Organização

Organização Curricular
Estratégias pedagógicas


O Curso contempla uma carga horária total de 128 horas, com 64 horas em sala de aula e 60 horas em trabalho de campo. As aulas presenciais serão dividias em 4 módulos de 16 horas/aula cada, em dois dias consecutivos por mês, no horário de 8h ao 17h, durante 04 meses.

Cada educando terá uma pasta denominada “Diário de Campo”, na qual serão organizados todos os trabalhos produzidos individualmente e coletivamente, tanto nas salas de aula como na etapa do trabalho de campo.

Nas 64 horas em sala de aula durante duas semanas serão produzidos mapas falantes, fluxograma dos caminhos das águas, matriz DAFO, sistematização de narrativas, inventário de tecnologias sociais e de agroecologias dentre outros. O módulo 4 permitirá uma revisão e produção de síntese de conteúdos abordados nos módulos 1 a 3 Nas 60 horas de trabalho de campo, serão realizados por meio de mapeamento das tecnologias sociais nas comunidades abrangidas, entrevistas com membros da comunidade; produção de cartografias sociais e elaboração de planos com supervisão e apoio da equipe de tutores aplicação dos questionários, registro fotográfico.

O trabalho de campo também prevê um momento de sistematização e apresentação das atividades ao final de cada módulo, havendo um processo de avaliação final ao término do curso com uma mística. O trabalho de campo dos educandos terá a supervisão da equipe de pesquisadores do projeto de pesquisa-ação.

Essa metodologia engloba o processo de territorialização em saúde que possibilita o reconhecimento e identificação dos riscos, vulnerabilidades e potencialidades relacionados à saúde ambiental dos territórios[1].

A territorialização em saúde pressupõe análise de contextos, o que impõe desenvolvimento de estratégias de investrigação e elaboração de instrumentos de coletas de dados para a realização de diagnósticos, de planejamento, de intervenções sanitárias e consistem em coleta e análise sistemátca de dados e produção de informações (social, econômica, política, cultural, epidemiolóigca, sanitária e do sistema de saúde, bem como a localização e distribuição de riscos, vulnerabilidades e potencialidades de territórios[2].
  
A territorialização em saúde é simultaneamente um método pedagógico, de pesquisa e de trabalho da vigilância em saúde, que engloba as etapas de diagnóstico e mapeamento das condições de vida e situação de saúde, bem como um prognóstico, por meio da elaboração de um plano de intervenção a ser exercitado pelo curso. Para isso a pedagogia da alternância, compreendendo tempos-aula e tempos-comunidade permite as abordagens teóricas dos conteúdos e o exercício prático nos territórios contemplados pelo projeto, lugar de moradia dos educandos na perspectiva da educação popular em saúde territorializada[3].    

Nesse processo, o uso das ferramentas diagnósticas e analíticas é capaz de mobilizar conhecimentos, práticas e os diversos atores para executar ações e procedimentos técnicos, complementares e compartilhados, no sentido da proteção, prevenção e controle de doenças, de agravos e riscos relacionados à vigilância da qualidade das águas.

Os módulos estão estruturados em eixo temáticos os quais dialogam com as diversas dimensões (multidimensionalidade) e escalas distintas (multiescalaridade) dos caminhos das águas para as diversas necessidades das populações do campo, das florestas e das águas, no contexto do direito humano ao acesso à água e a segurança hídrica e alimentar no Semiárido Brasileiro. Trata-se de um referencial teórico, pedagógico e político em construção por organizações vinculadas a Articulação do Semiárido, associado ao acesso e usos múltiplos da água e à segurança hídrica e alimentar no Semiárido brasileiro. Relaciona-se as cinco linhas de abastecimento de água[4] e ao processo de mobilização social articulado as “linhas de luta pela água”[5] como estratégias de Convivência com o Semiárido. De acordo com este referencial são cinco essas águas:

água para família ou domiciliar (água para consumo humano, higiene pessoal e preparo de alimentos): associada a tecnologias sociais das cisternas de placas de águas de chuva domiciliares, acompanhadas de dispositivos de separação das primeiras águas de chuva e de filtros cerâmicos de vela.

