Apresentação

É chegada a boa hora! Cem anos do nascimento e do legado Paulo Freire. E para celebrarmos o centenário de uma pedagogia genuinamente brasileira, denominamos o conjunto de atividades comemorativas na Fiocruz com o nome da estação do seu nascimento, qual seja: “Primavera Paulo Freire”. No que tange a Programação, tomamos por base a sua própria teoria e integramos educação, arte e ciência. Isso porque, na perspectiva freiriana, o sentido e a possibilidade da educação consiste, precisamente, na multiplicidade de discussões que se abrem a respeito das articulações entre conhecimento, cultura, conhecimento e história. A educação deve ser um ato coletivo, solidário e dialógico.  

E de fato, Paulo Freire propôs uma concepção de educação na qual o método dialógico é essencial, “uma educação para a decisão, para a responsabilidade social e política” (1986, p. 12). Nessa vertente, “educar” é uma tarefa de trocas entre pessoas e não pode ser resultado do despejo de quem supõe que possui todo o saber, sobre aquele que, do outro lado, foi obrigado a pensar que não possui nenhum conhecimento. A ideia de dialogicidade distingue-se, na pedagogia de Freire, como reflexão compartilhada a partir da experiência da cotidianidade. 

No tocante ao momento histórico, político e sanitário no mundo, vive-se, como nas palavras de Freire, a ‘dramaticidade da hora atual’ com o acirramento do totalitarismo ao redor do mundo e a emergência da pandemia do novo coronavírus (SARS-Cov-2). No entanto, para Freire (2001), a história é tempo de possibilidade e não de determinismo; por isso, o educador deve sonhar, decidir e romper com a falsa ideia de que nada podemos contra a realidade, pois ela seria imutável e natural. Nesse sentido, é urgente retomar a relação, não superada, entre educação e desigualdade, visto que ocorreram, no decorrer da história, mudanças de qualidade das desigualdades e opressão que perduram na atualidade, não apenas por seu aumento, mas pelo refinamento dos tradicionais processos que as determinam.   
Lembremos, por fim, que no ano de 2012, Freire foi declarado, por decreto federal, “Patrono da educação Brasileira” (BRASIL, 2012) e como tal será aqui celebrado nas experiências, por nós, multiplicadas na saúde coletiva, nas muitas primaveras passadas, no presente e ainda aquelas que virão.