O Sextas de hoje dá boas-vindas ao novo ano com Octavio Paz. Em "Primeiro de janeiro", o poeta, ensaísta, tradutor e diplomata mexicano, desenha um amanhã de possibilidades em novas páginas a serem escritas.
Octavio Paz ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1990. Durante muitos anos, foi uma das personalidades mais influentes na vida cultural da América Latina. Em 1950, escreveu "O Labirinto da Solidão", uma investigação histórico-antropológica sobre seu país, que se tornou uma obra clássica e de referência. Ele nasceu em 1914 e faleceu em 1998.
Feliz 2025!
#ParaTodosVerem Foto de uma baía com diversos barcos espalhados, ao fundo no lado direito da foto há uma ponte, no centro da foto o Sol está se pondo, o céu está em tons amarelo e laranja.
No canto esquerdo da foto o poema "Primeiro de janeiro” de Octavio Paz:
As portas do ano
se abrem…
alguns sinais terão
que ser rastreados,
desenhe uma
paisagem, crie
um enredo
na página dupla
do papel e do dia.
Amanhã teremos
que inventar,
de novo,
a realidade deste
mundo.
O último Sextas de Poesia do ano apresenta o poema "Paisagens", do escritor mineiro Marcílio Godoi. Ele traz um convite e também o desejo de um 2025 recheado de sonhos, paisagens, novas memórias e novas trilhas...
"Quando vier me visitar
pra que eu não deixe de sonhar
traz-me uma garrafa de vento..."
Feliz 2025!
Marcílio Godói é doutorando em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em Crítica Literária pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP). Ele venceu o Grande Prêmio Cásper Líbero, em 2004, com 'São Paulo, Cidade Invisível' (Letras e Expressões) e o Prêmio Barco a Vapor, em 2012, com 'A Inacreditável história do diminuto senhor minúsculo' (SM Edições). Também arquiteto e jornalista, Marcílio trabalha como editor de publicações customizadas na Memo Editorial, em São Paulo. Publicou o livro de poemas Estados Úmidos da Matéria (Patuá), em 2015 e o de contos Frágil recompensa (Sagüi), em 2016. Mais recentemente, publicou com a ilustradora Isadora Godoi o Livro de Bichos. Etelvina é seu primeiro romance.
"A gente descobre que o tamanho das coisas há de ser medido pela intimidade que temos com as coisas. Há de ser como acontece com o amor." O Sextas de Poesia traz o poeta Manoel de Barros, com sua memória e a nostalgia do quintal, lugar que nos faz voltar à infância e abrir as asas ao mundo.
No trecho escolhido de Memórias inventadas: a infância, ele escreve: ''Meu quintal é maior do que o mundo", e o poeta de Cuiabá, olha as pedrinhas do quintal diante do Pantanal, e segue a "apanhar desperdícios'' e ''caçar achadouros de infância".
Desejamos a todos um Natal com esse gosto de infância, um sonho de quintal maior que o mundo.
Feliz Natal!
#ParaTodosVerem Foto de cinco crianças sentadas em um uma ponte de madeira, o foco está nas pernas e pés, os três que estão mais próximos da câmera usam calça jeans, o fundo está desfocado em tons esverdeados. Na parte inferior da foto, o poema de Manoel de Barros:
Acho que o quintal onde a
gente brincou é maior do que a cidade.
A gente só descobre isso depois de grande...
Com um trecho do livro "A hora da estrela", o Sextas de Poesia homenageia a grande escritora Clarice Lispector, que faria 104 anos no último dia 10 de dezembro.
A escritora brasileira marcou a literatura do século XX com seu estilo intimista e complexo, linguagem poética e perturbadora. Clarice Lispector (1920-1977) é um marco em nosso Modernismo e suas obras continuam entre as mais lidas no país.
A autora, vale lembrar, figura como uma das primeiras autoras a ganhar notoriedade nacional, ao lado de grandes nomes, como Rachel de Queiroz e Cecília Meireles, tendo, portanto, também um papel fundamental para desconstruir preconceitos e ampliar o horizonte para tantas outras mulheres na literatura.
#ParaTodosVerem Banner com um fundo amarelado e o trecho do livro "A hora da estrela" em letra cursiva, também há o rosto da escritora Clarice Lispector, uma mulher branca maquiada com cabelos escuros, seus olhos estão fechados e há um delineado em suas pálpebras, assim como um batom escuro na boca. No centro do banner, o trecho do livro "A hora da estrela":
"É melhor eu não falar em
felicidade ou infelicidade-
provoca aquela saudade
desmaiada e lilás, aquele perfume
de violeta, as águas geladas da
maré mansa em espumas de
areia. Eu não quero provocar
porque dói."
