/8/2019.
Durante a 2ª edição do seminário internacional Cannabis medicinal: um olhar para o futuro, na mesa Dissecando as bases científicas da Cannabis medicinal (29/6) foram apresentadas pesquisas básicas que mostram o grande potencial das substâncias da cannabis. As evidências científicas apontam que pacientes de diversas doenças, como esclerose múltipla, depressão, doença de Parkinson e transtorno de ansiedade, poderiam se beneficiar dos canabinóides.
A farmacêutica Luzia Sampaio, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mostrou sua pesquisa sobre uso do extrato de canabidiol no tratamento de doenças neurológias. Os resultados dos estudos, feitos com ratos mantidos em tratamento por duas semanas, atestam que não há comprometimento no ganho de peso corporal ou no comportamento alimentar de quem usa a substância, o que é uma preocupação da comunidade científica que estuda o assunto. Outro ponto que é importante nesse sentido refere-se ao nível de aprendizado e perda de memória de curto prazo, o que os testes realizados também mostram que não há alteração.
Já as pesquisas do biólogo Agustín Riquelme, também do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, concentram-se nos efeitos dos canabinóides no sistema nervoso central, especificamente para quem sofre de esclerose múltipla. “Os indícios nos levam a acreditar que será possível usar não como paliativo para dor ou diminuir os sintomas, como prevíamos inicialmente, mas realmente na cura da doença, uma vez que os canabinóides podem atuar na regeneração celular”, explicou Riquelme.
A terceira pesquisa apresentada na mesa foi de Alline de Campos, do Departamento de Farmacologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP). A pesquisadora analisa o efeito das substâncias da cannabis no tratamento da ansiedade patológica. “Poderíamos nos perguntar se precisamos de mais um medicamento para males como depressão ou ansiedade, já que existem vários. É necessário pensar que um remédio ansiolítico demora em média um mês para fazer efeito e isso leva a pouca aderência ao tratamento”, afirmou. A farmacêutica ressaltou que as pesquisas ainda são iniciais, feitas em animais, mas que o canabidiol funciona mais rápido, em uma semana já se vê melhora, e tem menos efeitos adversos que os antidepressivos clássicos.
Para terminar o primeiro dia de seminário, o pesquisador Ismael Galve-Roperh, da Universidade Complutense de Madri, mostrou o que há de mais recente na Espanha sobre canabinóides e neurodesenvolvimento. Galve-Roperh começou sua fala com um alerta: “Não existem verdades absolutas na ciência, o canabidiol não pode ser visto de forma extrema, nem pelos críticos, nem por quem defende o uso, não há milagre”. Segundo o espanhol, a cannabis é de complexa farmacologia, provavelmente terá de ser combinada com outros medicamentos, para alcançar os resultados esperados, especialmente no uso para tratar epilepsia e convulsões. “A neurociência foi a área que despertou o interesse dos pesquisadores para a cannabis, de início as pesquisas queriam demonstrar os efeitos prejudiciais, por conta do contexto político, mas hoje vejo na América Latina uma ‘boa-vontade’ maior para os estudos na área, mais do que na Europa”, finalizou.
Esperanças em novos tratamentos
Na manhã de domingo (30/6), entre as diversas sessões com abordagens científicas de tratamentos com base na cannabis, uma delas foi dedicada à relação entre cannabis e autismo. A moderadora foi Cecilia Hedin (Fiocruz/UFRJ), e a mesa, com uma abrangência mais ampla do que a temática proposta inicialmente, teve a participação do biólogo espanhol Ismael Galve-Roperh (Universidad Complutense de Madrid), do neurologista Eduardo Faveret (Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer - IEC), da psiquiatra Eliane Nunes (Sociedade Brasileira de Estudos da Cannabis) e da anestesiologista Adriana Faria (Hospital de Ipanema/ Maternidade Carmela Dutra).
Os palestrantes relataram experiências que foram desde pesquisas bioquímicas sobre os efeitos da cannabis em enfermidades neuropsiquiátricas, passando pelo histórico e desafios atuais do uso dos derivados da planta e por uma abordagem integrativa de doenças e sintomas Transtorno do Espectro Autista (TEA). Como destaque mais diretamente relacionado ao tema inicial, Faveret apresentou resultados de um estudo observacional do efeito do canabidiol em pacientes do IEC.
As observações sugerem a hipótese de análise do autismo como uma síndrome de insuficiência endocanabinoide, ou seja, de neurotransmissores presentes no sistema nervoso central e periférico dos vertebrados, envolvidos na regulação de uma variedade de processos fisiológicos e cognitivos. O neurologista mostrou resultados da aplicação da Escala de Avaliação do Autismo na Infância (Cars, na sigla em inglês) entre pacientes do IEC que fazem uso do canabidiol. Para a quase totalidade do grupo observado, o uso do canabidiol proporcionou melhora, em graus diferenciados, para cada um dos 15 quesitos avaliados pela escala Cars, como interação com as pessoas, uso do corpo e de objetos, adaptação a mudanças, reação a estímulos, medo ou nervosismo, comunicação verbal e não verbal.
Entre os palestrantes prevalece a impressão de que a cannabis pode, sim, ajudar em quadros como o autismo em crianças e em outros agravos. No entanto, pode também potencializar problemas, como malformações intrauterinas no consumo durante a gravidez, ou, em determinadas condições, o desencadeamento de sintomas de esquizofrenia e outros transtornos psíquicos. Certeza mesmo é da necessidade e urgência de estudos científicos mais conclusivos da interação entre os elementos presentes na cannabis e o corpo humano.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) abre seleção pública para preenchimento de 164 vagas de estágio não obrigatório. Os candidatos podem se inscrever entre os dias 24 de maio a 9 de junho, na página do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE).
Do total de vagas oferecidas, 147 são voltadas para estudantes de nível superior e 17 para os de nível médio, sendo que 10% delas são reservadas para estudantes com deficiência e 30% para autodeclarados pretos ou pardos no ato da inscrição. As vagas contemplam as cidades de Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Eusébio (CE), Manaus (AM), Recife (PE), Salvador (BA), Rio de Janeiro (RJ) e Porto Velho (RO).
A seleção acontecerá em duas ou quatro etapas, conforme a classificação da vaga no edital. O resultado da primeira etapa será divulgado em 19 de julho. No período de 24 de julho a 9 de agosto, se dará prosseguimento ao processo seletivo. O resultado definitivo tem previsão de divulgação entre 30 de julho e 16 de agosto. Já a admissão dos novos estagiários acontecerá a partir de 30 de julho.
Os estagiários receberão bolsa mensal de acordo com a carga horária e nível de escolaridade, variando de R$ 203,00 a R$ 520,00 e mais auxílio transporte no valor mensal de R$ 132,00. Confira, ao final desta notícia, os valores das bolsas.
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