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Publicado em 09/11/2018
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Fortalecer o SUS pela comunicação em saúde: tema foi debatido em seminário da Escola Politécnica

"A comunicação pública deve se basear fundamentalmente no interesse público, dos mais excluídos e oprimidos e, inclusive, daqueles que não costumam ter voz. Estamos aqui em defesa da democracia". Neste tom, foi aberta a mesa Comunicação pública e saúde, no dia 30/10, durante o seminário internacional da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) para comemorar os 30 anos do SUS. A fala foi extraída do texto de apresentação do hotsite comemorativo de dez anos da Revista Poli – Saúde, Educação e Trabalho, lançado na ocasião. 

Logo em seguida, Rodrigo Murtinho, diretor do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fiocruz (Icict/Fiocruz), deu início ao debate. Ele lembrou que a comunicação perpassa os 30 anos de construção e desconstrução do Sistema Único de Saúde (SUS). "Ao longo deste período, houve uma consolidação e maior empoderamento da comunicação privada, mas também assistimos ao surgimento de várias mídias de comunicação alternativa. O atual cenário nos coloca desafios, porém aqui estamos", disse. Ele comentou que é necessário levar informações de qualidade sobre o SUS à sociedade.

Neste sentido, os veículos da grande imprensa costumam associar o Sistema a filas de hospitais, espera no atendimento, serviços precários de saúde. Há muito mais a ser explorado, é o que acredita Cátia Guimarães, jornalista e editora da Revista Poli – Saúde, Educação e Trabalho: “É claro que devemos abordar as falhas, mas também é preciso mostrar para a população o SUS como o sistema complexo e integral que conhecemos. E quem melhor do que a Fiocruz para fazer isso?", indagou. Segundo ela, é preciso construir e fortalecer pautas positivas. “Não só usar nossos veículos alternativos, mas também apostar nas brechas da grande imprensa. Na batalha das ideias, é preciso criar outras trincheiras que também falem bem do SUS”.

Jornalismo no Brasil: privado e hierarquizado

O Brasil tem uma experiência diferente dos países europeus (que começaram com sistema público de comunicação e foram abrindo gradualmente para o sistema privado) e dos Estados Unidos (que começaram com sistema privado já regulado para impedir concentração e domínio de uma agenda nos meios de comunicação). Aqui no país, quando o sistema de comunicação ganhou força já era privado, sustentado com a ausência de regras de interesse público. Foi com essa contextualização que João Brant, pesquisador e militante do Movimento Democratização da Comunicação, começou sua fala na mesa-redonda através de Skype. “Temos um sistema de comunicação fundamentalmente privado, sem regras para concessão, e que tem a comunicação como uma das poucas áreas na qual a Constituição de 1988 não foi repaginada", disse.

Ele ressaltou que o jornalismo é dependente dos meios privados e hierarquizado. “Os meios de comunicação são essenciais para o funcionamento da economia, são espaços de reprodução da publicidade — que, por sua vez, são elementos fundamentais de circulação do capital. Soma-se a isso uma dimensão do Estado como investidor econômico e uma divisão de classes”, criticou. Porém, segundo João, há importantes exceções: “Quando jornalistas na ponta conseguem produzir bom jornalismo, mesmo sendo contra interesse dos grandes veículos. Mas isso não é a regra. Além disso, a maior parte dos especialistas ouvidos nas matérias se associa a uma agenda da elite brasileira”.

Uma alternativa na comunicação

Na tentativa de compreender as falhas da cobertura jornalística, Antonio Martins, editor do site Outras Palavras e idealizador do site Outra Saúde, destacou o fato de o Brasil ser uma sociedade segregada, que não enxerga determinados direitos como a saúde, educação, habitação como direitos reais. Segundo ele, há matérias excelentes na grande mídia sobre como hospitais privados conquistam vitórias no terreno da saúde, mas ninguém debate que esses hospitais atendem a uma fatia pequena da sociedade. “Aquela minoria que pode pagar faz parte de um sistema que é diferente dos planos de saúde e que é diferente do SUS. E o SUS, assim como a educação pública, é tratado numa gaveta, não como se fosse direito de todos os trabalhadores, mas como o que resta para os pobres. Essa fragmentação impede que a gente veja a saúde de forma mais ampla. Não se debate na cobertura, por exemplo, como as pessoas que não têm recursos e não podem se curar de certos tipos de câncer que são perfeitamente curáveis para outras pessoas”, afirmou.

Para Antônio, a solução não é fazer somente pautas positivas, mas enxergar a saúde pública como a saúde que deveria preocupar todos os brasileiros: “Inclusive para apontar os problemas do SUS e discutir em profundidade alguns temas que às vezes temos receio de discutir porque ferem setores que fazem parte da construção do SUS. Por exemplo, a ausência frequente dos médicos nos horários em que eles deveriam prestar serviços”.

 

Por Valentina Leite (Campus Virtual Fiocruz), com informações de Julia Neves (EPSJV/Fiocruz)