água da comunidade (água para demais usos familiares, tais como tomar banho, lavar roupas, lavar louças, limpeza das casas, vaso sanitário etc.). Em geral são reservatórios naturais ou artificiais de uso coletivo de água, tais como açudes, cisternas coletivas, barragens etc. e envolve a mobilização da comunidade na construção e gestão dessas tecnologias.

água para a produção de alimentos e dessedentação animal. Trata-se da água em quantidade suficiente para a produção agrícola e criação de pequenos animais. Associa-se a tecnologias sociais das cisternas de calçadão, barragem subterrânea e barreiro de salvação. Compreende estratégias de conservação como o manejo sustentável da irrigação e microirrigação, visando diminuir o desperdício e a preservação qualiquantitativa das coleções hídricas, considerando a capacidade de recarga, bem como as funções ecológicas das coleções hídricas superficiais e subterrâneas. Inclui estratégias de plantação nas margens dos açudes e próximos as fontes de água sem utilização de agrotóxicos e fertilizantes sintéticos.

água para emergência; associado a ações a ações preventivas e discussões prévias na comunidade sobre a melhor solução em situação de emergência, envolve elaboração de planos e devendo estar associados aos planos de segurança da água. Considera-se aqui o uso de mananciais alternativos e de sistemas de fornecimento de água em decorrência de situação de desastre, que se configura com o prolongamento das estiagens que alcancem níveis de severidade que possam gerar, para além da seca climatológia, a seca hidrológica e a seca agrícola que comprometa as condições de subsistência das populações do Semiárido e seus limites de resiliência gerando impactos à saúde. Os carros-pipas só devem ser utilizados como última alternativa e devem ser submetidos a medidas de proteção de manancial, controle e vigilância em saúde, considerando todo o seu percurso da captação à alimentação.

água para o meio ambiente. Associado a conservação e manejo integrado da terra e da água. Abrange a a água necessária para conservação e recuperação dos ecossistemas, incluindo os habitantes que moram nos territórios, as funções ecológicas que permita a preservação do ciclo hidrológico, a proteção e recarga das águas superficiais e subterrâneos. Inclui estratégias de reuso, tratamento e reciclagem. Traz a perspectiva de uma visão integrada do manejo de água da chuva.

Requisitos de acesso ao curso:
Indivíduos alfabetizados, e que tenham pelo menos 16 anos até a data da matrícula. O curso destina-se prioritariamente a:
- Agentes Comunitários de Saúde e Agentes de Vigilância em Saúde;
- Agentes de Controle de Endemias;
- Educadores da rede pública de ensino;
- Agricultores familiares;
- Lideranças locais;
- Agentes sociais, técnicos de organizações não governamentais, de associações de trabalhadores rurais, integrantes da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA)
-Integrantes da rede territorial do Piauí do Projeto Territórios Saudáveis e Sustentáveis do Semiárido.

Vagas
Duas turmas, com 50 vagas cada. Uma turma a ser realizada na Comunidade de Fornos, município de Picos e a outra, na Comunidade de Brejo de Fortaleza, município de Ipiranga no Piauí, ambos localizados no semiárido piauiense.      

Seleção
A seleção terá como base os critérios já descritos no público alvo.  Caso o número de interessados, aptos ultrapasse o número de vagas, será realizada uma seleção a partir da avaliação de informações contidas nos currículos dos candidatos e de carta de apresentação.