O Sextas de Poesia desta semana traz Michaela Schmaedel com 'Aproximação'. Poeta brasileira, que nasceu e mora em São Paulo, ela é também editora de cultura. Participou do Curso Livre de Preparação de Escritores (Clipe), na Casa das Rosas, além de oficinas de escrita com diversos poetas brasileiros. É autora do livro Coração Cansado (Penalux, 2020), Quênia – poemas de viagem (Cas’a edições, 2021) e Paisagens inclinadas (editora 7letras, 2022). Ela integra a antologia 'As mulheres poetas na literatura brasileira' (Arribaçã, 2021), na coleção de plaquetes Petits furts, de Josep Domènech Ponsatí, e ainda na antologia lusófona 'A boca no ouvido de alguém' (Através das letras, 2023). Michaela escreve resenhas sobre literatura para jornais e revistas e é editora do podcast Poesia pros Ouvidos.
#ParaTodosVerem Foto de uma montanha, no pico da montanha há camadas de neve, ao fundo, o céu azul com poucas nuvens. No centro da foto, o poema 'Aproximação', de Michaela Schmaedel:
Da visão do monte
reparo nisto:
a pouca
neve do topo
a falta de árvores
você na penumbra.
A beleza pode
ser isto:
a visão daquilo
que não se tem.
O Sextas de Poesia traz o poeta François Rossel, que nasceu em 1955 em Lausanne, na Suíça. Dirigiu as Éditions Empreintes, sua obra poética valeu-lhe o Prêmio Pierre Boulanger em 1984 e, em 1989, o Prêmio Jovens Criadores da Fundação Vaudoise para a Cultura. Faleceu em novembro de 2015.
O poema escolhido foi "Uma gota de água", que faz acreditar que um sonhador pode ter em suas mãos a imensidão do mar.
#ParaTodosVerem foto de um mar com o pôr do sol ao fundo e o céu em cores azul e amarela, e o poema "Uma gota de água".
"Uma gota de água
é suficiente para que o sonhador
-que a tem na sua mão-
acredite que possui
todo o mar.
Ela é suficiente,
ele afoga-se."
François Rossel
Hoje, a história sabe, ou admite, que as origens do Brasil são indígenas, e, apesar da invasão dos portugueses estar nos registros oficiais como "descoberta do país", nosso chão foi forjado por eles e, depois da colonização, em 1500, também pelo sangue dos negros, que foram trazidos como escravos ao Brasil. Após 524 anos da "descoberta do Brasil", o racismo, o preconceito e a discriminação racial em suas diversas formas e instâncias ainda são desafios no país que, segundo o Censo 2022 do IBGE, têm 45% de sua população parda.
O Sextas desta semana faz alusão ao Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, com um trecho do samba-enredo “História para Ninar Gente Grande”. A música, que levou a Estação Primeira de Mangueira ao título de 2019, apresenta uma grande reinterpretação da história oficial brasileira apresentada nos livros e valoriza lideranças populares negligenciadas e questiona heróis oficiais.
Com versos que o livro apagou
Desde 1500
Tem mais invasão do que descobrimento
Tem sangue retinto pisado
Atrás do herói emoldurado
Mulheres, tamoios, mulatos
Eu quero um país que não está no retrato
Brasil, o teu nome é Dandara
E a tua cara é de cariri
Não veio do céu
Nem das mãos de Isabel
A liberdade é um dragão no mar de Aracati
Salve os caboclos de julho
Quem foi de aço nos anos de chumbo
Brasil, chegou a vez
De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês
Este samba foi usado como texto de apoio na redação da maior prova educacional do Brasil, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), cujo tema de 2024 foi "Desafios para a valorização da herança africana no Brasil", articulando, assim, a história, a ancestralidade e a educação, promovendo o debate de temas relevantes entre os personagens mais capazes de mudar os rumos da história de nosso país, o jovens.
O samba-enredo “História para Ninar Gente Grande” é de autoria de Luiz Carlos Máximo, Silvio Moreira Filho, Danilo De Oliveira Firmino, Deivid Domenico Ferreira Lima, Manuela Trindade Oiticica, Marcio Antonio Salviano, Ronie De Oliveira Machado e Tomaz Disitzer Carvalho De Miranda.
