Pesquisadora da Fiocruz lança livro sobre preceptoria em programas de residência

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Publicação : 30 DE AGOSTO DE 2017

Autor(es) : Flávia Navarro da Silva Lobato

Pesquisadora da Fiocruz lança livro sobre preceptoria em programas de residência As coordenações de programas de preceptoria são muito importantes e precisamos de mecanismos de formação para esse contingente. Também é necessário ampliar o debate sobre as lacunas na legislação brasileira no que se refere à regulação e ordenação da formação especializada.

Por Graça Portela (Icict/Fiocruz)

O livro Preceptoria em programas de residência: ensino, pesquisa e gestão aborda o papel dos profissionais que atuam como preceptores em programas de residências em saúde e na área profissional. A publicação apresenta experiências e percepções de preceptores de residência e coordenadores de programas em 15 estados brasileiros e em oito províncias espanholas, oferecendo “uma fotografia atual dos avanços e desafios colocados para a formação de especialistas em saúde”. A obra é uma realização do Icict/Fiocruz, do Ministério da Saúde e do Instituto de Medicina Social (IMS) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o livro tem apoio da Organização Panamericana de Saúde (Opas) e do Centro de Estudos e Pesquisa em Saúde Coletiva (Cepesc). 

Em entrevista ao site do Icict/Fiocruz, a organizadora do livro, Adriana Aguiar, que é doutora em educação pela Universidade de Harvard e atua como pesquisadora do Laboratório de Comunicação e Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), falou sobre a pesquisa e as diferenças e similaridades do trabalho desenvolvido por profissionais brasileiros e da Espanha.

Icict/Fiocruz: O que a levou a se interessar por este tema?

Adriana Aguiar: ​O fortalecimento ​​do SUS [Sistema Único de Saúde] e, portanto, a garantia plena do direito à saúde no Brasil depende de profissionais bem formados. As residências ocupam papel de destaque na qualidade da formação especializada, sendo a supervisão dos residentes exercida por preceptores, sobre os quais ainda temos poucos dados no Brasil. São profissionais muito importantes e trabalham muitas vezes em condições aquém do desejável, sendo necessário aumentar a visibilidade sobre o trabalho que realizam.​

Icict/Fiocruz: Que resultados a senhora destacaria em sua pesquisa?

Adriana Aguiar: ​Os preceptores trabalham muito e são ainda pouco reconhecidos, especialmente no Brasil. As residências multiprofissionais têm avançado na constituição de processo de trabalho em equipe de forma inovadora e criativa. As coordenações de programas são muito importantes e precisamos de mecanismos de formação para esse contingente, além de ampliarmos o debate sobre as lacunas na legislação brasileira no que se refere à regulação e ordenação da formação especializada.  ​

Icict/Fiocruz: A pesquisa contou com uma equipe multidisciplinar de colaboradores/autores. Como foi trabalhar com visões tão diferentes da área de saúde e em países tão diversos como Brasil e Espanha?

​Adriana Aguiar: Na verdade, o sistema nacional de saúde espanhol​ ​tem vários paralelos com o nosso SUS, e, do ponto de vista cultural, também encontramos muitas afinidades. A oferta das residências na Espanha está bem organizada e isso ajudou bastante. Nossa equipe naquele país foi composta de colegas muito experientes, o que facilitou a coleta de dados e sua análise. ​Observei uma convergência de perspectivas entre as lideranças brasileiras que "militam" pela qualidade da residência e os gestores e preceptores na Espanha.

Icict/Fiocruz: Há alguma diferenciação entre os preceptores do Brasil e da Espanha?

Adriana Aguiar: ​Em ambos países a sobrecarga de trabalho é imensa, mas a legislação espanhola é mais robusta e as atribuições, direitos e deveres dos preceptores estão melhor estabelecidas. Em que pese o contexto de crise econômica também afetar a Península Ibérica, no Brasil, a precarização das relações de trabalho vem se exacerbando, o que impacta muito negativamente a formação de profissionais nos serviços. ​

Icict/Fiocruz: Que motivos levam profissionais de saúde a cuidarem da formação de novas gerações, em paralelo com a prestação de serviços em saúde no Brasil?

Adriana Aguiar: ​É comovente o compromisso de milhares de pessoas que atuam como preceptores, tutores e coordenadores, com a formação das novas gerações ​de profissionais. Desde a criação das primeiras residências médicas, em meados do século 20, existe uma tradição de envolvimento de bons profissionais no ensino em serviços. Ocorre que as demandas só aumentam, com novas formas de avaliação, pesquisa em serviços, inovações educacionais, o que demanda propostas institucionais de desenvolvimento profissional para preceptores e coordenadores. ​

Icict/Fiocruz: Considerando-se a situação atual, há futuro para a função de preceptor no Brasil?

Adriana Aguiar: ​Creio que existe uma grande massa crítica, capaz de compreender a importância desse trabalho, mas essas pessoas estão esgotadas. Se persistirem as iniciativas de desregulação da formação e da prática assistencial, o exercício da preceptoria será cada vez menos estimulante. É imprescindível avançar na oferta de vínculos institucionais dignos que permitam aos preceptores se desenvolverem como educadores, além de fortalecerem o trabalho em equipe e em rede.

 

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