Componentes Curriculares:
Eixo 1: Território, Trabalho e Tecnologia – Águas do Meio Ambiente
Aula 1
 (carga horária – 8h)
Apresentação do curso, Território, lugar, história Convivência com o Semiárido
Análise multiescalar e multidimensional das águas, água do ambiente
Tecnologia e Tecnologias sociais
Trabalho e determinação social da saúde
Aula 2: (carga horária – 8h)
Vigilância em saúde
Vigilância popular em saúde
Territorialização em saúde – Questionário do Sertão
Construir o Mapa Falante

Eixo 2: Saúde e Saneamento Rural – Água Domiciliar, Comunitária e de Emergência
Aula 3: 
(carga horária – 8h)
Saneamento básico e ambiental
O caminho das águas no território
Vigilância da água
Plano de Segurança da Água Vigilância da água
Unidade Móvel de Controle de Qualidade de Água
Aula 3: (carga horária – 8h)
Educação contextualizada dialogando com educação popular em saúde ambiental
Manejo dos resíduos e reuso de água
Fluxograma: Caminho das águas e fatores de risco
Matriz DAFO das tecnologias sociais das águas
 
Eixo 3: Agroecologia e Soberania Alimentar – Água da Produção Animal e Vegetal
Aula 5
 (carga horária – 8h)
Agroecologia
Soberania, segurança alimentar e nutricional
Sementes da fartura
Insegurança alimentar e seus determinantes. Processo saúde-doença-cuidado
Vigilância na produção e alimentação
Cuidado em saúde dos sujeitos e do território. Promoção da saúde e Soberania alimentar
Aula 6 (carga horária – 8h)
Doenças e sua relação com a água e ambiente
Monitoramento popular multiescalar das águas
Território educador. Tecnologias sociais de educação popular em saúde
Revisão dos instrumentos de pesquisa-ação

Eixo 4: A Vigilância dos Territórios Saudáveis e Sustentáveis no Semiárido
Aula 7
 (carga horária – 8h)
Organização social – centralidade do TSSS
Estado, políticas públicas, participação social
Construindo a vigilância popular de base territorial
Informação como instrumento de poder local, Comunicação social
Aula 8 (carga horária – 8h)
Economia Solidária
Formas de intervenção – Plano de ações no território
Validação do questionário e dos instrumentos de pesquisa ação

Sistema de Avaliação
A avaliação dos alunos é contínua, realizada durante todo o processo de ensino/aprendizagem, compreendendo as dimensões da aprendizagem individual e participação coletiva.  Os recursos para avaliar podem ser os mais diversos compreendendo a participação e trabalhos em sala de aula e as atividades de campo, consignados nos diários de campo. Será exigida a frequência mínima de 75% dos encontros.
A avaliação final resultará de uma nota que deve expressar o grau de aproveitamento obtido pelo aluno:
 - 8,0 a 10 – Grau de aproveitamento pleno
 - 6,0 a 7,9 – Grau de aproveitamento satisfatório
 - 0 a 5,9 – Grau de aproveitamento insatisfatório
Para efeito de certificação, serão considerados aprovados os alunos que cumprirem os seguintes requisitos:
- Comparecimento com um mínimo de 75% de frequência;
- Desenvolvimento de todas as atividades escolares solicitadas com grau de aproveitamento ≥ 6,0.

[1] Gondim, G M. M.; Monken, M.; Iñiguez Rojas, L.; Barcellos, C.; Peiter, P.; Navarro, M. B. M A.; Gracie, R. O território da saúde: a organização do sistema de saúde e a territorialização. In: Miranda, A. C.; Barcellos, C.; Moreira, J. C.; Monken, M. Território, ambiente e saúde. Rio de Janeiro, Editora Fiocruz, 2008. p.237-255. 
[2] Gondim, G M. M. (Org.). Técnico de Vigilância em Saúde – Contexto e Identidade. Vol 1. 2017.  
[3] Búrigo, A.C. Metodologias. vol.3. Búrigo, A.C.; Castro,G.; Braga, L.Q.V.; Barcelos, E.A.S. (Org.) In. Curso Técnico em Meio Ambiente – Tramas e Tessituras, 2017.  
[4] Gnadlinger, J.; Rocha, A. A.; Menezes, A. S.; e, Nascimento, D.S.  As Cinco Linhas de Águas Vivenciadas na Comunidade de Cachoeirinha. X Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva Belém – PA, 2016.
[5] IRRPA. A Busca da Água no Sertão. Cartilha. Convivendo com o Semiárido. 5 edição, 2011.