Vale ressaltar ainda que em 2024 o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra tornou-se feriado nacional. Em sessão especial do Senado para comemorar a conquista, em 19/11/2024, o senador Paulo Paim, que foi relator do projeto de lei, afirmou que foi alta a expectativa pela nacionalização do feriado, por meio da Lei 14.759, de 2023. Ele lembrou que a data remete ao dia da morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, importante comunidade de resistência de escravizados durante o Brasil Colonial. Na ocasião da sessão, Paim apontou que seu desejo é que o feriado do dia 20 sirva para a sociedade refletir sobre como pode melhorar a vida de todos os brasileiros, especialmente dos mais vulneráveis. Segundo ele, garantir o exercício pleno da cidadania também é combater o racismo e a exclusão, reduzindo as desigualdades. Ele defendeu a manutenção de políticas inclusivas de educação, a exemplo da instituição das cotas nas universidades públicas e no serviço público, Previdência Social justa, emprego digno, salário decente, bem como a presença da história e do estudo da cultura afro-brasileira e indígena nas escolas brasileiras.
A vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, homenageada com o samba da Mangueira de 2018, sofreu um atentado, junto com seu motorista Anderson Gomes, em 2018. O caso de homicídio teve sua sentença definida também em 2024, quando, em 31 de outubro, seus assassinos confessos foram condenados a mais de 70 anos de prisão. O crime político que chocou o país e teve grande repercussão internacional, tentou calar a socióloga e mestre em Administração Pública, Marielle Franco, que atuava como presidente da Comissão da Mulher na Câmara. Ela iniciou sua militância em direitos humanos após ingressar no pré-vestibular comunitário e perder uma amiga, vítima de bala perdida, num tiroteio entre policiais e traficantes no Complexo da Maré, onde nasceu e cresceu. A vereadora se apresentava como "mulher, negra, mãe e cria da favela da Maré".
#ParaTodosVerem Montagem com várias fotos de pessoas negras, à frente delas há um contorno do Brasil em branco, com o trecho do samba-enredo “História para Ninar Gente Grande”:
Com versos que o livro apagou
Desde 1500
Tem mais invasão do que descobrimento
Tem sangue retinto pisado
Atrás do herói emoldurado
Mulheres, tamoios, mulatos
Eu quero um país que não está no retrato
Brasil, o teu nome é Dandara
E a tua cara é de cariri
Não veio do céu
Nem das mãos de Isabel
A liberdade é um dragão no mar de Aracati
Salve os caboclos de julho
Quem foi de aço nos anos de chumbo
Brasil, chegou a vez
De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês
Foi em 13 de novembro de 2014, na cidade de Campo Grande (MS), que o poeta das desimportâncias partiu. O Sextas de poesia faz sua homenagem a Manoel de Barros, aquele que fala das desimportâncias ou do nada. Muitos dizem que com sua poesia, ele tenta “descoisificar a realidade”. Manoel de Barros tem na palavra o sentido da existência. O trecho escolhido para esta semana é parte do poema 'O apanhador de desperdícios': "Meu quintal é maior do que o mundo...só uso a palavra para compor meus silêncios".
Nesta semana, o Sextas de Poesia homenageia Cecília Meireles. Em 9 de novembro de 2024, completam-se 60 anos de sua morte.
O poema escolhido, Interludio, fala sobre seus temas recorrentes: a efemeridade do tempo e a transitoriedade da vida, e sua poesia atemporal. Cecília Meireles foi escritora, jornalista, professora e pintora, considerada uma das mais importantes poetas do Brasil. Sua obra de caráter intimista, destacou-se na segunda fase do Modernismo no Brasil, no grupo de poetas que consolidaram a "Poesia de 30". Ela ganhou vários prêmios, entre eles o Machado de Assis e o Jabuti.
#ParaTodosVerem Banner com fundo em tom marrom e símbolos de notas musicais no canto esquerdo do banner, as notas estão na cor preta. No canto direito do banner, o poema de Cecília Meireles:
Interlúdio
As palavras estão muito ditas
e o mundo muito pensado.
Fico ao teu lado.
Não me digas que há futuro
nem passado.
Deixa o presente -- claro muro
sem coisas escritas.
Deixa o presente. Não fales,
Não me expliques o presente,
pois é tudo demasiado.
Em águas de eternamente,
o cometa dos meus males
afunda, desarvorado.
Fico ao teu lado.
Nesta semana, o Sextas traz o poeta argentino Roberto Juarroz, que foi ensaísta e crítico. "Poesia vertical” é a sua principal obra, dividida em quatorze volumes, publicados de 1958 a 1997.
A palavra é o que há de mais próprio do homem. Juarroz encontrava na escrita a salvação "o vazio e a vida. E é ali, somente ali, onde descobrimos a salvação pelo vazio". Ele nasceu na Argentina em 9 de março de 1925 e faleceu em 31 de março de 1995.